O Brasil não acorda de seu pesadelo político. Os ilícitos são tamanhos e em tão grande número que fica difícil até distingui-los sob o ângulo de quem apresenta as denúncias, bem como do vasto leque de crimes elencados. Fácil, só mesmo a lista dos envolvidos: todo mundo.
A corrupção é tanta, mas tanta, que a população não consegue entender ao certo quem acusa quem de quê.
E para relacionar tudo direitinho, do que vem do Ministério Público, da Polícia Federal e da Procuradoria Geral da República – bem como os inquéritos autorizados pelo Supremo – seria necessário nível de detalhamento tal, que daria um nó na maioria dos leitores.
Isso, sem falar das acusações que saem das polêmicas delações premiadas, das inúmeras ações que correm nos tribunais de primeira instância, e outras, já com sentença condenatória, que aguardam recurso nos órgãos superiores.
Aliás, nem mesmo a imprensa consegue assimilar direito – saber de cor – tudo que está acontecendo.
Para ilustrar o cenário, na semana passada uma correspondente estrangeira fez contato com o cientista político Carlos Melo, dizendo que a imprensa internacional não conseguia entender a crise política do Brasil. Ele respondeu: nós, brasileiros, também não!
Sobre aonde vai dar a teia de corrupção e como tudo vai acabar, não se sabe. Dentre os principais figurões da política brasileira, os que não estão presos, estão no Palácio do Planalto. E os que estão no Palácio, estão à beira da cadeia.
O suposto frescor que o presidente Temer pensava soprar sobre seu governo, a partir da suspeição levantada na delação da JBS, se dissipou com o novo inquérito autorizado pelo ministro Roberto Barroso e na última flecha do bambuzal de Rodrigo Janot: a segunda denúncia por obstrução de justiça e organização criminosa.
Isso, sem falar no risco-Geddel – segundo alguns, uma bomba relógio.
Tudo aquilo de novo
Pelos próximos 40 dias, possivelmente o Palácio do Planalto vai emplacar o mesmo modus de que se valeu na primeira vez e tentar buscar na Câmara os votos necessários para barrar a denúncia. A expectativa é de que consiga. Para uns, com menos dificuldade. Para outros, com mais.
O governo, já exaurido pelo pacote de bondades para obtenção dos votos na denúncia anterior, vai ter que encarar nova fila indiana de deputados em busca de cargos e liberação de emendas.
Preço que, além de muito alto, vai na contramão do Brasil que precisa urgentemente promover ajustes fiscais ao invés de se lançar em desvairada gastança para segurar o presidente na cadeira.
Até lá, Temer repete o receituário de manter uma ‘agenda positiva’ e tenta usar a singela melhoria econômica como escudo para fugir das graves acusações a ele imputadas: membro de “quadrilhão” e “chefe de organização criminosa”.
Deverá, ainda, retomar com os pronunciamentos de impacto, como o famoso “Não renunciarei”, de maio. “(...) Sei o que fiz e sei da correção dos meus atos. Exijo investigação plena e muito rápida para os esclarecimentos ao povo brasileiro”.
Acusado de quadrilheiro, Temer vai se arrastando
À luz do ‘conjunto da obra’ e das denúncias, só mesmo um ‘corruptômetro’ para estabelecer as diferenças entre o ontem e o hoje no Palácio do Planalto. Diferente de Dilma, Michel Temer deve ficar porque não tem um vice cobiçando seu cargo e um inimigo na Presidência da Câmara.
De resto, o presidente também deverá se valer de discursos de quem ‘defende o Brasil’ e transformar o Palácio do Planalto em palanque – mas, contudo, sem o pirotecnismo que marcou os últimos dias da petista à frente da União.
De toda sorte (ou azar), salvo o imponderável, Michel Temer tende a arrastar-se neste final de 2017 e 2018, refém da Câmara que, como hospedeira, vai corroendo sua vítima, debilitando-a, sem, contudo, matar. Além do que, atravessando este ano, não faz sentido tirá-lo no seguinte – que já será o da eleição.
Mas, em termos de governabilidade, caminha para ter um fim de mandato como José Sarney em 1989: anêmico, desidratado e moribundo. O oligarca do Maranhão, face, principalmente, ao desastre econômico com inflação de 100% ao mês. Temer, pelo que claramente se ouviu no famigerado áudio gravado na garagem do Jaburu e pelas robustas denúncias apresentadas pela Procuradoria Geral da República.
Enfim, fazer o quê? Sarney, Collor, Lula, Dilma, Temer, Dirceu, Cunha, Palocci, Guido Mantega, Henrique Alves, Geddel, Padilha, Rocha Loures, Moreira, Jucá, Renan... e por aí segue! Só mesmo um País continental, forte e produtivo, para se manter de pé diante tamanha roubalheira aos cofres públicos.
Mas o povo, como de costume, segue pagando a conta com suor e sangue.