Campos de Dilma a Michel Temer
Aluysio Abreu Barbosa e Paula Vigneron 26/08/2017 18:51 - Atualizado em 29/08/2017 14:30
Paulo Feijó
Paulo Feijó / Folha da Manhã
Duas vezes vereador em Campos e deputado federal em quinto mandato, não se conta a história política do município ou da região sem se falar em Paulo Feijó. Engenheiro aposentado da Rede Ferroviária, ele planeja também pendurar as chuteiras na disputa de eleições. E acena com a possibilidade de passar o bastão para o empresário Marcelo Mérida, presidente da Federação Fluminense das Câmaras de Dirigentes Lojistas (CDLs), cuja pré-candidatura à Câmara Federal Feijó garante não ser um plano B do garotismo. Nesta entrevista, o deputado revelou os bastidores nebulosos dos interesses de Campos jogados na mesa de negociação do impeachment de Dilma Rousseff (PT) e tentou justificar seu voto contra a investigação de Michel Temer (PMDB). Feijó admitiu a candidatura de apoio a Rosinha Garotinho (PR) em 2008 e falou sobre sua condenação pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Folha da Manhã – Você foi condenado no Supremo Tribunal Federal (STF) a 12 anos e meio de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, por conta do envolvimento na operação Sanguessuga, da Polícia Federal (PF). Como está seu recurso?
Paulo Feijó – Eu tenho 30 anos de vida pública. Eu fui vereador duas vezes e, pela quinta vez, eu sou deputado federal. Então, nesses meus 30 anos de vida pública, eu tive essa mancha na eleição de 2002. Através de um ex-funcionário, um empresário me deu uma ajuda irrisória para aquela campanha.
Folha – Irrisória de quanto?
Feijó – Na época, acredito que tenha sido uns R$ 50 mil, R$ 60 mil. E isso se transformou em uma tragédia na minha trajetória política. Esse escândalo, na época, envolveu mais de 100 parlamentares e mais de 200 assessores de parlamentares. Então, foi um escândalo envolvendo 300 pessoas.
Folha – Você chegou a ser expulso do PSDB na época?
Feijó – Não. O PSDB me ameaçou de expulsão. O fato foi em 2002 e estourou em 2006. Então, me antecipei e me desfiliei. Deixei de ganhar uma eleição em 2006, que, praticamente, estava ganha. Fiquei sem mandato. Aí, começou o meu sofrimento em relação a esse caso. Desses 100 parlamentares e mais os outros 200 assessores, acredito que eu tenha sido, talvez, o único condenado.
Folha – Por quê?
Feijó – Porque o meu caso, por eu ser deputado, foi para o Supremo Tribunal Federal (STF).
Folha – Não havia mais deputados?
Feijó – Mas não foram julgados ainda.
Folha – O único julgado e condenado, no caso, é você?
Feijó – É. Teve outro deputado que foi condenado, mas, pela idade, prescreveu. Mas o meu julgamento, pela primeira turma, aconteceu em um momento de muita tensão entre Judiciário, Ministério Público e classe política. E esse caso meu também foi a julgamento porque estava próximo, muito próximo, da prescrição. Decisão judicial não se discute, e eu não vou discutir. Está entregue aos advogados. Cabem vários recursos. Eu acredito na reversão porque, no meu modo de ver, isso é um absurdo. Porque, primeiro, não tem nada que comprove esse meu envolvimento. Eu achava que ia ser absolvido por falta de provas. Depois, eu achava que essa questão ia prescrever. Mas justamente essa pressão do momento foi o grande dificultador para que eu sofresse esse revés. Mas está entregue aos advogados. Eu tenho fé em Deus e certeza absoluta de que nós vamos reverter. Eu jamais imaginava, na minha vida política, passar por uma situação dessas, viver um momento desses. Mas a política tem disso. Ela é cruel. Só que a gente acha que ela vai ser cruel com os outros. Mas não. Ela é cruel com todos que fazem, hoje, vida pública. Mas eu acredito em uma decisão favorável nos recursos que ainda nos cabem.
Folha – Você tem dito que seu mandato de deputado federal será o último que disputará a cargo eletivo. Há possibilidade de ser preso com a perda do foro privilegiado?
