Finalmente a virada, que fecha a porta deixando para trás o azarado mês de agosto e abre, sorridente, a janela para o primeiro domingo do colorido setembro. Na crendice popular, agosto é o mês do desgosto, do mau agouro. Mas, como diria Getúlio Vargas, ‘Crendice! Ora, a crendice!’.

Vargas, que por sinal se matou em agosto, disse isso sobre a lei (“Lei! Ora, a Lei!”), mais do que insinuando, afirmando que apenas o cidadão do povo estava sujeito à mão pesada da lei, enquanto a própria legislação concedia todo tipo de benefício e imunidade às classes privilegiadas.

Decorridos mais de 60 anos, vemos o quanto Getúlio estava certo. Pior ainda, vemos o quanto é atual... mais atual que nunca o que a Lava Jato descortinou, trazendo à tona o Brasil de Lula, de Dilma, de Renan, de Jucá, de Sarney, de Temer, de Rocha Loures, de Padilha, de Aécio, de Collor, de Cunha, de Joesley... e de tantos outros que de A a Z têm para todos os gostos.

Os salários dos juízes – Atualíssimo, só que em outro cenário, no Brasil que fala em diminuir despesas, em conter gastos, em crise, em cortes, em sacrifícios para o povo, mas mantém intactos os altos salários dos juízes, com seus 60 dias de férias, mais o período de recesso, além de gratificações, indenizações, verbas e ajuda de custos. Um pacote de benefícios que inclui alimentação, transporte, plano de saúde e – pasme o leitor – auxílio moradia, num quadro absolutamente incompatível com a República.

Reportagem da Revista Época, de junho de 2016, ressalva “não ser ilegal”, mas observa que “alguns juízes chegavam a se perguntar: É correto?”.

Outra visão – A rigor e à luz apenas dos rendimentos, o ganho dos magistrados, comparado à responsabilidade do cargo, não é nada absurdo. Contudo, penduricalhos à parte, o inconcebível está no momento-Brasil, que faz com que um excelente salário seja impróprio num País em que um trabalhador-chefe de família assista sua família viver em condições sub-humanas e seus filhos passarem fome em prol da cota de sacrifício contra a crise.

Já no legislativo e executivo a coisa toda é muito pior, bem como o nível de privilégios. No Brasil em que o pobre fica cada vez mais pobre para pagar com sangue e com fome as mordomias dos políticos, parlamentar tem vida de czar. Exemplo escandaloso é o do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que gastou mais de R$ 600 mil em voos para voltar para casa. Foram inacreditáveis 117 voos só até julho.

O ministro Henrique Meirelles usou, apenas no 1º trimestre do ano, 27 vezes os aviões da Força Aérea Brasileira em viagens para casa, alegando “questão de segurança”. Eliseu Padilha, igualmente de janeiro a março, fez 21 voos. Todos indo ou partido de Porto Alegre, onde mora, sendo ele o único passageiro.

Diárias de 15 mil Euros – Além dos requintados jantares nos salões palacianos de Brasília, ainda esta semana tivemos mais um exemplo de como é usado o dinheiro do contribuinte. Em luxuosa viagem para Lisboa, o presidente Michel Temer e sua comitiva se hospedaram no exclusivo Ritz Four Seasons, cujas diárias nas suítes mais caras chegam a 15 mil Euros.

De volta ao suposto alívio de estar com agosto pelas costas e setembro à frente, vemos que, na verdade, coisas boas, más, indiferentes e até ridículas sucedem independente do mês. No agosto que passou, Temer, distribuiu bilhões em emendas e cargos para se salvar. Contudo, o procurador Rodrigo Janot promete outra denúncia para este mês, que pode ser um ‘setembro negro’ para o povo, mas de pura festa para os parlamentares.

Depois de quase dois anos de tormenta, foi num agosto que o governo do Rio colocou em dia os salários dos servidores. Viu? Agosto! Na economia, dados confirmam que o Brasil acaba de sair da recessão. De novo, agosto!

