Suzy Monteiro
21/09/2017 09:54 - Atualizado em 23/09/2017 12:18
Ex-procurador-geral da Câmara de Campos, o advogado Luiz Felippe Klem de Mattos, tornou-se réu em Ação Penal da Chequinho. Ele foi apontado, em inquérito da Polícia Federal (PF) e denúncia do Ministério Público Eleitoral (MPE), como o intermediador de proposta de suborno ao juiz Glaucenir Oliveira, que atuou na Chequinho e, em 16 de novembro do ano passado, determinou a prisão do então secretário de Governo de Campos, Anthony Garotinho. Na manhã dessa quarta-feira (20), a PF cumpriu mandado de busca e apreensão na casa do advogado, que deveria comparecer à delegacia da Polícia Federal, em Campos, nesta quinta-feira (21). Porém, a Polícia Federal foi informada que ele está na Califórnia, Estados Unidos, apresentando um projeto.
De acordo com o delegado federal Paulo Cassiano Júnior, que presidiu o inquérito, o suborno seria uma tentativa de impedir medidas restritivas contra Garotinho, já condenado e em prisão domiciliar, e seu filho Wladimir, também réu no mesmo caso. Cassiano disse que não há provas que indiquem que a tentativa de suborno tenha como mandante o ex-secretário, mas são categóricas em relação a Klem e que as abordagens foram feitas em nome do grupo político de Garotinho. O advogado Carlos Azeredo, atualmente à frente da defesa do ex-governador, classifica as acusações de tentativa de suborno associadas a seu cliente “como infundadas, ultrapassando as raias da leviandade”.
Segundo o delegado Paulo Cassiano, o advogado, então procurador da Câmara, teria procurado dois empresários, ex-clientes seus e amigos pessoais do juiz, em ocasiões distintas. Em uma delas, a quantia oferecida era de R$ 5 milhões, a quem também foi esclarecido que “o céu é o limite”, dando a entender que a proposta poderia ser aumentada. De acordo com a denúncia, a proposta foi feita ao empresário Abdu Neme, filho do vereador Abdu Neme. A outra seria de R$ 1,5 milhão, através do também empresário Thiago Pereira. Ambos foram procurados ontem (quarta, 20), mas a Folha não conseguiu contato.
Na Ação Penal, na qual o ex-procurador tornou-se réu, o juiz Ralph Manhães, da 100ª Zona Eleitoral, determinou medidas cautelares a Luis Felippe Klem, como recolhimento domiciliar aos finais de semana, proibição de ingressar na Câmara dos Vereadores e na Prefeitura de Campos, salvo na condição de contribuinte, entre outras.
Segundo Paulo Cassiano, durante as investigações foram interceptadas conversas telefônicas que demonstram uma “subordinação moral” de Felippe ao ex-secretário de Governo. Em uma das gravações, Garotinho fala: “Eu não tenho ninguém que me ache… me ache mais ou menos. Ou me ama ou me odeia!”. “Eu amo”, responde Klem, dizendo ser um amor herdado de seu pai, que era amigo e fã de Garotinho.
— Não há provas que o mandante seja o ex-secretário de Governo. Mas as provas que temos são categóricas em relação ao Klem e que a proposta foi feita em nome do grupo político do Garotinho e para beneficiar o Garotinho. Posso afirmar que houve o crime, feito por pessoa umbilicalmente ligada a ele (o ex-governador) — explicou.
De acordo com Cassiano, os empresários apresentaram provas e entregaram, inclusive, os celulares.
Ouça o áudio da conversa do ex-procurador com Garotinho:
Assista ao vídeo da coletiva com o delegado da Polícia Federal:
Defesa de Garotinho questiona denúncias
A defesa do ex-governador se manifestou através de nota: “O advogado Carlos Azeredo classifica as acusações de tentativa de suborno associadas ao ex-governador Anthony Garotinho como infundadas, ultrapassando as raias da leviandade. Tais acusações só podem ser fruto da obsessão que determinadas autoridades têm em justificar um processo marcado por arbitrariedades.
Não há uma prova sequer no inquérito da PF que comprove o envolvimento da família Garotinho com essa suposta tentativa de suborno.
É bom lembrar que Garotinho e o seu filho, Wladimir Matheus, entraram com uma notícia crime contra o juiz Glaucenir de Oliveira.
À época em que a acusação veio à tona, inclusive, a ex-governadora Rosinha Garotinho perguntou, numa entrevista, por que Glaucenir não deu ordem de prisão a quem ele diz que propôs o suborno. Não seria esse o procedimento adequado?”.
Habeas corpus com ministro Tarcísio Vieira
A ex-prefeita de Campos, Rosinha Garotinho (PR), já afirmou reiteradas vezes ter certeza que a decisão que condenou e levou à prisão seu marido será revertida em Brasília. E é lá que defesa do ex-secretário de Governo está recorrendo. Nesta quarta-feira (20), foi impetrado habeas corpus (HC), pedindo a libertação de Garotinho. O HC está no gabinete do ministro Tarcísio Vieira, relator dos recursos oriundo do caso Chequinho.
Na última segunda-feira (18), o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) negou liminar pedindo a liberação do preso. A decisão está publicada no Diário Oficial da Justiça Eleitoral, edição de hoje (21).
Garotinho foi preso quarta-feira da semana passada (13), quando apresentava seu programa na rádio Tupi. Ele foi condenado a nove anos e 11 meses de prisão por corrupção eleitoral, por 17.515 vezes, associação criminosa, supressão de documento e coação no curso do processo no caso Chequinho.
Outro - O plenário do TRE denegou ordem, na sessão de ontem (quarta,20), em HC, com pedido liminar, impetrado em favor dos vereadores Kellino (PR), Linda Mara da Silva, Thiago Virgílio (ambos do PTC) e Jorge Rangel (PTB). Eles postulavam a suspensão da Ação Penal 45-02, em curso na 100ª Zona Eleitoral. O pedido foi rejeitado pelo plenário.
Amperj divulga nota de apoio a promotores
Também nesta quarta (20), a Associação do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (Amperj) divulgou nota de apoio “irrestrito” aos promotores que atuam na Chequinho. Grande parte dos pedidos feitos pelo Ministério Público à Justiça no caso Chequinho é assinada por vários promotores de Campos - inclusive o pedido de prisão de Anthony Garotinho, em novembro do ano passado. Porém, o casal Garotinho e outros membros do grupo político dele concentram acusações ao promotor Leandro Manhães.
Segundo Amperj, o apoio é a todos os promotores que atuam ou atuaram junto à 100ª Zona Eleitoral na ação penal pública decorrente da Chequinho: “No exercício das suas atribuições legais – tal como reconhecido por decisão emanada do Tribunal Superior Eleitoral –, agindo por dever de ofício, no estrito cumprimento de seu dever e com apoio nas provas constantes dos autos, a Promotoria de Justiça junto à 100ª Zona Eleitoral passou a sofrer duros ataques, inclusive de ordem pessoal, com graves ofensas que atingem o Ministério Público como instituição e os seus membros”.
Ainda segundo a nota, críticas e comentários fazem parte do ambiente democrático: “No entanto, comentários desrespeitosos e ofensivos, de cidadãos ou autoridades, buscando pura e simplesmente, à falta de outros argumentos e para desviar o foco da discussão posta nos autos, menosprezar a atuação dos Promotores de Justiça, comprometem o salutar debate e discussão sobre os melhores caminhos para se alcançar o interesse público e a aplicação da lei penal”.