Feijó – Essa questão de foro privilegiado, eu divirjo de muitas pessoas quando dizem que isso é um privilégio. Eu estou dando um exemplo: os mais de 300, praticamente, que foram julgados em primeira e em segunda instâncias, foram absolvidos. Por ser deputado e ter foro privilegiado, isso me prejudicou. Porque, se eu tivesse na primeira instância, a tendência era eu ser absolvido como os outros foram. Eu tenho certeza de que serei absolvido porque, nesse episódio, como disse, não tem nada que comprove meu envolvimento. Eu fui vítima de um escândalo e fui vítima, também, de um grupo criminoso que acompanhava as emendas dos deputados. Nunca fiz pedido a nenhum prefeito ou a nenhum diretor de hospital para comprar com a empresa A, B ou C. Já trouxe milhões e milhões de reais para a minha região. Nunca tive esse tipo de envolvimento. Realmente, foi um episódio isolado desses meus 30 anos de vida pública que, com certeza, nós vamos resolver favoravelmente.
Folha – Não é novidade seu afastamento de Anthony Garotinho (PR). Na verdade, ele ocorre desde que o ex-governador plantou junto ao jornalista Fernando Molica, de O Dia, a notícia de que você votaria contra o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), ao contrário do que ocorreu. Passado mais de um ano do episódio, o que de fato se deu ali?
Feijó – Naquela questão, eu já tinha decidido que votaria a favor do impeachment de Dilma. Eu tenho personalidade formada e sou independente politicamente. Sou um político que, nesses meus 30 anos de vida pública, nunca fui pau mandado de ninguém. Então, eu já tinha essa decisão tomada. Na época, Garotinho tinha um interesse a favor de Dilma. Ele me fez um pedido, mas eu falei que já tinha minha decisão tomada em relação a isso. E foi o que fiz. Eu votei a favor do impeachment.
Folha – Foi um encontro na sede do PR, em Brasília, não foi isso?
Feijó – Teve um encontro lá. Ele pediu, em função daquele momento. Tinha a questão dos royalties, da antecipação...
Folha – Da “venda do futuro”.
Feijó – É. Mas eu não atendi. Falei: “Garotinho, não tem como”.
Folha – Você disse não?
Feijó – Eu falei “não” e acredito que ele tenha entendido.
Folha – Boa parte da mídia nacional, a começar pelo jornalista e blogueiro Ricardo Noblat, de O Globo, noticiou que Garotinho negociou com a então presidente Dilma a abstenção de Clarissa, grávida, na votação do impeachment na Câmara Federal. O preço pago seria a “venda do futuro” de Campos com a Caixa Econômica Federal, no apagar das luzes do desastroso governo Dilma. Como viu o destino financeiro do município ser jogado na mesa de negociação por uma causa que já se sabia perdida?
Feijó – Eu não sei se isso realmente aconteceu porque eu também não participei...
Folha – A mídia nacional noticiou.
Feijó – É. Mas eu não posso garantir. Eu não posso dizer que isso aconteceu porque eu não participei.
Folha – Mas você acabou de dizer que ele falou com você que o voto contra o impeachment de Dilma seria relativo à “venda do futuro”.
Feijó – Ele pediu para que eu pudesse votar porque, para esse projeto dele, seria importante. Falei: “Eu não posso te atender nisso”. E não atendi. Mas se ele negociou com o Planalto o voto de Clarissa, eu não sei.
Folha – Mas, se ele colocou isso para você, não é natural que ele tenha colocado o mesmo à filha?
Feijó – Bem, ele pode ter colocado. Mas, o pedido que ele me fez, eu não pude atender e não atendi. E, depois, ele nem me questionou em relação a isso. Eu não tive problema com ele após a votação. Ele não me cobrou nada. Então, não posso dizer...
Folha – Mas, se ele fez com você, não é natural que ele tenha feito com a filha?
Feijó – Ele pode ter tido os interesses dele, sem dúvidas. Deve ter conversado com o governo (Dilma). Eu não tenho informação em relação à situação da Prefeitura. Não tenho dados nem de hoje, nem da época do governo de Rosinha. Agora, se a Prefeitura realmente estava naquela situação, precisando do empréstimo, ele achou que deveria seguir esse caminho de fazer parceria com o governo, no sentido de liberar esses recursos. Mas eu não posso avaliar porque não vivi esse momento. Eu não tinha essas informações. Na verdade, eu nunca conversei com Garotinho, detalhadamente, sobre essa situação econômica de Campos, durante os oito anos do governo de Rosinha. Eu nunca participei do governo de Rosinha, praticamente. Nunca indiquei ninguém, nunca tive emprego no governo. Nunca fui beneficiado em campanha nenhuma que disputei, nem pelos dois governos de Rosinha e nem por nenhum outro governo. Na verdade, eu nunca me prevaleci de máquina pública da Prefeitura de Campos. Nesses 30 anos de vida pública, nunca tive prefeito que me ajudasse. Então, nessa pergunta, eu não posso avançar muito porque não sei.