Em Campos, se agosto foi palco de greve por parte dos servidores, por outro lado foi o mês em que a prefeitura lançou algo genial: contratou uma empresa para gerar crédito e aumentar a receita do município. Fantástico! Delegou a terceiros o que, originalmente, é dever de suas pastas, particularmente Fazenda e Controladoria. Só falta agora encaminhar a solução para Meirelles e estará dado o primeiro passo para conter o déficit público do País.

Se pesquisa anterior conferiu ao governo Rafael Diniz 82% de avaliação positiva, se fizerem outra... ah, vai pra lá dos 90%. Com certeza!

Futebol e quadras – Para felicidade do Brasileirão, agosto foi também o mês que o Corinthians finalmente perdeu. E duas vezes. Nada contra o Timão, mas é que tem os outros pobres mortais tentando alguma coisa. E também – como não citar – o retorno da maravilhosa Maria Sharapova às quadras em torneio de Grand Slam, o US Open.

Por fim, para quem volta correndo pra casa toda vez que cruza com gato preto na rua, então não tem agosto bom que dê jeito.

Agora num texto de maior seriedade, de assunto já abordado aqui há alguns anos – sem, contudo, qualquer pretensão de documentar fatos catastróficos ao redor do mundo –, registre-se que, ao contrário do que se costuma pensar, não pertence a agosto as tragédias mais marcantes.

Já de início, vai para setembro a maior catástrofe (até aqui) do século 21: o ataque ao WTC, conhecido como “ O 11 de Setembro”. Também sobre o mês recai o pior conflito da humanidade, que matou 100 milhões de pessoas: a 2ª Guerra Mundial, iniciada em 1º de setembro de 1939, quando a Alemanha invadiu a Polônia. Já a 1ª Guerra começou num julho, dia 28, de 1914.

Catástrofes e desastres – O maior desastre natural deste século, que matou 15 mil pessoas, aconteceu em 11 de março de 2011: o tsunami no Japão. Também em março, só que no dia 27 (1977), o pior desastre da história da aviação mundial, deixando 583 mortes na colisão de dois aviões, na Espanha.

Salvo erro de pesquisa, de 1950 a 2017, os 13 piores acidentes na aviação brasileira, inclusive o do ano passado com o time da Chapecoense (novembro), ocorreram fora do mês de agosto.

Incêndios e deslizamentos – Ainda no Brasil, nos últimos 50 anos, cinco das piores tragédias aconteceram fora de agosto. Em 17 de dezembro de 1961, o Gran Circus foi alvo de incêndio criminoso em Niterói, deixando mais de 500 mortos. Em fevereiro de 1974, o fogo no Ed. Joelma (SP), tirou 191 vidas. Em abril de 2010, o deslizamento no Morro do Bumba, em Niterói, mataria 267 pessoas. Um ano depois, em janeiro, 270 vidas foram soterradas na Região Serrana fluminense. Em janeiro de 2013, o incêndio na boate Kiss, em Santa Maria (RS), fez 242 vítimas fatais.

Acidentes, bombas e assassinatos – O Titanic afundou em abril de 1912 e o Dirigível Hindenburg em maio de 1937. Contudo, pesa sobre os ombros de agosto as bombas de Hiroshima e Nagasaki. Entre tragédias pessoais que abalaram o mundo, a Princesa Diana morreu em agosto, há 20 anos, num acidente automobilístico. Já outra princesa, Grace Kelly, perderia a vida também num carro, só que em setembro, 15 anos antes.

Agosto marcaria também as mortes misteriosas de Marilyn Monroe (05-08-62) e Elvis Presley (16-08-77). Já Getúlio Vargas tiraria a própria vida num 24 de agosto (1950) enquanto outro presidente, Juscelino Kubitschek, morreria num acidente suspeito, em 22 de agosto de 1976.

Assassinatos – Entre os assassinatos de maior repercussão, nenhum em agosto. Abraham Lincoln, em 15 de abril de 1865 e Martin Luther king, também em abril (1968). O presidente Kennedy em novembro (1963) e seu irmão, Bob, em 06 de junho de 1968. John Lennon foi morto em 08 de dezembro de 1980, na porta de seu apartamento.