Vários compositores eruditos escreveram peças musicais tomando temas de outros para criar variações. Não cabe mencioná-los numa crítica de cinema. De certo modo “A morte te dá parabéns”, com direção de Christopher Landon, tenta levar algo parecido para as telas. Esse “algo parecido” é um filme de terror (porque há ingrediente sobrenatural misturado com medo) com pitadas de humor e variando em torno de um tema reencarnacionista. O tema é o assassinato de uma moça com valores bem liberais no que toca ao sexo. Ela fica ébria numa festa e dorme com um rapaz. Acorda no dia seguinte com seu celular avisando que é o dia do seu aniversário.
Ela não sabe o que aconteceu. Já está atrasada para a faculdade. O filme tem tom juvenil e universitário. Retrata bem o modo de vida dos jovens dos Estados Unidos da atualidade. Indo para uma festa-surpresa, ela é assassinada por alguém com máscara de palhaço. Os palhaços divertem e assustam. Seu riso é estático e indiferente ao medo.
Mas ela reencarna no... seu próprio corpo, acordando novamente na cama do rapaz que a levou para seu quarto depois da festa. A reencarnação é uma crença do hinduísmo e do budismo, no oriente. No ocidente, ganhou força com o espiritismo. Mas, alma reencarnada no próprio corpo é crença do antigo Egito. Daí a mumificação.
Será sonho? Será um transtorno mental? Com as sucessivas reencarnações, Tree Gelbman (Jessica Rothe) concluirá que ela está sendo assassinada pelo mesmo palhaço no dia do seu aniversário, sempre acordando no quarto de Carter Davis (Israel Broussard). Cada reencarnação é uma variação porque os acontecimentos mudam de forma significativa. Cansa morrer e reviver muitas vezes. A cada reencarnação Tree vai ficando cada vez mais fraca, descobrindo os outros e se descobrindo também, o que enseja cenas cômicas.
Ela precisa aproveitar as idas e retornos para aprender sobre si mesma. É como se ela queimasse seu carma, ao mesmo tempo contando com várias oportunidades para desmascarar seu assassino. Ela aprende pouco. Nos Estados Unidos sempre se aprende pouco. Mas descobre quem a mata várias vezes.
Essa mistura de terror e comédia sobre reencarnação gera um filme diferente da média do gênero, muito explorado e por isso muito desgastado. Ele precisa encontrar saídas. De certo modo, “A morte te dá parabéns” tenta romper os grilhões da mediocridade. De certa forma consegue.