Luquinha, o herói da rua do Gás
Matheus Berriel 19/09/2017 17:56 - Atualizado em 22/09/2017 16:43
Enquanto o elenco do Goytacaz se reapresentava na tarde desta terça-feira (19), no estádio Ary de Oliveira e Souza, para iniciar a preparação pra final da Série B1 do Campeonato Estadual, os garotos da escolinha do clube treinavam no campo, ainda distantes dos holofotes do cenário profissional. No último sábado (16), além dos ídolos Neymar, Messi e Cristiano Ronaldo, eles ganharam outro jogador em quem se inspirar, este bem mais próximo de seus olhos de menino: o jovem Lucas da Cruz Bonifácio, o Luquinha, de 20 anos, cria do clube e autor do gol da vitória por 1 a 0 sobre o rival Americano, que tirou o Goyta da fila após duas décadas e meia longe da primeira divisão.
A ligação de Luquinha com o futebol começou aos nove anos de idade, quando entrou em uma escolinha em Outeiro, pequeno distrito de Cardoso Moreira, onde morava. A chegada ao Goytacaz aconteceu em 2014, aos 17 anos, para disputar uma competição de base em São Paulo. Com o objetivo de diminuir a viagem diária para treinar no novo clube, se mudou para o distrito de Travessão, em Campos.
Atacante Luquinha
Atacante Luquinha / Antônio Leudo
Com boas atuações, no ano seguinte, o atacante, então com 18 anos, logo começou a ser observado pela comissão técnica da equipe profissional. Porém, na época, já havia terminado o prazo para inscrição de jogadores na disputa da Série B do Rio. Desta forma, Luquinha só foi integrado ao time de cima aos 19. Entre uma participação e outra nos jogos, fez quatro gols e, para ganhar experiência, foi emprestado, no início deste ano, ao Campos Atlético Associação, que disputou a primeira fase da Série A. Nos três meses de vínculo, Luquinha não conseguiu impedir a queda do Roxinho na denominada “Seletiva”, mas voltou ao Goytacaz com status de joia em lapidação.
A chegada do técnico Paulo Henrique ao Goyta foi boa para o jovem, que ganhou a vaga no time titular e, nas duas primeiras rodadas da Taça Santos Dumont, balançou a rede nas vitórias sobre o Friburguense e o Serrano. Durante o primeiro turno, ainda marcou mais duas vezes, sendo peça chave na campanha do título invicto. Já no returno, sofreu uma lesão, mas, apesar de ter ficado no banco em alguns jogos, soube ser reserva e foi importante quando atuou, principalmente após a ida do Oliveira para o futebol árabe e a lesão do artilheiro Igor, que o tirou do campeonato.
— Quase sempre fui titular, mas tive paciência quando me machuquei e precisei ficar de fora. O Igor e o Oliveira são grandes jogadores, fizeram a diferença, mas saíram. O professor colocou o Luan de atacante e ele fez vários gols. O Rodriguinho também entrou e foi bem. Todos os jogadores do elenco têm a mesma importância. Nosso grupo é muito fechado, muito unido — disse Luquinha, que passou em branco na Taça Corcovado.
Na reta final da fase classificatória do segundo turno, o jovem jogador já havia retomado a vaga no time titular. Porém, por opção técnica, acabou ficando no banco na semifinal geral da Série B1. Só foi entrar aos 21 minutos do segundo tempo, quando o Americano já segurava o empate que o dava a vaga na elite. Com poucos instantes em campo, Luquinha levou um cartão amarelo. O placar ainda ficou zerado até o minuto 44, para delírio dos torcedores mais apaixonados.
Garotos da escolinha alvianil
Garotos da escolinha alvianil / Antônio Leudo
— Antes de eu entrar em campo, um amigo meu, torcedor do Americano, falou que já era, que não dava mais para a gente. Por dentro, eu comecei a ficar nervoso. No quarto da concentração, eu tinha falado com o Lorran e o Gabriel que um atacante ou meio-campista que não sonha em fazer gol num jogo decisivo, não é um jogador. Eu, graças a Deus, sonhei e realizei o meu sonho. Até agora, não parei para pensar direito. Só sei que, na hora do gol, eu chutei e saí correndo, comecei a chorar, comecei a pular. Não sabia o que fazer. Até hoje, a ficha não caiu. Ainda não dormi direito — afirmou o novo ídolo alvianil.
No retorno de Nova Friburgo, cidade onde aconteceu o clássico, para Campos, Luquinha foi recebido nos braços da torcida, que atravessou a noite de sábado comemorando o acesso. Ainda tentando assimilar a virada repentina em sua vida, a pedido da reportagem, narrou com timidez o gol mais esperado pelos torcedores do Goyta nos últimos 25 anos: “Sobrou a bola na área, Luquinha partiu, chutou e é gol. É gol. Subiu o Goytacaz!”. O resto, incluindo a expulsão por ter tirado a camisa na efusiva comemoração, é história.
Sem Luquinha, que cumprirá suspensão, o Goyta iniciará, na próxima terça-feira (26), a busca pelo outro objetivo na temporada: o título da Segundona Estadual. O adversário da decisão será o America, campeão da Taça Corcovado, que nesta terça-feira venceu o Audax Rio por 2 a 0 e também garantiu seu acesso. A primeira partida acontecerá no Rio de Janeiro. Já a segunda, que marcará o retorno de Luquinha, será disputada dia 30, no Aryzão.
— São dois jogos. No primeiro, eu estou fora. Mas, com certeza, quem entrar no meu lugar, vai dar o máximo. Decidir em casa vai ser importante. Eu sempre falei que, quando o torcedor começa a cantar, começa a empurrar, a gente fica arrepiado dentro do campo e corre cada vez mais — encerrou o herói da rua do Gás.

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