Jhonattan Reis
30/09/2017 15:15 - Atualizado em 06/10/2017 18:41
A ambientação é do ano de 1973, período de chumbo da Ditadura Militar. A história é de uma família do interior que, dividida pelas diferenças políticas, morais e ideológicas, precisa lidar com os problemas do presente e os fantasmas do passado. E a encenação acontece no Teatro de Bolso Procópio Ferreira, em Campos. O espetáculo “As Pessoas na Sala de Jantar”, com texto de Eugênio Soares, chega, hoje (1º), ao seu terceiro dia em cartaz, com sessão às 20h. A montagem, que tem direção de Fernando Rossi, ainda pode ser conferida no próximo fim de semana, entre quinta (5) e domingo (8), sempre às 20h. Os ingressos custam R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada), e a classificação indicativa é de 16 anos.
— O texto é incrível, tem personagens fortes e temáticas super atuais — destacou Fernando Rossi, continuando: — Após Eugênio fazer o convite para a gente realizar a montagem, o elenco começou, em março, com o processo de estudos, porque o espetáculo é cheio de referências históricas. Em maio, começamos a montagem em si. E foi um processo muito bacana de se passar. É muito bom encenar um trabalho de um homem que é amigo, talentoso e campista. É mais um talento da nossa terra. O texto é muito crítico e inteligente. Ele trata de questões importantes de uma forma muito poética e bonita. Acho que as pessoas vão se emocionar bastante com o texto. É um espetáculo bonito e que merece ser visto.
Em “As Pessoas na Sala de Jantar”, Anete, a irmã mais velha, solteirona lacerdista que cuida da tia idosa — uma apaixonada varguista —, recebe a visita das irmãs, chamadas Rosa e Maria, para um jantar, sendo que ela pretende contar uma novidade que afetará a vida de todas elas. A experiência de envelhecer é um dos eixos da comédia dramática, que coloca o público diante do fato de que a idade, por mais arbitrária que seja, traz consigo a compreensão de que a vida tem uma duração e de que as pessoas não dispõem de todo o tempo do mundo. Numa abordagem delicada e irônica, o texto ainda retoma várias questões que estavam em evidência no início dos anos 1960, como repressão sexual, censura, relação aberta, tortura, divórcio e feminismo.
No elenco, estão Eliana Carneiro, Rosângela Queiroz, Luciana Rossi, Liana Velasco, Sérgio Risso e Laíza Dias. A iluminação é de Fabrício Simões, a pesquisa de som do grupo e a operação de som de Vitor Mineiro. A concepção cenográfica é de Leonardo Pereira e a cenografia de Almir Junior e Leonardo Pereira, sendo o figurino, a maquiagem e o visagismo de Luciano de Paula. A peça ainda conta com o design de arte de Mariangela Honorato e a produção executiva de Alexandre Ferram.
Nascido em Campos, onde vive até hoje, Eugênio Soares é autor de outros textos para teatro como “O Inferno São os Outros”, “A Verdade Sobre a Bomba” e “Nenhuma Semelhança é Mera Coincidência”. Sobre “As Pessoas na Sala de Jantar”, ele comentou:
— É um texto muito recente, finalizado entre o ano passado e este ano. Ele trata de uma década específica, mas tem uma pegada em relação a outras décadas também. Como havia um tempo que não escrevia nada para teatro e como sabia que Fernando Rossi estava querendo um texto para encenar, fiz o convite a ele e aos atores para levar “As Pessoas na Sala de Jantar” para a cena. É um texto que fala de um tempo passado, mas com questões que ainda são presentes, como o feminismo e a questão de gênero, além de tratar, ainda, da questão da velhice num país como o Brasil.
De acordo com Rossi, este é o sexto texto de Eugênio Soares encenado por ele.
— A primeira parceria minha com Eugênio, montando um texto dele, ocorreu em 1998, com “A Sauna”, que fez muito sucesso no Teatro de Bolso. Lembro que nós fazíamos parte de um grupo que foi bem importante no cenário cultural da cidade nos anos 1980, que foi o “Gente é Pra Brilhar, Não Pra Morrer de Fome”. Desde essa época, cada trabalho com ele trouxe uma experiência diferente. Eugênio sempre foi um cara muito criativo e cheio de ideias. É sempre bom trabalhar com ele — concluiu.