Jane Ribeiro
14/10/2017 16:14 - Atualizado em 17/10/2017 15:26
Os médicos de Campos podem deflagrar uma greve na próxima terça-feira (17). A informação é do Sindicato dos Médicos de Campos (Simec), que tem assembléia marcada para essa data. O problema relacionado à saúde é pertinente e tem se agravado a cada dia. A categoria alega não aguentar mais as péssimas condições de trabalho e a grande deficiência de insumos e medicamentos, bem como a falta de estrutura das unidades de saúde. Várias reuniões foram realizadas entre o município e representantes do sindicato e do Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj), mas até agora nenhuma solução foi apresentada e o caos toma conta dos postos de saúde e dos hospitais credenciados, que não encontram estrutura para atender a população.
O presidente do Simec, José Roberto Crespo, disse que até entende as dificuldades do governo municipal em gerenciar a saúde do município, pela falta de recursos. Mas ele não consegue entender o porquê de não haver atitude. “Estamos lidando com vidas e vida é prioridade. A categoria não consegue mais trabalhar com tantos problemas encontrados dentro das unidades hospitalares. Não dá para entender porque não há atitudes gerencial para solucionar os problemas que são pertinentes. A categoria está cansada de chegar para trabalhar e não encontrar estrutura básica. Há mais de um mês os médicos haviam se reunido com o prefeito Rafael Diniz e a secretária de Saúde, Fabiana Catalani, para expor a situação. Demos o prazo de um mês para reposição de insumos e medicamentos, mas não houve nenhuma medida efetiva para mudança do quadro”, afirmou.
Documentos foram protocolados com as demandas médicas que precisavam ser prontamente atendidas pelo risco de sérios prejuízos à população e à qualidade do serviço. Entre as demandas, foi solicitado um relatório de gastos com a saúde, sem retorno. “Vamos realizar a assembleia, fazer algumas ações para estimular o Ministério Público do Trabalho, o Ministério Público Federal, a Defensoria Pública, para deixá-los cientes. Estamos preocupados. É preciso que o município faça mutirões para estruturar as unidades, realizando um trabalho com todos os setores. Os médicos hoje estão angustiados, preocupados, há um desgaste grande”, encerrou o presidente do Simec.
Em nota, a assessoria de comunicação informou que o município vem mantendo o diálogo com os hospitais contratualizados, a classe médica e servidores na tentativa de resolver a situação. Em nota anterior, conforme foi publicada em matéria da Folha da Manhã na edição do dia 5 de outubro, o secretário da Transparência e Controle, Felipe Quintanilha, chegou a informar que a rede municipal possui mais de mil médicos em seu quadro permanente (concursados) e que, portanto, conta com médicos em várias unidades de saúde, que vem mantendo o atendimento aos munícipes. “Providências estão sendo tomadas, porém, o município não está desassistido e não houve fechamento de unidade de saúde”, dizia a nota.
Redução de equipes chegou ser questionada
Em nota coletiva emitida pelos médicos, houve reclamação pela redução arbitrária das equipes de plantonistas da UPH de Guarus, UPH da Saldanha Marinho e do Hospital São José; pela extinção do serviço de ortopedia para cirurgias eletivas, que realizava cerca de 200 cirurgias por mês; e pelo desmonte da rede de apoio dos hospitais contratualizados para ortopedia, com redução de 95% das transferências antes realizadas de pacientes ortopédicos oriundos do Hospital Ferreira Machado (HFM) para a Sociedade Portuguesa de Beneficência de Campos (SPBC), o Hospital Plantadores de Cana (HPC) e a Santa Casa.
Ainda segundo os médicos, devido ao suposto fechamento de várias unidades básicas de saúde e dos serviços médicos especializados dos hospitais contratualizados, houve uma superlotação nos hospitais de emergência de grande porte, o HGG e o HFM, com sobrecarga das equipes médicas e da estrutura dos hospitais. Mesmo diante disso, apesar de diversos apelos dos profissionais aos diretores e superintendentes, não foi permitida a substituição do plantonista que tem direito a férias.
Demissões afetam unidades de saúde
A demissão coletiva dos médicos sob regime de RPA, motivada pelo atraso de dois meses nos seus vencimentos, além do corte de 60% nos salários e a incerteza dos próximos pagamentos são preocupações da categoria. Por causa dessas demissões, segundo os profissionais de saúde, a Unidade Pré-Hospitalar (UPH) de Farol de São Thomé já não conta com cerca de 17 médicos “RPAs” e, como consequência, encontra-se sem atendimento médico em vários dias da semana.
A UPH de Guarus também ficou para atendimento médico desde o dia 1º de outubro, em vários dias da semana. “A atual falta de médicos nos serviços de emergência, demonstra a urgência da realização de um processo seletivo ou concurso para regularização desses profissionais”, complementa a nota emitida pelos médicos.
Hospital ameaça suspender atendimento
es de Cana (HPC) chegou a emitir, na última semana, uma declaração relatando falta de recursos e condições de trabalho do Hospital com possibilidades de interromper o atendimento a gestantes, prevista para o dia primeiro de novembro. De acordo com o documento apresentado o hospital está em dificuldades financeiras devido ao não recebimento da verba devido pela Prefeitura de Campos.
O documento apresenta ainda a inviabilidade de abastecer o hospital com medicamentos, material de limpeza, gênero alimentícios, além de atraso no pagamento de fornecedores, de funcionários e dos tributos, colocando em risco a filantropia da instituição.
Em nota, a Prefeitura informou que “já efetuou 50% do valor do mês devido aos hospitais contratualizados, o que de fato ocorreu no dia 21/09, bem como foi informado que assim que os recursos dos royalties de outubro entrarem na conta do Município, faremos as programações de pagamento e novamente nos reuniremos com os hospitais contratualizados para de maneira transparente, deixá-los ciente de nossas ações”.