Matheus Berriel
14/10/2017 14:47 - Atualizado em 16/10/2017 17:25
Na noite deste domingo (15), o ator campista Tonico Pereira, que está completando 50 anos de carreira e, em 2001, foi homenageado pela Folha da Manhã com o troféu Folha Seca, voltará a se apresentar em sua terra natal depois de mais de uma década. O espetáculo “O Julgamento de Sócrates”, com apoio da Folha, terá sua pré-estreia às 20h, no Teatro Municipal Trianon, antes de entrar no circuito nacional, começando pelo Rio de Janeiro. Os ingressos estão sendo vendidos a R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia), com promoção para os torcedores do Goytacaz que comparecerem vestindo a camisa do clube alvianil.
A última vez que Tonico se apresentou em Campos foi em “O Beijo no Asfalto”, de Nelson Rodrigues. Desde então, já se passaram cerca de 12 anos. O momento para retornar à planície goitacá não poderia ser melhor. Torcedor apaixonado do Goyta, o ator não esconde a expectativa para estar novamente diante de seus conterrâneos justamente no ano em que o clube conquistou o acesso para a Série A do Campeonato Estadual, feito que não acontecia desde 1992.
— Meu coração azul está em festa. Ver meu time de coração, que é um time popular, voltando à primeira divisão, já é uma alegria só. E mais alegria ainda, é voltar à minha terra natal para estrear meu novo espetáculo, que comemora meus 50 anos de carreira, no momento que meu time também está comemorando. Ou seja, satisfação total. Espero todos no teatro para comemorarmos juntos — afirmou Tonico.
Em “O Julgamento de Sócrates”, obra dirigida de forma conjunta por Tonico e Ivan Fernandes, o campista faz o papel título do monólogo, que é uma livre adaptação de “Apologia de Sócrates”, de Platão. O espetáculo dramatiza a defesa de Sócrates, no julgamento que o condenou à morte por envenenamento. Através deste caso, a peça debate a liberdade de expressão e o pensamento no mundo contemporâneo. Sozinho no palco, em figurino neutro e atemporal, Sócrates defende perante a plateia não apenas suas ideias, mas sobretudo o direito de tê-las.
— Estar em cena é meu momento de felicidade, de plenitude. Melhor ainda quando faço personagens clássicos, como um do Nelson Rodrigues ou, neste caso, o Sócrates, que é um grande pensador. Sócrates, de acordo com a filosofia, viveu de 469 a.C a 399 a.C, mas seus temas e debates são os mais atuais possíveis. A inspiração do espetáculo veio da ideia de se falar dos tempos de hoje, conturbados política e socialmente. Não queria falar de nada diretamente sobre isso, até porque muitas pessoas estão sem distanciamento. Então, me ocorreu em falar que tudo virou um grande julgamento: a sociedade, as redes sociais... Dessa ideia de falar de julgamento, me veio o de Sócrates, que é considerado o primeiro grande julgamento da história e o ponto inicial onde a sociedade rejeitou a razão em nome de outros interesses — ressaltou o ator campista, acreditando que o público fará uma reflexão sobre o momento atual.
— Eu espero do público um interesse por um teatro que não vem do espetaculoso, do glamour, e sim das ideias. É um teatro cru de debates de ideias e conceitos que têm a ver com o mundo. Um teatro em que se pretende um espelho do mundo e da sociedade. Mesmo falando de um julgamento em 399 a.C., torço para que o público saiba reconhecer, neste momento histórico do passado, o momento que estamos vivendo hoje. Saiba fazer comparações, tirar conclusões e, talvez, até mudar de opiniões, se considerarem que sua opinião não está balizada com o que o Sócrates falou, como o comprometimento com a ética e com a razão. Espero que se sintam tocado com as palavras de Sócrates naquela época e consigam aplicá-las no mundo e na sociedade de hoje — completou.