Guilherme Belido Escreve - O Brasil é outro
24/09/2017 10:46 - Atualizado em 25/09/2017 16:14
Só mais uma semana e vamos estar em outubro, ou seja: caminhando para o final do ano. É dizer... às portas de 2018 e com a crise econômica – crise que virou recessão – muito mais no retrovisor do que no para-brisa.
Vale ressalvar que contrariando projeções de economistas e consultores, segundo os quais a situação econômica só se resolveria se vencida a crise política, o Brasil está dando seu jeito. O furacão político segue enfurecido e ganhando força, enquanto uma bonança, já bem visível, vai se instalando na economia.
Paradoxal ou não, as “previsões” fazem lembrar brincadeira expressada em antigo ditado popular sobre três formas de se ‘ir’ à falência: a mais cruel, através do jogo; a mais agradável, em farras e noitadas; e a mais rápida, contratando um consultor econômico.
Brincadeiras à parte, numa marcha à ré de apenas três anos, em que até mesmo a expressão ‘passado recente’ soa pesada, ainda não se sabia – nem de longe – a extensão e a profundidade do turbilhão político quando os indicativos já projetavam dias negros para a economia.
Era final de 2014 e não obstante a crise estivesse presente, amedrontava muito mais por evidenciar que o pior – e muito pior – ainda estava à frente, e que o Brasil seguia em alta velocidade ao encontro da maior recessão de sua história.
Quem não se lembra de Joaquim Levy, em 2015, com seu pacote de medidas tenebrosas? Certas ou erradas, incompatíveis com a política petista instalada no Planalto.
Enfim, num panorama de crise generalizada, o cenário econômico se montava com todos os elementos de tormenta perfeita. Já o político, por mais instável que fosse, nem de longe se previa fosse chegar onde chegou.
O Brasil mudou em três anos
Em nenhum outro momento da história o Brasil experimentou mudanças tão profundas, em período tão curto, como nos últimos três anos. De fato, o País foi – e está sendo – passado a limpo.
Quem poderia imaginar em 2014 (praticamente ‘ontem’ – em termos históricos) que Marcelo, o neto de Norberto Odebrechet – grande ‘capitão de indústria’, fundador de conglomerado de expressão mundial na área de construção, energia e saneamento – fosse parar na cadeia, em pleno exercício à frente da empresa que soma mais de 70 anos? Convenhamos, esse era o tipo de sobrenome que no Brasil não ia para a cadeia.
O mesmo vale para empreiteiras do porte da OAS, UTC, Queiroz Galvão, Mendes Júnior, Galvão Engenharia, Camargo Corrêa e outras, cujos proprietários ou executivos foram presos em operações da Lava Jato.
Não menos incomum, diretores da Petrobras e de outros órgãos, como Renato Duque, Paulo Roberto Costa, Pedro Barusco, Nestor Cerveró, Jorge Luiz Zelada... e mais uma interminável lista de figurões foram em série para a cadeia, em imagens que viraram paisagem comum, muito embora inéditas no Brasil.
Políticos – Se a simples abertura de investigação contra políticos influentes causou grande surpresa ao quebrar a redoma de impunidade que tradicionalmente prevaleceu no Brasil e que transformava em intocáveis os corruptos do Congresso e dos corredores palacianos, – quando esses mesmos políticos começaram a ser denunciados, depois presos, e agora condenados, o Brasil se deu conta de que não era mais o mesmo.
O País que engoliu o Mensalão, ‘pegando’, por assim dizer, os garçons – quando muito, os mordomos – deixando de fora os verdadeiros donos da casa, tomou caminho inverso no Petrolão: senadores, governadores, ex-presidentes da Câmara e Senado; ministros e ex-ministros – entre os que já estão presos ou respondendo inquéritos – são exemplos marcantes de que os tempos são bem outros.
País passado a limpo e engomado
Na virada de 2014 para 2015, descortinava-se o estelionato eleitoral a partir da crescente desconfiança de que a real situação econômica havia sido escondida do povo para garantir ao PT o segundo mandato presidencial.
As promessas de campanha estavam sendo abandonadas e a crise – já vigente, porém camuflada – ‘surgia’ em enxurrada, avizinhando-se dramática. O Petrolão parecia algo isolado e do qual o governo não tinha conhecimento, tampouco envolvimento.
Essa era, em linhas gerais, a situação grave no Brasil pós-eleição, mas nem longe passível de antever o que estava por vir e que resultaria numa reviravolta de 180º.
Lula como baliza – Se os exemplos acima mencionados dimensionam o tamanho da mudança e comprovam que o paraíso da impunidade deu lugar a terreno de severidade, nada é tão emblemático como o despencar ladeira abaixo de Lula da Silva, virado pelo avesso nos últimos dois/três anos.
Voltando a 2014/15, quando a possibilidade de impeachment de Dilma – vez por outra aventada – era algo remoto, o que dizer de Lula? Nenhum segmento da política nacional, por mais hostil que fosse ao PT, imaginava que o presidente mais popular do período pós-redemocratização, líder isolado, pudesse ser investigado por corrupção, ‘encarar’ condução coercitiva, ser denunciado como chefe de organização criminosa, virar réu e ser condenado por propina.
No fio da navalha – Mais ainda, que após afastar a presidente e dar posse ao vice, ao invés de calmaria, a artilharia se voltasse para o novo mandatário, em inéditas denúncias de corrupção passiva, organização criminosa e obstrução de justiça.
Depois de rejeitar a primeira, a Câmara terá nova votação para decidir se autoriza ou não a abertura do processo pela segunda denúncia.
Levados por Michel Temer, o alto comando do Planalto passou a ser formado por Henrique Eduardo Alves e Geddel Vieira Lima, presos; Moreira Franco e Elizeu Padilha, denunciados – situações que falam por si e mostram a nova cara do Brasil.
Aposta errada – Frente a mudanças tão expressivas, não dá para não enxergar que o País é outro. Mesmo com as raízes comprometidas (a base política que irá disputar as eleições 2018 é praticamente a mesma) o Brasil vai se depurar em busca de melhores quadros a cada pleito.
Quem não enxergou isso foi Joesley Batista que, arrogante, mirou nas velhas práticas e apostou na impunidade da qual sempre se beneficiou. Deu no que deu.

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