Folha – Embora tenha votado pelo impeachment de Dilma, mesmo contra a vontade de Garotinho, você votou na Câmara contra a autorização da investigação do presidente Michel Temer (PMDB) pela Procuradoria Geral da República. Não é uma incoerência flagrante?
Feijó – Eu votei no impeachment de Dilma em função dos péssimos resultados dos 13 anos de PT. Eu sempre fui adversário, e os resultados eram, até então, catastróficos.
Folha – O primeiro governo Lula não foi bem economicamente?
Feijó – Economicamente foi razoável. No primeiro governo. Mas, do segundo para cá, estava todo mundo insatisfeito. E eu também, com os resultados econômicos do país. E a corrupção que estava imperando. Então, votei a favor do impeachment. Essa questão de Temer, realmente, as denúncias são sérias, mas serão todas elas apuradas. Eu votei com Temer porque senti que o país estava conseguindo, na economia, resultados satisfatórios. Então, eu achei, por bem, manter Temer, embora essas denúncias sejam graves. Mas elas serão apuradas. A partir do momento em que ele deixar a presidência e perder o foro, ele vai ser investigado sobre todas essas denúncias. Então, eu votei pelo arquivamento da denúncia. Agora, o preço é alto. É muito desgaste. Eu também, como homem da base de governo, tenho que seguir a orientação do meu partido nessa questão. Eu também tenho meus interesses. Quais são meus interesses? Minha região. Eu sempre fui um deputado muito municipalista. Sempre trabalhei, nesses cinco mandatos, focando e priorizando a minha região. É o que eu tenho feito. E, no governo Temer, eu vou tentar consolidar essa situação de deputado regionalista.
Folha – Mas o fato de votar a favor do impeachment de Dilma e votar contra a investigação de Temer, naquele momento, não endossa quem denunciava que a Lava Jato era só para tirar o PT do poder?
Feijó – Não. Eu não concordo.
Folha – Por quê?
Feijó – Quem elegeu Temer foi o PT. Temer era o vice de Dilma. Então, quando votei pelo impeachment e Temer ascendeu à presidência, foi porque ele era o vice-presidente escolhido pelo PT. Eu achava, como acho, que a retirada dele do poder traria um prejuízo muito grande para o país.
Folha – Não é segredo que, apesar da grave recessão econômica que o Brasil atravessa, o governo Temer escancarou as cancelas das emendas aos deputados federais que votassem contra a investigação do presidente. Como este foi o seu caso, o que já trouxe para Campos e região a partir do seu voto?
Feijó – Eu, como disse, sempre foquei na minha região. Nunca fui um deputado de preocupações em termos de fazer parte da alta cúpula do Congresso Nacional. Sempre trabalhei pela minha região, e isso deu certo. Isso deu certo porque sou deputado pela quinta vez. Então, a região reconheceu meu trabalho e, em contrapartida, me deu essas cinco oportunidades. E eu vou continuar focando na minha região. Então, se o governo tem a possibilidade de liberar recursos para minha região através das emendas parlamentares impositivas — e essa questão de emendas, eles liberam para a situação e para a oposição também; não somos só nós da base que recebemos. Agora, se eu consegui, como tenho conseguido, alguma coisa a mais para Campos e região, eu vou conseguir.
Folha – O que, de fato, você já conseguiu depois do voto contra a investigação de Temer? O que de concreto conseguiu?
Feijó – Consegui liberar minhas emendas individuais praticamente todas. Consegui um extra para o Hospital de Guarus, de R$ 5,5 milhões.
Folha – Assim como seu afastamento de Garotinho, é de conhecimento público a sua aproximação com o governo Rafael Diniz (PPS). Como estão essas relações?
Feijó – Estou pronto a ajudar para que Rafael consiga dar conta dessa enorme responsabilidade que ele assumiu a partir de 1º de janeiro.
Folha – Essa aproximação começou em uma partida de futevôlei, no verão, não foi isso?
