Jane Ribeiro
02/09/2017 17:13 - Atualizado em 04/09/2017 15:02
“O Rio Paraíba do Sul esconde os peixes entre as pedras e o assoreamento não deixa a gente pescar como antigamente”. Esse é o desabafo de um pescador, que assiste ao principal rio do estado agonizar. Embora a seca tenha trazido ares de dramaticidade, o calvário do Paraíba do Sul vai muito além da aguda escassez de água em seu leito. O desmatamento de áreas ribeirinhas é considerado o maior responsável pelo processo de assoreamento, que faz surgir bancos de areia ao longo de seu curso. Para tratar da baixa vazão do rio em sua foz, no Norte do Estado, abordando causas, consequências e possíveis soluções, uma audiência pública será realizada nesta segunda-feira (4), às 13h, no anfiteatro 4 do Centro de Convenções da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), promovida pela Comissão de Representação em Defesa do Rio Paraíba do Sul da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).
Quem passa pelas margens do Paraíba, em Campos, observa que os bancos de areia desvendam o tamanho da estiagem deste período. Na última semana o nível do rio chegou a 4,55 metros, considerada abaixo do normal, que é de 5,80 metros.
Paulo Monteiro de Vasconcelos, de 56 anos, conhecido como “Paulinho da manjuba”, é pescador há mais de 45 anos e diz que não há como sobreviver mais da pesca. “Tem dia que a gente joga a rede e só aparecem dois, ou três peixinhos. Não tem como sustentar família com a pesca no rio. O Paraíba está morrendo aos poucos, muito assoreado, e os peixes se acabando. Às vezes fico torcendo para que desça água lá de cima para que possamos ter o que pescar. Muito triste essa situação”, declarou.
O objetivo da audiência pública é debater a baixa vazão do principal rio do estado em sua foz, no Norte do estado, abordando causas, consequências e possíveis soluções. Entre os principais temas a serem discutidos estão o avanço da água do mar para dentro do rio (intrusão salina), as dificuldades da captação de água doce para o abastecimento das cidades da região, os impactos sobre a pesca e o turismo, e o próprio avanço do mar sobre áreas do litoral.
O presidente do Comitê de Bacia Hidrográfica do Baixo Paraíba do Sul e Itabapoana, João Siqueira, ainda acredita que algo possa ser feito para recuperar o Paraíba. “Tem estudos que apontam que podemos amenizar o problema de assoreamento que hoje atinge o Paraíba. Um deles é a construção de cisternas que poderiam guardar água da chuva e quando o rio tivesse muito baixo. Outro ponto que pode ser levado em consideração é o incentivo ao projeto Piabanha, que consiste na criação de levinos em cativeiro para serem distribuídos ao longo do rio Paraíba. Essa audiência é importante para que as autoridades levem essa discussão para a esfera política e que algo seja feito para resolver o problema”, informou.
O ambientalista Aristides Soffiati, também vai estar presente na audiência. Ele informou que não acredita em solução a curto prazo. “A degradação é antiga e não há solução imediata para o rio Paraíba. As pessoas querem solução rápida, gratuita e eficiente, e isso não vão acontecer se não tiver lei que barre toda essa deterioração”, disse.
SJB também sofre com assoreamento
São João da Barra sofre o maior impacto socioambiental, cultural e econômico causado pela diminuição da vazão do rio Paraíba do Sul e o avanço do mar. Um processo erosivo costeiro que persiste desde a década de 1960 e o assoreamento ao longo do rio, principalmente na Foz, no Pontal de Atafona, se intensificou ao longo dos últimos meses.
O secretário de Meio Ambiente e Serviços Públicos de São João da Barra, Alex Firme, participou do V Encontro Estadual de Comitês de Bacias Hidrográficas do Rio de Janeiro (Ecob/RJ), em Paraty, na última quarta-feira (30). A ideia foi, através de um vídeo, apresentar os problemas e os diversos impactos que Atafona vem sofrendo e sensibilizar os órgãos federais e estaduais, com apoio de instituições e dos Comitês de Bacias Hidrográficas, na busca de recursos financeiros e realização de ações necessárias.
— Redução da faixa de areia, dificuldade de navegabilidade, perda de manguezais, assoreamento, alagamentos, salinização da água do rio, destruição de casas, comércios e ruas, são alguns dos problemas que precisam de solução para que Atafona não perca ainda mais sua extensão territorial e cesse o sofrimento de pescadores, comerciantes e da população de um modo geral — ressaltou Alex.
Dr. Julianelli quer ouvir diferentes visões
Presidida pelo deputado estadual Dr. Julianelli, a Comissão vai ouvir especialistas e lideranças locais. O evento contará também com a participação do Comitê de Bacia Hidrográfica do Baixo Paraíba e do Fórum Fluminense de Comitês de Bacias Hidrográficas e prefeitos da região.
Para Dr. Julianelli é essencial que a audiência seja no Norte do Rio de Janeiro. “Esta é uma grande oportunidade para conhecer as diferentes visões do problema por parte dos diversos segmentos atuantes na região e, a partir daí, contribuir para a implantação das medidas mais pertinentes”.
Outras audiências públicas serão agendadas pela Comissão de Representação na Alerj e no Sul Fluminense.
Em relação à atividade pesqueira, a Superintendência de Pesca e Aquicultura informa que vem dando total apoio aos pescadores, a começar pela regularização de documentos que comprovem a atividade, grande dificuldade da categoria. Através de parceria com entidades como Emater, Pesagro e Fiperj, também, tem oferecido capacitação.
A superintendência também vem acompanhando de perto a situação dos profissionais que passaram a desenvolver a atividade agrícola na Ilha dos Pescadores, como forma de garantir um reforço na renda familiar. “Pela escassez de pescado, principalmente, no rio Paraíba, a superintendência vem apoiando esses pescadores na qualificação para que iniciem a criação em cativeiro, como acontece em alguns assentamentos, como no Zumbi 3 e no Assentamento Che Guevara, atendendo necessidade daqueles que vivem da atividade no rio Paraíba”, disse o superintendente adjunto, José Armando Barreto, lembrando que é importante que eles tenham acesso à terra para que sejam implantados tanques de produção de peixes. Quem já tem os tanques, está produzindo em cativeiro.