Decisão em Friburgo findou a paz
Matheus Berriel 18/09/2017 18:36 - Atualizado em 20/09/2017 15:20
Estádio Ary de Oliveira e Souza
Estádio Ary de Oliveira e Souza / Antônio Leudo
O ano de 2017 foi um prato cheio de pimenta em relação à centenária rivalidade entre Americano e Goytacaz. Com três clássicos durante a Série B1 do Campeonato Estadual, dois deles decisivos, com classificações e acesso em disputa, já era de se esperar que os ânimos ficassem alterados por parte das torcidas. Dentro de campo, foram duas vitórias do Goyta, justamente nos confrontos eliminatórios, e um empate. Mas a relação esquentou mesmo nos bastidores, com direito a xingamentos do presidente alvianil, Dartagnan Fernandes, direcionados a diretores alvinegros após o tão esperado retorno à primeira divisão.
Em março, o prefeito Rafael Diniz festejou um feito histórico ao reunir representantes das diretorias do Americano e do Goytacaz, além do Campos Atlético Associação, para selar o Protocolo de Intenção que previa medidas de resgate à tradição do futebol campista. Entre elas, ficou definido que o estádio Ary de Oliveira e Souza, do Goyta, receberia também os jogos do Cano na Segundona, evitando que o rival, que ainda não concluiu a construção de seu novo estádio, tivesse que mandar suas partidas em outro município. Dartagnan estava presente na reunião, bem como o presidente rival, Carlos Abreu.
O primeiro encontro entre Americano e Goytacaz, na Série B1, aconteceu no dia 05 de julho, quando os donos da casa, que precisavam jogar apenas pelo empate, por terem feito a melhor campanha da fase anterior, ignoraram a vantagem e se classificaram para a final do primeiro turno ao vencerem por 2 a 1, com gols do artilheiro Igor e do zagueiro Cleiton. Thiago descontou. Os piores relatos ficaram para fora das quatro linhas. Antes do jogo, houve um princípio de confusão, quando a torcida do Americano passou correndo no meio dos torcedores do Goytacaz. Já depois do apito final, o diretor do setor administrativo do Cano, Ciro Andrade, foi agredido e roubado por torcedores do Goyta.
Dartagnan Fernandes
Dartagnan Fernandes / Rodrigo Silveira
Em 12 agosto, o clássico voltou a acontecer, de novo no Aryzão, pela sétima rodada do segundo turno, com mando de campo do Americano. Em partida morna, o placar não saiu do 0 a 0. As emoções foram reservadas para o encontro mais importante, no último sábado (16), pela semifinal da Série B1. Dono da segunda melhor campanha geral, desta vez foi o Americano quem entrou com a vantagem do empate, além de ter o direito de indicar o estádio. Depois de tentativas sem êxito de levar o clássico para o Ferreirão, em Cardoso Moreira, e o Moacyrzão, em Macaé, ficou definido o Eduardo Guinle, em Nova Friburgo. O motivo apresentado, segurança, não convenceu a torcida do Goytacaz, muito menos os jogadores e a diretoria. Para piorar, na quinta-feira (14), foi publicada no site do Americano uma suposta declaração do técnico João Carlos Ângelo provocando o rival: “O nosso adversário está fazendo bodas de prata na Série B”. Horas depois, o clube divulgou uma nota alegando ter sido alvo de hacker.
Mesmo contra a vontade, o Goyta viajou para Friburgo e voltou vitorioso por 1 a 0, com gol marcado pelo jovem Luquinha, aos 44 minutos do segundo tempo, confirmando o acesso depois de 25 anos de espera. Após o jogo, em entrevista à Web Rádio Jovem Carioca, o presidente alvianil comemorou o feito e atacou de forma ríspida os diretores Fábio Rangel e Luciano Viana, do Americano.
— Eu acho que, na realidade, o mal nunca vence o bem. Nós fizemos um time com amor, com carinho. Esse pessoal do Americano tem dois diretores que têm que ser banidos do futebol: seu Fábio Rangel e seu Luciano Viana. São dois vermes que têm que ser banidos do futebol. O Goytacaz não merecia jogar aqui. Venceu aqui. Nós, hoje, estamos na primeira divisão. É um absurdo sair de uma cidade com ‘670 mil habitantes’ e trazer esse jogo para aqui. Não desmerecendo a praça de esportes do Friburguense, mas é o maior absurdo, foi o maior crime que eles cometeram com a cidade de Campos, e perderam — disse Dartagnan.