Feijó – Rafael é muito educado com todos. No verão, ele me viu, foi lá e, de maneira muito educada, falou comigo todas as vezes em que eu estive lá. Mas a parceria nossa não evoluiu muito depois disso, não. Ele esteve em Brasília, foi ao meu gabinete. Foi até no dia em que eu dei essa notícia do recurso para o Hospital de Guarus. Mas não temos uma relação política consolidada. Agora, independente disso, no que eu puder ajudar Campos, é obrigação minha. Eu tenho que ajudar o governo dele. Precisando de mim, ele sabe onde vai me achar. E eu estarei sempre pronto para isso. Tenho que fazer.
Folha – É uma relação pontual?
Feijó – Exato. Nunca conversei uma política mais de parceria com Rafael. Na hora que ele achar que essa conversa tem que acontecer, estou pronto para conversar com ele. Desejo o bem do governo dele, mas, principalmente, do nosso município.
Paulo Feijó
Paulo Feijó / Divulgação
Mérida sem plano B do garotismo
Folha – Como avalia esses oito meses de governo Rafael?
Feijó – Muito problema, né? Como eu disse, não tenho informações sobre a situação financeira da Prefeitura. Mas, pelo que a gente está vendo, vive, hoje, um momento de muita crise financeira. O governo do Estado sem poder ajudá-lo. Então, isso tudo dificulta. Mas eu vejo que ele é uma pessoa de bem, uma pessoa bem intencionada com o município. E eu não sou daqueles que torcem para que ele naufrague. Porque, ele naufragando, o município naufraga junto. Então, eu quero que ele administre bem essa cidade e vai contar com meu apoio.
Folha – Ao assumir com uma dívida de R$ 2,4 bilhões dos oito anos deixada pela gestão Rosinha Garotinho (PR), com um déficit mensal de R$ 55 milhões e com gasto com pessoal já extrapolando os 54% permitidos pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), o governo de Campos tem sido obrigado a matar um leão por dia. Primeiro foi a reversão no TRF da “venda do futuro” feita pelos Garotinho com a Caixa. Agora é a ameaça de greve do servidor, decretada em assembleia do Siprosep, programada para sete dias a partir de 4 de setembro. Não passa a impressão que o trabalho do prefeito e sua equipe tem sido enxugar gelo?
Feijó – Eu torço muito para que o prefeito tenha paz para governar, para que ele tenha a confiança dos servidores, da população. Os resultados, eu espero que apareçam. Sei das dificuldades enormes que ele vem enfrentando. Mas eu não tenho como avaliar esse aspecto financeiro porque eu não tenho essas informações, se ele está administrando bem ou mal os recursos. Mas o que a gente vê é que a situação dele não é diferente da dos demais prefeitos, hoje, de qualquer cidade do Brasil. Tirando poucas. Por exemplo, no estado do Rio de Janeiro, só uma Prefeitura, hoje, não tem problema financeiro: a de Maricá.
Folha – Maricá e Niterói, cujos royalties estão em crescimento pela exploração dos campos novos na Bacia de Santos.
Feijó – Maricá e Niterói. Só essas duas. Então, todos os prefeitos do Brasil, hoje, vivem um momento de muita dificuldade. Rafael é um deles. Agora, eu não posso avaliar se a solução para esses problemas acontecerá a curto, longo ou médio prazo porque eu não tenho informação da Prefeitura.
Folha – Mas você não acha que, particularmente, com essa dívida de
R$ 2,4 bilhões, herdada do governo anterior, a situação dele é um pouco pior do que a dos demais municípios?
Feijó – É um complicador, sem dúvida. Se for mesmo essa dívida.
R$ 2,4 bilhões é muito dinheiro, é muita dívida. Junto com essa dívida, tem a questão do Estado. O Estado sempre foi, também, um parceiro do município de Campos. E, agora, nós perdemos esse parceiro. E o governo federal também não pode contribuir muito. Então, a situação do prefeito, sendo essa dívida e com essa arrecadação caindo como caiu, é de muita dificuldade.
Folha – Uma das principais críticas feitas à administração Rafael é a falta de experiência. Como você pode e tem procurado ajudar nessa questão?
Feijó – Eu nunca fui chamado para ajudar e conheço até pouco a equipe dele. Mas eu espero que, mesmo a equipe sendo nova, eles consigam vencer as dificuldades através da competência. Às vezes, o cara é novo, mas é competente. E eles vão adquirindo essa experiência. É bom também mesclar com pessoas de certa vivência para que essas soluções aconteçam de maneira mais rápida e mais estável.
