Aldir Sales
21/10/2017 19:48 - Atualizado em 26/10/2017 19:14
Classificada antes do vazamento como “bombástica” pelo ex-governador Anthony Garotinho, a delação premiada do doleiro e homem-forte do ex-deputado e seu ex-aliado Eduardo Cunha, Lúcio Funaro revela um suposto esquema para desviar parte do fundo de pensão da Cedae (Prece), operado por Cunha, para Garotinho e Rosinha no período em que ela foi governadora, entre 2003 e 2006. O caso da Prece trouxe à tona um histórico administrativamente contestável do ex-secretário de Governo de Campos com o dinheiro dos servidores ao longo de sua trajetória política. Além da Prece, também existe o rombo milionário apontado por auditoria interna nas contas do Instituto de Previdência dos Servidores do Município de Campos (PreviCampos) também durante a gestão Rosinha e outras perguntas sem respostas sobre a Caixa de Assistência e Previdência de Campos (Caprev) no primeiro governo de Garotinho em Campos.
Logo no início do ano, o prefeito Rafael Diniz (PPS) determinou auditoria interna nas contas do município e um dos resultados mais preocupantes, segundo o secretário municipal de Transparência e Controle, Felipe Quintanilha, foi encontrado justamente no PreviCampos. Segundo a análise, a carteira de investimentos da previdência municipal apresentou uma redução de R$ 383.432.979,49 (32,28%) do valor total em dezembro de 2016, em comparação a 2015.
— O cenário é muito complicado. Infelizmente, a gestão passada deixou a PreviCampos exposta. Aplicaram recursos onde era proibido por lei. Não dá para afirmar que a PreviCampos vai sustentar todos os aposentados e pensionistas pelos próximos 70 anos — afirmou o secretário.
A auditoria do PreviCampos fez parte de um conjunto de oito exames em pontos estratégicos das finanças municipais, como Cartão Cidadão, Cheque Cidadão e Morar Feliz, que foram encaminhados à Câmara de Vereadores e ao Tribunal de Contas do Estado (TCE). Os relatórios foram anexados no TCE à análise das contas municipais no exercício de 2016, que atualmente se encontra no Ministério Público Especial, que vai emitir um parecer antes da análise técnica da Corte.
O presidente da Câmara, Marcão Gomes (Rede), revelou, em entrevista à Folha no 21 de maio, que pediu uma auditoria externa do Ministério da Previdência Social em outubro do ano passado e que o procedimento já estaria em andamento. Em nota, o órgão federal informou que o exame ainda não foi concluído e que uma outra auditoria está em fase de autorização. Quintanilha, no entanto, adiantou que a análise do Ministério da Previdência revela indícios de crimes.
Em nota, Garotinho disse que nem ele e nem Rosinha sabiam dos supostos desvios na Cedae e que a delação de Funaro foi “seletiva”.
Marcão: “fenômeno para práticas ilícitas”
“Boa parte das práticas ilícitas feitas por Cunha se deve ao fato de Garotinho der sido seu professor. Fundo de pensão é a especialidade de Garotinho. Fez isso no Estado e também em Campos na Caprev e no PreviCampos. Ele consegue estar envolvido em vários crimes de várias espécies ao mesmo tempo. Esse rapaz é um fenômeno para práticas ilícitas”. As fortes palavras são de Marcão Gomes, que lembrou de outra polêmica envolvendo o ex-governador e o dinheiro dos servidores: o Caprev.
Uma matéria publicada pela revista “Época” em 2010 informa que, em seu primeiro mandato na Prefeitura de Campos, Anthony Garotinho criou a Caprev, Caixa de Assistência e Previdência de Campos. Para presidi-la, nomeou o amigo Jonas Lopes de Carvalho, que mais tarde indicaria ao Tribunal de Contas do Estado. Jonas confessou diversos crimes de corrupção no período que esteve na Corte, entre 2000 e 2016, e foi pivô de uma delação premiada que chegou a levar para a prisão cinco dos sete conselheiros do TCE. Cada servidor sofria descontos de 8% a 11% por mês, dependendo da faixa salarial, para capitalizar o fundo. No fim do governo, os adversários descobriram que o caixa da Caprev estava vazio. O ex-vereador Antônio Carlos Rangel lembrou que, na ocasião, apresentou ao plenário da Câmara de Campos um requerimento de informações sobre a Caprev. “Meu pedido foi rejeitado porque Garotinho tinha maioria”, relatou.
Bomba estoura nas mãos de ex-governador
“Uma das maiores bombas atômicas já disparadas sobre a República”. Assim Anthony Garotinho classificou a delação premiada do doleiro Lúcio Funaro em um vídeo postado em suas redes sociais no dia 8 de setembro. No entanto, no final da última semana, o próprio Garotinho foi vítima da artilharia de Funaro, quando foram divulgados trechos da delação onde o doleiro afirma que parte do fundo de pensão da Cedae, operado por Eduardo Cunha, iria para Garotinho e para a esposa Rosinha.
— O Garotinho, naquela época, almejava ser presidente do Brasil, então ele tinha uma estrutura política muito cara pra ser sustentada. Ele tinha uma bancada de deputados própria dele. Ele tinha uma série de rádios alugadas no Brasil inteiro, um custo alto de alguém de aeronave mensal. E quem fazia frente pra pagar todas essas despesas era o deputado Eduardo Cunha — afirmou Funaro.