Banda e patrimônio sanjoanense
Jéssica Felipe 11/11/2017 11:10 - Atualizado em 17/11/2017 16:06
Cento e vinte cinco anos que marcam a história da pequena São João da Barra. Mais que música, resistência. A Banda União dos Operários é símbolo de luta pelo patrimônio cultural. Uma instituição oriunda de operários egressos da construção naval e homens ligados à pesca artesanal, característica marcada no nome. Consagrada como Patrimônio Cultural Fluminense, o grupo já viveu tempos áureos. Hoje, o desafio, além do financeiro, é de não deixar a tradição morrer, frente às novas gerações e tecnologias. Para Joel Rosa, maestro e administrador da banda há 25 anos, o que fica na lembrança é a saudade de quando as bandas “eram as atrações das festas”. Nesse mês, a antiga Casa Câmara e Cadeia de SJB, inaugurou uma exposição sobre a trajetória da União dos Operários, homenagem que segue com visitação livre, de quarta a domingo, até janeiro de 2018.
Segundo Fernando Antônio Lobato, historiador local, “os anais da história sanjoanense, mostram a presença de músicos em diversas fases. Entre elas, as visitas de Dom Pedro II. Fernando conta, que na primeira passagem do imperador pela até então, vila de operários, não havia bandas para recepcioná-lo. Já na segunda visita do Imperador em 1875, surgiram as rivais: Lira de Ouro e a Lira de Ferro. “A Lira de Ouro transformou-se na Lira dos Democratas de efêmera duração. Já o desaparecimento da Lira de Ferro levou diversos dos seus membros a criarem em 09 de Outubro de 1892 a Banda Musical União dos Operários”, acrescentou o historiador.
Composta principalmente pelos trabalhadores dos estaleiros e das Companhias de Navegação, a banda logo recebeu a adesão da comunidade, ganhando sócios e criando um clube, onde famosas festas se realizaram. “Na década de 1990, todavia, fechou-se o clube social permanecendo apenas a Banda, que completa neste ano, 125 anos de existência”, ressaltou Fernando Antônio.
Retratos na memória de quem é parte
Joel Rosa, 51 anos, músico desde os 14, vem dedicando-se há 25 anos a função de maestro e administrador da União dos Operários. Ele é a segunda pessoa do município a atuar por mais tempo e de forma ininterrupta em uma instituição cultural. Questionado sobre um momento marcante do grupo, Joel não hesitou em lembrar-se dos alegres concursos de bandas e as tradicionais festas da cidade.
— A gente participava e se preparava com muito afinco, inclusive brigas e confusões (risos), mas era muito legal. Viajávamos para diversos lugares participando das etapas dos concursos. Essa foi uma grande época que vivemos. Nossa grande rival musical era a Banda Amédio Venâncio. Banda de músicos é uma atividade que está em decadência no país quase todo e, antigamente, quando eu comecei a tocar, a banda era a atração das festas, porque não existia equipamento de som naquela época. A banda tocava uma música e as pessoas iam chegando pra perto para assistir. Hoje em dia muita gente não gosta de banda, os poucos que gostam não esforçam para prestigiar, então é uma luta muito grande para manter uma banda de músicos funcionando — ,recordou o maestro.
A instituição cultural mais antiga de SJB
“Os operários”, como é conhecida na região, vive, desde o ano passado, um momento de crise que tem ameaçado a sua existência. Sem convênio ou apoio cultural, a banda vive hoje com aluguéis de imóveis. Em 2017, nove funcionários foram demitidos e a escola de música, que atendia gratuitamente a comunidade, parou de funcionar. Joel explica que o recurso foi cortado no governo anterior, e que a atual gestão ainda não retomou, alegando não ter verba para tal atividade.
— Estamos com bastante dificuldade, sobrevivendo com aluguéis de pontos comerciais construídos com verba do próprio grupo. O grande desafio é fazer com que o poder público entenda, principalmente em SJB, que a Banda União dos Operários, com 125 anos de história, é a instituição cultural mais antiga da cidade e deveria ser mais valorizada. Eu desejo, mesmo que não esteja mais nessa função, porque acho que já estou na hora de parar, é que surjam algumas pessoas abnegadas e que a gente possa passar a “batuta”, o comando pra eles e ficar tranquilo, sabendo que a história vai continuar —, finaliza Joel.

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