"Além da Morte"
18/10/2017 18:16 - Atualizado em 24/10/2017 18:57
A indicação da semana, entre os filmes que entram em cartaz hoje (19), nos cinemas de Campos dos Goytacazes, é o suspense “Além da Morte”.
Contudo, a primeira coisa que deve ser dita deste suspense sobrenatural é que se trata da reimaginação — sim, não uma refilmagem ou sequência — da obra homônima (no Brasil intitulada “Linha Mortal”) de 1990, protagonizada por Kevin Bacon, Kiefer Sutherland, Oliver Platt, William Baldwin e Julia Roberts. Nenhum destes personagens, porém, retorna no novo “Além da Morte”, apesar da presença de Sutherland no elenco, vivendo agora um professor. Não seria muito legal se o personagem fosse de fato o Dr. Nelson, o mesmo do filme original, fazendo da produção uma tardia e não anunciada sequência? Mas, assim como no recente “Caça-Fantasmas” (2016), a Sony perde outra oportunidade.
O roteiro de Ben Ripley (“Contra o Tempo”, 2011) repete passo a passo a história de Peter Filardi (“Jovens Bruxas”, 1996), sem acrescentar muito, apenas diferentes traumas aos personagens e certa modernidade do mundo no qual vivemos hoje. O novo longa consegue inclusive ser mais moralista, já que a lição do dia é a de humildade para jovens privilegiados — o que casa muito bem com os tempos politicamente corretos.
Nada de cabelos emplumados, ombreiras, mullets, bueiros e ruas esfumaçadas e neon gritante, fazendo o novo perder pelo quesito chatice. Em sua defesa, a nova produção traz atuações mais comprometidas de seu elenco, que leva a coisa a sério e se sai bem. Outro ponto a favor é a direção do dinamarquês Niels Arden Oplev (“Os Homens que Não Amavam as Mulheres”), especialista em traduzir temas sombrios e imprimir um bom ritmo à sua narrativa. Digam o que quiserem de “Além da Morte”, menos que se trata de um filme enfadonho.
O grande problema é que o longa não possui ressonância alguma e promete, assim como o original (que não envelheceu nada bem), sair de nossas mentes bem rápido. O dilema moral é simplista e não existe realmente uma tensão aqui. Ao contrário da versão antiga que apresentava os protagonistas como pessoas repreensíveis, donas de comportamentos deturpados, o novo mais uma vez opta pelo caminho agradável, e apresenta seus personagens como bons samaritanos prontos para o abate.
Na trama, Courtney (Ellen Page) é uma estudante de medicina que resolve testar os limites entre a vida e a morte. Sua motivação é descobrir como o cérebro se comporta no exato momento em que deixa de viver — mais uma diferença entre os filmes, já que no original o propósito era mais voltado a certa espiritualidade e o além da vida era o enigma a ser desvendado. Para o experimento, no qual ela mesma será a cobaia, a jovem recruta quatro colegas, para trazê-la de volta à vida. Depois de concluída, um a um eles decidem se tornar alvo da experiência. O problema é que não retornam “puros” e algo começa a persegui-los.
Outra diferença de roteiro, que poderia dar ares mais refrescantes para a história, é que ao contrário do primeiro filme, estes jovens não trazem consigo apenas a “maldição”, mas voltam com habilidades adormecidas ou ativadas em seu subconsciente, como mais inteligência, memória, vigor físico e inclusive novos talentos, como tocar piano. A novidade, no entanto, logo se esvai quando o filme abandona tais ideias para não mencioná-las de novo até o desfecho.
No elenco, destacam-se Kiersey Clemons e Diego Luna, apesar do quinteto criar uma hegemonia de performances e química, completado por Nina Dobrev e James Norton.
“Além da Morte” entretém e promete deixar o espectador intrigado a cada cena, mesmo contendo momentos tirados de qualquer produção B, banhada em clichês do gênero. Apesar de não ser algo verdadeiramente especial ou novo, o longa definitivamente não merece a apatia que recebeu de grande parte da imprensa, rendendo uma média baixíssima no agregador mais famoso e odiado do mundo virtual, uma das mais baixas do ano. Boas atuações, direção segura e uma montagem enérgica, se contrapõem a um roteiro mundano, sem grande brilho, personagens de pouca expressividade e cenas nada memoráveis.
Também entram em exibição hoje os filmes “A Comédia Divina”, “Tempestade — Planeta em Fúria” e “Churchill”. Permanecem em cartaz “Como se Tornar o Pior Aluno da Escola”, “As Aventuras do Capitão Cueca”, “Pica-Pau”, “A Morte Te Dá Parabéns” e o recomendado “Blade Runner 2049”. (A.N.) (C.C.F.)

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