Home care como direito à saúde
Jane Ribeiro 15/11/2017 15:56 - Atualizado em 17/11/2017 13:47
O serviço de Home Care realizado em Campos pela empresa Edcare Serviços Hospitalares tem sido questionado no município. Muitas foram as denúncias de alguns familiares que, segundo a empresa, não entendem os tramites burocráticos que devem seguir. O home care, também conhecido como internação domiciliar, deve ser entendido como uma continuidade e/ou substituição dos serviços hospitalares para evitar que o paciente fique exposto aos riscos de contrair infecções dentro das unidades. O direito aos serviços de home care atende o próprio direito à saúde, bem como da dignidade da pessoa humana, previstos na Constituição. Mas como em todo serviço, existem os critérios para os direitos do paciente, que nem sempre são entendidos pelos familiares. Desde que a Edcare ganhou a licitação no valor de R$ 5.078.933,52 muitos conflitos foram instalados entre os parentes dos pacientes e a empresa.
Geralmente há prescrição quando o paciente necessita de um ou mais tratamentos, materiais e serviços próprios da rotina hospitalar, mas que podem ser realizados no ambiente domiciliar. Como por exemplo, enfermagem, fisioterapia, fonoterapia, terapia ocupacional, cama hospitalar, aparelhos respiratórios, alimentação por sonda, medicamentos, etc..
A operadora não pode opinar na conduta médica, cabendo ao profissional da medicina definir se será melhor permanecer em ambiente hospitalar ou dar continuidade na residência. Toda empresa de home care tem por propósito prestar um serviço de forma humanizada, proporcionando um vínculo entre equipe, família e empresa, promovendo saúde e qualidade de vida, buscando sempre a participação efetiva dos mesmos.
Com apenas três meses a Edcare atende às demandas chegadas à Secretaria de Saúde de Campos, que comprovam, através de laudos, a necessidade do atendimento domiciliar de alta complexidade e, também, demandas judiciais. Para ser inserido no atendimento domiciliar, o paciente precisa ter dispositivo técnico, que caracterize necessidade de cuidados de técnicos de enfermagem 12h ou 24h. As avaliações são feitas baseadas em dois instrumentos: o Núcleo Nacional das Empresas de Serviços de Atenção Domiciliar (Nead) e a tabela de Avaliação da Associação Brasileira das Empresas de Medicina Domiciliar (Abemid), ferramentas importantes e imprescindíveis para o desenvolvimento dos serviços da internação domiciliar.
Atualmente, 74 pacientes são assistidos pelo serviço de home care no município, gratuitamente. Deste total, 17 são de alta complexidade, com ventilação mecânica e 22 sem ventilação mecânica. Entre os 25 pacientes de média complexidade, 15 não necessitam de 24 horas de atendimento domiciliar e as altas foram enviadas para a secretaria municipal de saúde e Ministério Público. Sete pacientes são considerados de baixa complexidade.
— Iniciamos o atendimento há dois meses e muitos pacientes estavam fazendo uso de medicamentos que, pelo levantamento feito através de exames e avaliação médica, não mais precisam. Eu tenho o prazo de 30 dias para retirar a prescrição antiga e é isso que está sendo feito. Eles dizem que não estamos mandando os medicamentos, mas na verdade estamos enviando aquilo que é necessário para o paciente comprovado por exames clínicos — disse a proprietária da empresa Lara Lúcia Lopes.
Denúncias de falta de medicamento
Alguns parentes dos doentes que necessitam de atenção especial fizeram denúncias ao Ministério Público e registro na Delegacia de Campos por negligência. A denúncia foi feita também pelas redes sociais e na Câmara de Vereadores.
Um dos casos que chamou a atenção foi o de Dona Marlene, de 66 anos, que sofre de insuficiência cardíaca e tem graves sequelas de um Acidente Vascular Cerebral (AVC), provocados por infartos cerebrais. Dona Marlene é mãe de Núbia Cristina Amaral Simião, que fez a denúncia. Segundo ela, periodicamente falta medicamento de uso continuo como a netiformina, fita de glicemia, insulina, suplemento nutricional Glucerna e também tranquilizante e o anticoagulante.
A proprietária da empresa Lara Lúcia Lopes, informou que a dona Marlene não sofre de diabetes e por isso não haveria a necessidade de uso de insulina e nem do medifomina que também é usado por portadores de diabetes.
— Desde que assumimos a responsabilidade do atendimento da dona Marlene fizemos vários exames para saber das necessidades e procedimentos a serem adotados. Uma coisa é a família achar que tem que ser feito, outra coisa são os exames laboratoriais comprovados cientificamente, dizendo a patologia. E foi o que nós fizemos. O quadro atual da dona Marlene é de paciente acamada, debilitada, uso de alimentação por sonda, mas isso não justifica atenção de técnicos 24 horas. Isso é quadro para que a família cuide. A dona Marlene está clinicamente preste a ter alta — informou Lara.
Alternativa para os pacientes acamados
A secretaria de Saúde orienta que casos de pacientes acamados, o atendimento seja realizado através do Programa de Assistência Domiciliar (PAD). O familiar deve levar, até a sede do Programa, na secretaria de Saúde, na rua Voluntários da Pátria, 875, os documentos pessoais do acamado e do próprio familiar, comprovante de residência e laudo médico de atendimento. Após a apresentação dos documentos, será realizada uma primeira avaliação domiciliar através de uma equipe multidisciplinar composta por médico, enfermeiro, nutricionista e assistente social para análise dos melhores procedimentos a serem realizados no tratamento do paciente.
Mas onde há críticas, há também satisfação com o serviço prestado. Esse é o caso do paciente Marlon, de apenas sete anos. Ele é portador de microcefalia e faz uso de ventilação mecânica. Segundo a mãe dele, Lívia Cristina Leandro da Silva, o atendimento dado ao filho é o melhor dos últimos cinco anos.
— Não tenho do que reclamar. Pelo contrário, tudo que eu peço eles me atendem, dentro dos critérios do que o Marlon precisa. Ele está com problemas nos ossos e sofreu uma fratura, a empresa pagou uma consulta particular numa clínica especializada, isso para mim não tem preço. Além disso, não falta nenhum medicamento. O atendimento é excelente —, informou.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS