"Política feita com conversa"
Aluysio Abreu Barbosa e Matheus Berriel 02/09/2017 18:46 - Atualizado em 05/09/2017 15:51
Marcelo Mérida
Marcelo Mérida / Rodrigo Silveira
Em entrevista à Folha, o presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Estado do Rio de Janeiro, o campista Marcelo Mérida, reafirmou que o setor lojista lançará um candidato a deputado federal, que possivelmente será ele próprio, e dois a deputado estadual nas eleições de 2018, com o objetivo de deixar de ser observador e passar a ser ator no cenário político. Fugindo do rótulo de ser ligado ao “garotismo”, Mérida disse que já teve conversas com o deputado federal Paulo Feijó (PR), de quem espera ter apoio, e que irá dialogar nesse sentido também com o prefeito de Campos, Rafael Diniz (PPS), pelo fato deste ser a liderança atual do município. Mas, acha que o projeto “independe do prefeito e caminha por si só”. Para ele, dentro do atual modelo eleitoral em vigor, é preciso “jogar de acordo com as regras”.
Folha da Manhã – Depois de revelada no “Ponto Final”, a caravana de Campos para a Convenção da Federação Fluminense das CDLs, da qual você é presidente, gerou muita polêmica. Menos pela participação do que pelo fato de que a CDL-Campos iria desembolsar R$ 70 mil no transporte e hospedagem dos participantes no concorrido hotel Le Canton, em Teresópolis. Qual é a sua opinião?
Marcelo Mérida – Nós, da Federação, preparamos uma convenção extremamente pontual, onde tivemos uma temática maravilhosa, um final de semana muito produtivo. A CDL de Campos é extremamente importante dentro do contexto. Essa questão dos investimentos feitos pela CDL de Campos passa à margem da Federação. Entendo que as entidades têm que investir no capital, que são os comerciantes. Agora, a ordem de grandeza depende da diretoria. Passa à margem da Federação. Posso dizer que o comércio varejista do Estado do Rio saiu da convenção extremamente fortalecido. Discutimos a questão da automação comercial, que é uma realidade no mundo comercial, mas está muito distante da nossa realidade. A questão da tecnologia. Então, essa é uma questão particular da CDL de Campos. Eu acho que tem que ser tratada dentro da CDL ou dentro de um conjunto de informações que vão ser produzidas pela CDL.
Folha – O presidente da CDL-Campos, Joilson Barcelos, admitiu que iria bancar a hospedagem e que, em outras gestões, o hábito era bancar o transporte, e a hospedagem corria por conta dos participantes. Houve mudança. Você próprio já foi presidente da CDL. Como era com você?
Marcelo – A gente sempre investiu nas caravanas de Campos. A ordem de grandeza, eu não sei precisar se, na época, investia só em hospedagem ou só em transporte, com ajuda de custo. Não sei precisar. Eu sei é que é importante, hoje, no momento que estamos, a gente ter uma agenda positiva. Não posso dizer que a CDL de Campos teve ou não teve essa intenção, mas o Joilson tem um capital importante dentro. Eu não estou dizendo que ele fez ou não fez. Só estou dizendo que é uma coisa interna da CDL, que tem que ser discutida entre os pares. Eu, como par, também posso ter opinião sobre isso. Acho que é momento das entidades investirem nessa questão de capital, na questão de eventos. Não posso dizer que, se foi R$ 70 mil, se foi pouco ou muito, se isso representa, no momento que estamos vivendo, uma mexida de caixa da CDL. Não posso precisar, porque não conheço, hoje, a realidade financeira da CDL.
Folha – O Joilson negou que haveria o interesse extraoficial de mostrar força na caravana para lançar sua pré-candidatura a deputado federal. Afinal, havia ou não? E como foi a participação campista na Convenção?
Marcelo – A caravana de Campos foi extremamente expressiva. Teve dois ônibus, uma van e vários carros. Ela foi extremamente expressiva e me prestigiou de uma forma diferenciada. Mas não houve, em momento nenhum, essa questão pontual. Nem houve uma discussão desse projeto macro que a gente vem falando de se inserir no processo político.
Folha – Não se tocou nisso?
Marcelo – Não, em momento nenhum, porque não era a pauta da Convenção, e não é o momento ideal para isso. Eu acho que não é momento da gente estar discutindo isso, mas, sim, os projetos. Não temos uma coisa definida com relação a nomes. Há projetos, sim, e acho que a gente está trilhando o caminho certo.
Folha – Ainda em relação à CDL-Campos, da qual você também já foi presidente, como vê a pré-candidatura de Orlando Portugal, ex-secretário municipal do governo Rosinha, na eleição à presidência da entidade no final do ano?
Marcelo – A CDL tem um grupo de sócios, qualificados como sócio ativos, de aproximadamente 100 nomes e acho que todos estão capacitados para ser presidente. O Orlando é diretor da entidade há muitos anos, tem colocado seu nome na pauta para ser presidente. E acho que o Joilson está conduzindo esse projeto de forma muito tranquila, transparente, discutindo com os pares. Não sei se tem a definição de nomes apontados pelo presidente, mas acho que o Joilson está cacifado, enquanto presidente, a indicar um nome e conduzir bem o processo eleitoral. Sobre o Orlando, acho que reúne todas as capacidades, assim como os outros também reúnem. Se o nome de Orlando for apresentado, ele vai passar pelo colégio eleitoral.
Folha – Ele teria o seu voto?
Marcelo – Eu sempre busquei, nas CDL’s, especialmente em Campos, a indicação do presidente. Isso é importante, fazer a sucessão do presidente, ainda mais quando se tem um presidente dedicado como o Joilson. Se ele indicar, eu voto.
Folha – Não é preciso ser comerciante ou comerciário para perceber a grave crise do setor. A recessão econômica em Campos é ainda pior do que no resto do Brasil?
Marcelo – Nós temos uma recessão, é fato. Os bairros estão sofrendo tanto quanto o Centro e os shoppings. É generalizado. O que eu posso falar é que o estado do Rio, hoje, vive uma dificuldade imensa em gerar recurso para manter a atividade do comércio ativa. Isso não é uma particularidade de Campos. Tenho andado de Norte a Sul Fluminense. Em 45 dias, mil lojas fecharam só na capital do Rio. Imagina: em mil lojas, você tira de circulação, no mínimo, três mil pessoas, três mil famílias que ficam desempregadas. Então, não é uma exclusividade de Campos. Eu tenho acompanhado que isso é uma tônica geral do estado.
Folha – Você acha que o servidor estar sem receber direito interfere diretamente nisso?
Marcelo – Interfere diretamente. Nós não tínhamos uma noção exata do impacto da folha salarial do Estado. Nem nós, dos setores produtivos, e talvez nem o próprio Estado. Quantas pessoas em Campos dependem dessa folha salarial? Policial militar, professor... Então, isso impactou direto em todas as cidades. Nas que não têm uma economia consolidada, mais ainda. Campos tem alternativas econômicas. Há a folha salarial do Estado, mas, se você pegar cidades menores como Cardoso, Italva, São Fidélis, essas cidades estão sofrendo muito com o problema do Estado.
Folha – Na repercussão das primeiras notas do “Ponto Final” noticiando os movimentos de bastidores da CDL, você admitiu nas redes sociais que é pré-candidato a deputado federal. E voltou a fazê-lo falando depois à própria coluna, embora tenha dito que ainda depende de discussão com a família. E aí, dona Simone já o liberou?
Marcelo – Olha, tem a discussão familiar. Isso é importantíssimo. Eu tenho uma convicção na minha vida: meu maior patrimônio é a minha família. Mas eu tenho também um compromisso com o meu setor, o setor produtivo. E tenho visto se desenhando com mais força, depois até mesmo do impacto da notícia no Ponto Final, que há uma manifestação positiva. E aí, eu já comecei a discutir isso internamente com os pares, os amigos, as classes produtivas do município, uma viabilidade. É claro que o nosso projeto não pode ficar à mercê de nomes. Então, um nome não pode se sobrepor ao nosso projeto. Se for da vontade da nossa classe, se for da vontade dos pares do estado do Rio, provavelmente a gente vai colocar o nosso nome à disposição. Eu ainda não tenho uma resposta da minha família. Mas entendo que, com a mesma responsabilidade que estou falando isso agora, a minha família tem o mesmo entendimento. É hora de a gente sair dessa passividade, sair desse momento de dependência da classe política, e se colocar.
Folha – Quando falou à coluna da Folha, você disse que é chegada a hora do setor lojista sair da posição de mero observador do jogo político, para se tornar também ator.
Marcelo – Ao longo dos anos, nós só fomos espectadores. Só sofremos. Os momentos que nós sofremos de inércia da gestão pública ou de ações que prejudicam a classe produtiva, é porque nós éramos passivos. Não tínhamos uma voz ativa conhecedora. Por mais que a gente interaja na Congresso e na Alerj, não temos uma voz ativa falando do setor, defendendo interesses do setor, da classe produtiva. É esse mote que a gente quer dar.
Folha – Além do seu nome como pré-candidato a deputado federal, você revelou ao “Ponto Final” que as CDL’s fluminenses querem lançar dois pré-candidatos a deputado estadual. Uma destas vagas já estaria na mira do empresário Fabiano Gonçalves, que disputou e perdeu por um voto a eleição a vereador pelo PRL e hoje é secretário de Administração do governo Rodrigo Neves (PV), em Niterói. A outra vaga da categoria à disputa da Alerj estaria em aberto?
Marcelo – O Fabiano preenche todos os pré-requisitos dessa participação. Já foi testado na urna e muito bem votado. Se nós tivéssemos sob a legislação do distritão, ele estaria eleito. E é um dos entusiastas. Já tem um capital político dentro de uma cidade com um número expressivo de eleitores. Foi secretário de Indústria e Comércio do bem avaliado governo do Rodrigo. Foi alçado a secretário de Administração. Então, eu acho que o Fabiano, hoje, é quem está mais cacifado dentro do movimento para a candidatura. O segundo nome, nós estamos estudando ainda. Estamos trabalhando com muita cautela nisso. Respeitando as regionalidades.
Folha – Em entrevista no último domingo, o deputado federal Paulo Feijó (PR), na experiência de seu quinto mandato, falou que, antes de se lançar numa disputa eleitoral, você tem primeiro que se consolidar como representante do seu setor. Concorda? Isso já é realidade?
Marcelo – Sem dúvidas. Você não vai partir para uma aventura dessa se não tiver o apoio dentro de casa. E a gente não vai, em momento nenhum, colocar o projeto acima do sonho de qualquer que seja o candidato. Acho que isso está sendo costurado, a gente está amadurecendo. A questão das candidaturas advém da base lojista, o que não impede de estar interagindo com outros setores. As nossas demandas são muito parecidas com as da indústria, com as do serviço... Então, não vejo muita dificuldade de interagir e de fazer esse movimento. O Feijó é um deputado com vasta experiência e já tinha me falado, em uma conversa, que era importante consolidar isso para que esse projeto tivesse uma chance.
Folha – Embora Feijó veja com bons olhos a sua pré-candidatura, chegando a dizer que você seria um bom nome para ele passar o bastão da representação da região na Câmara Federal, ele afirmou também que isso ainda não está fechado e depende de mais conversa. Vê-se com um sucessor de Feijó? O que falta para esse apoio ser consolidado?
Marcelo – Eu respeito muito o Feijó, só que somos pessoas totalmente diferentes. Eu entendo que, hoje, nós precisamos de um deputado que esteja afinado com o setor varejista, que conheça disso e que, talvez não seja, não é o caso específico, mas, tenha uma independência para que possa se colocar no cenário. Independência é não seguir uma votação que suas bases não sejam consoantes. Eu ou o sistema, ele quer deputados que sejam consoantes com as ideias da classe. Eu acho que o deputado, assim como qualquer político, é fruto da sua base orgânica. Muitas vezes o Brasil, hoje, tem definições que partem do partido. Nós temos que debater e combater isso em termo de ideia. Eu não posso seguir uma determinação do meu partido se for contrária à minha base. Não justifica eu estar lá. Então, essas questões precisam ser muito bem definidas, para que a gente possa ter realmente pessoas que representem os interesses da base orgânica. Eu não me sinto na condição de ser o sucessor do Feijó. Sempre estive com ele, é um amigo, uma pessoa próxima. Respeito as individualidades dele. Posso não concordar com todas as ações dele, mas entendo que ele tem um legado muito positivo para a política local e regional. Já vivi a política de municípios menores e sei o quanto o Feijó é importante.
Folha – Ele chega a afirmar que, depois de Alair Ferreira, ele foi o deputado federal que mais trouxe para a região. Você concorda?
Marcelo – Eu acredito que sim. E digo mais: à época, Alair tinha uma posição muito voltada para Campos e São João da Barra. O Feijó, não. Ele pulverizou muito, deu grandes oportunidades às cidades pequenas, Mesmo nos municípios onde, eleitoralmente, ele não tinha um contingente, levou melhorias. Suceder o Feijó, eu posso não estar nesse patamar. Mas me senti muito honrado com as palavra de carinho. Isso me motivou.
Folha – Mas ele falou que demanda mais conversa...
Marcelo – Sim. Eu acho que a política tem que ser feita com conversa. Conversa sadia... Dentro do contexto de candidatura do nosso grupo, seja do Marcelo ou de quem for, eu quero continuar conversando com o Feijó, assim como quero interagir com o prefeito Rafael Diniz, porque ele, hoje, é a nossa liderança. O nosso prefeito. Quando se fala das dificuldades de Campos, muitas pessoas têm remetido às dificuldades do prefeito. Eu acho que as dificuldades a serem superadas são da sociedade. Sabíamos muito bem o que o prefeito ia encarar.
Folha – Uma dívida de R$ 2,4 bilhões...
Marcelo – A divulgação dos números é essa. São números assustadores. Se R$ 2 bilhões já eram uma dívida considerada com o orçamento de R$ 2 bilhões, ainda mais agora.
Folha – Na verdade, a Rosinha teve uma execução orçamentária de R$ 3 bilhões, porque ela teve R$ 1,5 bi e teve R$ 1,5 bi do dinheiro que ela pegou da PrevCampos, mais os empréstimos. Execução orçamentária que caiu pela metade nesse ano.
Marcelo – Por isso que eu falo: a sociedade não pode se furtar, hoje, a somar, não ao prefeito Rafael, mas à cidade de Campos. Isso tem que ser amplamente discutido pela sociedade, para que a gente busque caminhos. A natureza do Rafael já é de escutar, de conversar. Ele tem andado em todas as entidades, conhece os problemas que temos no município.
Folha – Qual a importância da instalação da delegacia da Junta Comercial do Estado do Rio de Janeiro (Jucerja) em Campos, pleito antigo da CDL local, que se concretizou com a intervenção do governo Rafael?
Marcelo – Esse é um pleito que não é unicamente da CDL, mas também da Associação Comercial, da Carjopa, do Sindicato dos Contabilistas, de todos os agentes envolvidos no processo, que há anos vêm lutando por isso. É um pleito que passou por diversos governos. O Rafael abraçou essa questão. Houve a oportunidade também de a gente ter, hoje, um presidente da Jucerja extremamente capaz, um cara que tem andado pelo estado do Rio de Janeiro. O governo de Rafael abraçou esse pleito e implantou. Foi com muita alegria que a gente viu, em pouco tempo, que foi uma agenda extremamente positiva na cidade. É outra coisa que as entidades têm que trabalhar: as agendas positivas. A gente tem visto o caminho bem nebuloso que o prefeito está encarando, então, temos que fazer a nossa parte. Temos que ajudar. A Jucerja veio em boa hora. Se não fosse a equipe de Rafael Diniz ter abraçado, nós não teríamos a Jucerja hoje.
Folha – De modo geral, como você avalia os oito primeiros meses do novo governo municipal de Campos?
Marcelo – Ele está com dificuldades econômicas, dificuldades na parte de operacionalizar a gestão. Mas todos nós sabíamos que ele teria que passar por esse período. É um momento que a sociedade, toda a comunidade de Campos, tem que ser solidária. Mas também tem que ser escutada. A sociedade está num estado de letargia. Está parada. Nós temos que sair desse campo e ir para a atividade. Temos desafios pela frente. Temos que discutir o código tributário que foi para a Câmara. E não é discutir contra o projeto, mas discutir positivamente.
Folha – Vem reajuste de IPTU aí, no ano que vem, que há muito tempo o valor venal não é reajustado...
Marcelo – O momento, hoje, é de muita cautela. Um momento que a gente tem que avaliar todas as circunstâncias. A capacidade contributiva do cidadão está esgotada. Então, realmente, a gente pode dizer que, há muito tempo, não se corrige a planta original, mas a alíquota vem sendo corrigida todo ano. O valor venal não é corrigido, mas a alíquota é. Temos que discutir se, no conjunto da obra, esse valor não vai ficar inviável para a população. Hoje, cada centavo que se tira da população, isso reflete negativamente no município. Se você tira a capacidade da população, ela vai bater no poder público municipal. Se você tira a capacidade de reação própria, seja na área médica, escolar, tudo o que você tirar, vai reverter no município. E essa é uma preocupação que eu acho que o município tem que ter.
Folha – Na crise, todos os governos estão estudando uma forma de arrecadar mais. É um fio de navalha.
Marcelo – Eu questiono muito essa forma. Pra mim, é uma forma vencida. Isso de aumentar impostos, criar novas alíquotas. Existem outros mecanismos que o Governo não atua, que tem que atuar. Por exemplo, cobrança de ISS de alguns serviços que não são tributados por omissão do poder público ou porque não estão enquadrados. Nessas coisas, pode atuar. Agora, a gente tem que discutir isso. Quando você envolve a sociedade nisso, você tende a ter mais êxito nas suas ações. Eu acho que a gente precisava, talvez, ser mais ativo, e o Governo, mais receptivo. Nós precisamos falar mais e o Governo, escutar mais.
Folha – Mas, na sua avaliação, quais seriam, nesses oito meses, de prática, as maiores virtudes e os maiores desacertos do Governo?
Marcelo – Virtude eu acho que foi a interação. Interagiu com as entidades no começo. Depois, há um hiato nesse espaço, que foi aonde eu acho que o Governo tem sofrido mais. O período dos últimos 90 dias, em que não houve uma interação com a sociedade. Eu não posso creditar isso a nenhuma coisa pontual. Acho que nós, da sociedade civil organizada, não fomos ativos, e a Prefeitura também falhou nesse aspecto. O outro aspecto: há a percepção que a população queria um resultado muito imediato do governo do Rafael. Nós não estávamos preparados para entender que precisaríamos de um período maior. Esse é o ponto.
Folha – Ele chegou a falar, no início do mandato, que precisaria de um ano para arrumar a casa. Foi até muito criticado por isso.
Marcelo – Eu lembro disso. Acho que é realista. O governante, hoje, não tem que criar fato que não seja verdadeiro para a cidade. Penso que o governo de Rafael precisa ocupar mais os espaços com informações para a sociedade. Ele está trabalhando. Está interagindo.
Folha – Inegável que com a vitória acachapante de Rafael, em todas as sete Zonas Eleitorais (ZEs) de Campos, ainda no primeiro turno da eleição municipal passada, o perfil de jovem de classe média, bem apessoado e articulado, com relativa pouca bagagem na política, passou a ser valorizado. E este perfil é também o seu. Pretende tirar proveito disso? Como?
Marcelo – Nós temos um grande desafio pela frente. O conjunto da política. É o de resgatar a credibilidade da política. Hoje, motivar as pessoas é um grande desafio. O voto nulo não cancela a eleição. Então, esse voto nulo pode ser uma articulação da velha raposa política. Se a sociedade não vai votar, os poucos votos que ele tem, o elegem. É o voto de cabresto. Então, o grande desafio dessa nova geração é de trazer a credibilidade à política.
Folha – O seu perfil se aproxima com o de Rafael.
Marcelo – Sim. O Rafael não é uma grata surpresa porque já teve o mandato de vereador. O conjunto que levou o Rafael a ser um candidato e ter a votação que teve, da maneira que venceu, trouxe surpresa para o cenário político local, regional, quiçá nacional. No regional eu tenho o feedback. No primeiro turno. Isso também fez com que a população aumentasse a expectativa a curto prazo de ações que a gente sabe que não podem acontecer. Mas, voltando à pergunta original: o nosso grande desafio é resgatar isso, mobilizar e ser propositivo.
Folha – Você já conversou com Rafael sobre a intenção de vir candidato?
Marcelo – Tenho interagido bastante com o Rafael, mas ainda não tive essa conversa propositiva. Conversa política nós ainda não tivemos. Mas pretendemos ter. É óbvio que isso passa pelo poder público municipal, na pessoa do Rafael. Não é um projeto isolado. Tem um conjunto de fatores que levam à regionalização da política.
Folha – Em entrevistas de alguns pré-candidatos à Folha, todos os que não estão ligados ao garotismo falaram que têm que passar por Rafael. É um discurso. Você concorda?
Marcelo – Eu concordo que tem que passar pelo Rafael porque, hoje, ele é a liderança do município. Mas o nosso projeto independe do Rafael. Ele caminha por si só. É óbvio que, até pelas minhas convicções, ele tem que ser um projeto que some. E some com Rafael ou com quem estiver no comando do município. Mas, acho que essa conversa com ele é fundamental, para ele conhecer o projeto, para a gente poder mostrar para ele quais são as condições que temos para apresentar.
Folha – Você vai propor? Vai esperar que seja proposto?
Marcelo – Estamos num processo de interagir, de procurar mostrar. Temos mostrado a uma liderança regional, que é o Feijó. Temos mostrado dentro do contexto de candidatos a governador que estão se apresentando até o momento. Temos que interagir. Vamos procurar o Rafael, sim, na hora certa. O Rafael, hoje, goza desse prestígio. O cara que teve a votação que teve, tem que conhecer o projeto. Assim como a gente também não pode esquecer que o projeto tem que ser apresentado para toda a região. Se tiver um candidato genuinamente de Campos, tem que passar por todas as prefeituras.
Folha – Também na entrevista com Feijó, depois que este levantou a necessidade da sua aproximação com Rafael, foi falado que o governo municipal já trabalha com um nome como pré-candidato a deputado federal: o empresário Cesinha Tinoco, amigo de infância e colaborador próximo do prefeito. O que acha do nome? Há espaço para dois de Campos se elegerem à Câmara Federal?
Marcelo – Eu não tenho uma relação de amizade com o César. Nas vezes que estive com ele, foi de uma gentileza... E as pessoas que eu conheço que têm amizade com ele, sempre fizeram uma ótima referência. Um rapaz proativo, que é um parceiro do Rafael, amigo de infância. Eu acredito que seja um bom nome para representar o Norte e Noroeste Fluminense. Com relação a duas candidaturas, já tivemos várias que foram bem-sucedidas.
Folha – Mas você acha que é possível dois se elegerem?
Marcelo – É possível, sim. Temos um contingente eleitoral muito grande no município, na região. Não vejo problema. O nosso projeto não é para prejudicar nenhum grupo, mas para somar. Vejo com bons olhos a candidatura do César, se ela se consolidar. É uma pessoa que tem a somar dentro desse processo. É um empresário, conhece os problemas. Não vejo problema na proximidade. O Rafael é um prefeito que tem se mostrado com uma postura de prefeito da cidade. Ele atende às entidades, atende à sociedade. Tenho visto pelo noticiário que ele atende o funcionalismo público. Ele pensa macro. Não pensa pequeno. Uma grande liderança tem que pensar macro. Não vejo problema da gente ter duas candidaturas viáveis na região. Confesso que a gente tem uma expectativa de ter esse projeto em todo o estado do Rio. É óbvio que precisa ter uma base, mas também precisa do conjunto. A gente vai ter respostas em outras regiões. Não vejo isso como um empecilho, não. Não é o maior empecilho.
Folha – Não só Feijó na entrevista, como você próprio, nas redes sociais, negaram que sua pré-candidatura seria um plano B do garotismo, talvez até como uma opção em 2020 na Prefeitura de Campos a Rafael, pelo perfil muito próximo, como já falamos anteriormente. Se você fosse eleito, se cacifaria, normalmente, num processo natural, para a eleição de 2020. Negativas à parte, se isso fosse verdade, você admitiria?
Marcelo – Na minha vida, não aceito rótulos. Nunca aceitei. Se tem uma coisa que, ao longo da vida, pelas iniciativas, aconteceu, foi eu ter virado o Marcelo da CDL. Virou quase um sobrenome. Se isso pode ser considerado rótulo, é o único que aceito na minha vida. A questão da disputa para o pleito do próximo ano é pontual. Já tive participação política, eleitoral, e já tinha pensado em nunca mais participar. Sobre a progressão natural, não passa isso pelo nosso cenário. Pode ser passo natural para quem quer levar a política como carreira. Se eu for eleito, pretendo cumprir meu mandato, porque não é o mandato do Marcelo. É o mandato da classe produtiva.
Folha – E se a classe produtiva quiser a Prefeitura?
Marcelo – Eu acho que a gente tem outros nomes. Campos, hoje, tem que centrar esforços para ajudar Rafael Diniz. Isso é fato e ponto. Em 2020, o Rafael tem que chegar lá bem, porque, se ele chegar mal, o setor produtivo vai chegar mal. As entidades sempre foram proativas para todos os prefeitos. Todos os chamamentos que recebemos, tentamos contribuir. Esse exercício de futurologia, eu deixo para a imaginação daquelas pessoas que querem fazer política diferente da que a gente pensa. Eu quero fazer política classista e, se tiver que participar do pleito eleitoral como deputado, vou para cumprir a missão. Se bem que muito candidato já prometeu isso e não cumpriu. Mas, pode gravar. É uma grande missão resgatar a credibilidade do político.
Folha – Além de você ter sido secretário de Rosinha e de Feijó estar no PR do ex-governador, outros nomes que estariam trabalhando em seu projeto político são intimamente ligados ao garotismo. São o caso do ex-vereador Mauro Silva (PSDB) e dos ex-secretários rosáceos Sérgio Cunha e Wainer Teixeira (PHS), de quem você já admitiu ser amigo pessoal. Isso sem falar em Orlando Portugal. Se você fosse apenas eleitor em 2018, sinceramente, não desconfiaria?
Marcelo – O Mauro Silva em momento nenhum participou desse projeto.
Folha – Ele está muito próximo do Joilson. Você sabe disso, não é?
Marcelo – Eu não tenho esse contato estreito. Eles devem estar até trabalhando negócios juntos, não sei se é fato. Não posso dizer se é negócio, se é amizade. Sobre o Sérgio Cunha, eu já trabalhei com o pai e tenho uma amizade grande com ele. Mas isso não quer dizer apoio ao projeto. Eu já fui subsecretário de Rosinha, a convite de Carlos Alberto Faria e Eraldo Bacelar, que é meu amigo particular. Enquanto fui útil à classe, lá eu estive. Com um ano, pedi para sair e cessei a minha participação. Foi bom enquanto durou. Participo enquanto eu sou útil. Nós tínhamos uma demanda de ordenamento no Centro da cidade que tinha data fixada. A partir do momento que ela foi postergada pela segunda vez, eu senti que não era mais útil dentro do Governo e pedi para sair. Fui respeitado na minha decisão.
Folha – Como foi sua experiência com Rosinha?
Marcelo – Tive pouco contato com ela, mas sempre me atendeu muito bem. Nunca tive problema de relacionamento nas poucas vezes que interagi. Com Garotinho, menos ainda. Na época que eu estava no governo, ele não estava em Campos.
Folha – Talvez hoje pouca gente se lembre, mas o movimento “Muda Campos”, que levou Garotinho à Prefeitura de Campos pela primeira vez, em 1988, teve acolhida desde o nascimento na CDL, na gestão de Odilon Martins. De lá para cá, vários ex-presidentes da entidade tiveram passagem no garotismo, como Murillo Dieguez, Fábio Paes e você. Essa aproximação foi boa ou ruim para o setor lojista? Deve-se entender que ela acabou? Por quê?