Com a eliminação na Série B1, em 2018, o Americano terá que amargar o sexto ano seguido na segunda divisão do Rio. Em compensação, como está na final da Copa Rio, já garantiu presença em uma competição nacional — a Copa do Brasil ou a Série D do Campeonato Brasileiro. No que depender de Dartagnan, os jogos do Alvinegro acontecerão longe do estádio alvianil.
— Hoje, eu posso dizer: nós estamos na primeira divisão e eles vão continuar na segunda. E vão jogar na p... que pariu. Lá dentro, não jogam. Enquanto o Dartagnan for vivo, o Americano não joga mais lá dentro. Porque foi uma das maiores sacanagens o que o Americano fez com o Goytacaz. E o Goytacaz venceu. Fez tudo o que podia fazer para estar aqui, em Friburgo, comemorando essa vitória — completou.
Diretores do Cano vão acionar a justiça
Procurado pela equipe de reportagem da Folha, o diretor de Futebol do Americano, Luciano Viana, disse que vai acionar a justiça para lidar com o caso. “Ele vai ter que responder judicialmente. O mando de campo era do Americano, e o Americano decide aonde quer jogar; não é obrigado a jogar onde não quer. Quando eu estiver pessoalmente com ele, vou perguntar e espero que ele repita isso para mim”, afirmou, acusando ainda o Goytacaz de estar devendo uma quantia não divulgada em relação a um acordo para a divisão da renda nos clássicos. A reportagem não conseguiu entrar em contato com o outro diretor atacado, Fábio Rangel.
Decepcionado por ter batido na trave no objetivo de subir o Americano, mas bastante diplomático, o presidente alvinegro, Carlos Abreu, emitiu uma nota pública aos torcedores e, ao invés de aumentar a polêmica, preferiu parabenizar o clube rival pelo acesso.
— Espero que os diretores do Goytacaz, em especial o presidente Dartagnan, tenham muito serenidade para conduzir esse processo do acesso, sobretudo porque o clube estará representando Campos e a todos nós na elite do futebol. Acho importante ele ter discernimento, tranquilidade, uma postura ética e séria nesse momento. Desejo a ele boa sorte, e que pense bastante antes de ficar fazendo esse tipo de situação. Não é bom para a cidade — destacou.
Questionado sobre as dívidas do Goytacaz com o Americano, Carlos Abreu reiterou que existem, mas não quis entrar em detalhes. “A gente tem um crédito a receber. Vamos apurar e divulgar com mais calma. Não é nem o momento, para não parecer que a gente está querendo criar inimizade. Não é o nosso perfil. Já foi reconhecido pelo vice-presidente (do Goytacaz) Carlinhos Barreto que há um débito a ser pago. Enfim, a gente vai tentar, da melhor maneira, receber esses valores. A vida tem que seguir”, salientou.
À Folha, o presidente do Goytacaz confirmou todas as informações da polêmica entrevista na rádio e aproveitou para dar mais uma alfinetada. “O que o Goytacaz sofreu de humilhação, o que eu sofri... Agora, que ironia do destino. O nosso campo não serviu para fazer a semifinal, mas vai servir para a final”, disse. Sobre a questão da dívida com o rival, alegou que esta não existe mais. “Isso existiu. A renda do último jogo toda ficou com eles. Então, agora, não existe mais. Eles é que precisam apresentar o borderô para se saber o crédito que o Goytacaz tem agora”, completou.
Longe do Aryzão, o Americano, que espera ter seu estádio pronto no final de 2018, deverá mandar seus jogos do próximo ano em Cardoso Moreira, como fez em 2016. A cidade, inclusive, deve receber o jogo de volta da decisão da Copa Rio, contra o Boavista, no dia 27 deste mês. Por enquanto, o Alvinegro quer deixar a derrota na semifinal para trás e focar no título que ainda disputa neste ano. O primeiro duelo com o Boavista está marcado para a próxima quinta-feira (21), às 15h, no estádio Elcyr Resende de Mendonça, em Saquarema.

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