Paulo Renato Pinto Porto
23/09/2017 16:34 - Atualizado em 26/09/2017 15:07
A indústria açucareira sempre guardou estrita vinculação com a história econômica e a formação social/cultural de Campos, desde o ciclo histórico do açúcar no período do Império. A região chegou a somar 21 usinas de açúcar, quantitativo que despencou para 13 unidades nos anos 80, até chegar às atuais três unidades que ainda assim operam com 60% da capacidade ociosa. Desde então, a locomotiva maior da economia local, a ponto de gerar mais de 60 mil empregos, hoje registra em torno de 4 mil postos de trabalho.
Passado o apogeu do fausto período, restou o legado da beleza dos solares construídos quando o açúcar fazia a fortuna dos barões e era um dos escassos produtos de exportação da balança comercial brasileira.
Agora, além da beleza dos históricos casarões, é hora de tarefa mais árida como desbravar os obstáculos, enfrentar a realidade concreta e os desafios pela subsistência do setor bem como a manutenção e fortalecimento das atuais unidades produtivas.
Assim, o segmento partiu da intenção para a ação, a partir a partir da realização do RioAgro Cana, na quinta-feira, no auditório da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), prenúncio de um divisor de águas para a reação do segmento.
Durante o evento, um rico desfile de informações e análises de especialistas em painéis sobre temas como “Produção, Mercado e Crédito Rural”, “Recuperação de Canaviais”, “Inovação”, e “Irrigação e Recursos Hídricos na expansão da produção”.
— Estamos trazendo para o produtor de cana do Estado do Rio tecnologias, técnicas que estão sendo aplicadas em grandes centros produtores—, assinala o presidente do Sindicato da Indústria Sucroenergética do Estado do Rio (Siserj), Frederico Paes.
Produtores e especialistas concluíram que, entre os maiores obstáculos para a reação do setor, está a escassez de chuvas, quadro comparado às longas estiagens do semiárido nordestino.
Paes considerou ainda que o momento é esquecer a crise e partir para o trabalho visando a recuperação do setor.
— Vamos esquecer a crise e trabalho. Temos muitas novidades para recuperar o setor, como mais variedades de cana, novas técnicas de plantio, utilização de drones nas lavouras. E também o protótipo de uma colheitadeira feita por um grupo alemão especialmente para o perfil do pequeno produtor de nossa região. Em pouco tempo, ela vai ser produzida em série e revolucionará a colheita da cana crua — afirmou.
Outra boa notícia vem do Banco do Brasil, que disponibilizou mais de R$ 200 milhões para empréstimos a pequeno, médio e grande produtor, com taxas mais acessíveis, como mostrou o assessor da superintendência da instituição.
Outra alternativa foi destacada por Daniel Granuzzo, da Organização das Cooperativas do Brasil, ao salientar que um dos incrementos em negócios hoje pode ser através do cooperativismo.
A necessidade da melhoria do solo foi enfatizada pelo agrônomo da UFRRJ, Josiel de Barros, entre outros pontos, como melhoramento genético, tratos culturais e adubação. Mas Jozil ressaltou a questão da escassez de água.
— Somos heróis trabalhando nessas condições. O problema não é o produtor, não é o solo, mas a escassez de chuvas — disse.
Ao discorrer sobre o tema “Potencial de novas variedades para a região”, Jozil destacou que “com produtividade baixa não há como fazer frente aos custos de produção”. Ele ressaltou também a necessidade de aplicação de tecnologia e tratos culturais.
A hora da superação dos obstáculos
O agrônomo Willian Pereira lembrou que, ao longo do tempo, foram abandonadas algumas práticas antes utilizadas, entre elas a instalação de viveiros de mudas, além do controle fitossanitário, entre outros.
O segmento urge reagir. Em 2015, devido à falta de matéria-prima, as três unidades desistiram de moer. Este ano, estima-se moagem de um milhão de toneladas, realidade diferente de 30 anos atrás quando oito usinas chegaram a moer quase nove milhões de toneladas.
A partir da semente plantada com o RioAgrocana, o presidente do Siserj espera que os frutos sejam colhidos com o esforço conjunto de todos os envolvidos para a superação dos desafios.
— Agora precisamos de apoio governamental para continuar o trabalho, porque não adianta apresentar tecnologias e não aplicar. E a importância dessas parcerias é fundamental — finalizou Frederico Paes.