Marcelo – Quando entrei na CDL, eu estava com 21 anos, em 1991. Não vivi isso. Eu sei do contexto histórico da CDL. E teve questões pontuais importantes. Mas eu nunca vi a política entrar na CDL. Já vi a CDL participar da política. Tanto é que, mesmo participando com membros de sua diretoria na Prefeitura, a CDL fez várias ações judiciais contra o poder público. Então, não consigo enxergar a política entrando na entidade. Consigo enxergar a CDL se manifestando na política.
Folha – Mas você acha que essa relação da CDL com o garotismo acabou?
Marcelo – Não é com o garotismo. Foi por coincidência de quem estava no poder.
Folha – Você falou que chegou a hora da CDL ser ator e não ser mais observador. Mas ela também foi ator. Quando integra um governo, está sendo ator, é administração pública. A CDL já colocou a mão na máquina.
Marcelo – Eu não vivi tão intensamente isso. O Murillo tem uma passagem muito importante pelas entidades. Deixou um legado, mudou o cenário, colocou a CDL num cenário diferenciado. Se nós tivéssemos o Murilo presidente por mais tempo, isso que estamos propondo agora, já teria sido feito lá atrás. Isso é dele. Naquele momento, os caminhos foram se construindo como secretário, com uma participação. E acho que isso deu resultado a ponto da gente chegar no estágio em que estamos agora, com maturidade para tocar esse projeto.
Folha – O prazo de filiação depende de mudanças, ou não, das regras eleitorais no Congresso. Você já foi filiado ao PSDB, com quem admitiu estar conversando, assim como com o PT do B. Isso sem contar o PHS, presidido em Campos por Wainer. Qual, afinal, será o seu caminho? Ele tem que ser o mesmo dos pré-candidatos das CDL’s a deputado estadual?
Marcelo – No nosso projeto, ele vai se desenhar dentro da base eleitoral do candidato. É lógico que tem um vínculo maior. Mas, temos um pré-candidato já bem encaminhado em Niterói. Então, ele tem que concorrer dentro da base dele, dentro do cenário que tem, com as interferências locais. O prefeito ou outras. Isso não quer dizer que não vamos interagir nas nossas campanhas. Assim como, se for o candidato de Campos, temos que seguir o mesmo caminho. O movimento lojista, a nível nacional, não tem uma identidade partidária. Mas nós temos algumas definições. Os extremos não fazem parte do nosso contexto. A gente tem conversado. Queremos posicionar na hora certa.
Folha – Tem algum outro partido? Falamos em três.
Marcelo – PSD, do Índio da Costa; tem o Partido Novo, que precisamos saber qual espuma ele vai ter. Uma coisa é clara: a gente não quer participar do pleito buscando caminhos fáceis. Não queremos participar do partido para fazer um candidato. Queremos entrar em um conjunto para disputar e ganhar se tiver o voto. Até mesmo porque, temos discutido isso internamente, o modelo eleitoral está errado. Tem que ganhar é quem tiver voto. Próximo ao distritão. E não temos discutido só a questão de política institucional. Queremos nos diferenciar do modelo que está aí.
Folha – O partido que você definir para você, tem que ser o mesmo dos estaduais?
Marcelo – Não. O cenário local é que vai definir. Podem ser três partidos. Eu gostaria muito que o cenário político do Brasil fosse diferente, mas temos que jogar de acordo com as regras. Com a pulverização partidária, infelizmente. Há 10, 20 anos, o PT era um partido e os outros eram siglas. Hoje, não posso falar mais nisso. Dentro da conjuntura, ficou mais difícil entender o PT como um partido. Enfim, eu estou muito satisfeito, independente se o projeto vai deslanchar. Acho que agora nem tem volta mais, pela repercussão que está tendo, pela importância que isso está produzindo no processo, para que as pessoas amadureçam, se motivem a participar. Quando nós encolhemos, alguém ocupa o espaço.

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