Folha – O presidente da Federação Fluminense das Câmaras de Dirigentes Lojistas (CDLs), Marcelo Mérida, admitiu à coluna “Ponto Final” sua pré-candidatura a deputado federal, embora ainda sem partido definido. Informações de bastidores dão conta de que você estaria operando em favor desse movimento. Procede?
Feijó – Marcelo é um excelente nome. Eu gosto muito do Marcelo. Ele é uma pessoa de muito bom conceito, de espírito público. Estivemos conversando, em Brasília, em relação à possibilidade da candidatura dele a deputado federal. E eu fiz algumas observações para que essa candidatura se viabilize. Primeiro, um apoio mais sólido do próprio segmento. O segmento lojista, a gente respeita, mas eu ainda não vi nenhuma atuação do segmento voltada para a política. Uma atuação de resultados. Orientei ele, também, a consolidar essa situação com os lojistas. Esse pessoal tem que estar motivado e tem que, verdadeiramente, contribuir. E falei com ele, também, para tentar conversar com o prefeito. Porque ele é de Campos. Eu acho que uma aproximação dele com o prefeito Rafael seria importante para a candidatura dele. Seria mais um apoio. Não sei o que o prefeito está pensando em relação ao ano que vem. Não sei se tem candidato, se não tem. Mas vejo o nome de Marcelo como um excelente nome para nos representar no Congresso Nacional.
Folha – E você está operando para ajudar?
Feijó – Ainda não. Tive essa conversa com ela em Brasília, há 10 dias. Foi a primeira conversa que tivemos e não falamos mais nada. Mas eu torço muito por Marcelo.
Folha – À coluna, Mérida revelou que o projeto das CDLs fluminenses seria lançar um pré-candidato a deputado federal e dois a estadual. Está ciente desse projeto? Vocês conversaram sobre isso?
Feijó – O que eu falei com ele é que, para ele viabilizar a candidatura a deputado federal, primeiro, ele tem que consolidar o nome dele nesse segmento. Marcelo tem que consolidar e motivar esse pessoal, mostrando para o segmento que a eleição dele a deputado federal é muito importante para o segmento lojista. Essa é uma questão. A outra: ele tem que se viabilizar mais em Campos. Para que ele se viabilize mais, eu acho importante a aproximação dele com o prefeito Rafael. E na região. Ainda não trabalhei dentro de mim a questão de quem vou apoiar ou deixar de apoiar em 2018. Mas acredito, pela minha história, conhecimento e experiência, que eu possa dar uma ajuda. Se eu ajudar Marcelo, ajudo na convicção de que vou ajudar uma pessoa que preenche todas as condições de nos representar na Câmara dos Deputados.
Folha – Seria uma pessoa para quem você passaria o bastão?
Feijó – Nota 10. Marcelão, eu tenho carinho por ele. Já me ajudou em várias eleições. Talvez em todas as eleições que eu disputei, ele tenha votado comigo. Eu não quero mais. Eu cansei.
Folha – Então, você acha que ele seria uma pessoa indicada para isso?
Feijó – Eu acredito que sim. Mas não estou falando, com isso, que eu já tenha decidido. Nós tivemos uma conversa em relação a isso. Eu vejo com excelentes olhos e confio muito nele. Campos tem que ter seus representantes. O que não pode é o campista ficar acreditando nos lá de fora. Porque, na hora que precisa, os lá de fora desaparecem.
Folha – Você fala em brigar, na Câmara Federal, pela região?
Feijó – Claro. Tem que ter representantes de Campos e da região. Senão, não tem reciprocidade.
Folha – Dentro do garotismo, uma ala considerada menos populista e mais próxima da classe média tem nomes como você, o ex-vereador Mauro Silva (PSDB), os ex-secretários rosáceos Wainer Teixeira (PHS) e Sérgio Cunha, além do próprio Mérida, que já integrou o governo Rosinha. Isso deve ser entendido como uma distensão do garotismo ou um plano B do grupo que dominou a política de Campos por quase 30 anos?
Feijó – Quando fiz essa aproximação com Garotinho, em 2008, na eleição de Rosinha, eu fui muito criticado. Sempre fui oposição a Garotinho. Foram 20 anos contra Garotinho. Mas o que aconteceu? Em 2004, fui candidato a prefeito de Campos. Eu era o favorito dessa eleição. A palavra é forte, mas eu vou usá-la: eu fui roubado. Eles roubaram minha eleição.
Folha – “Eles” quem?
Feijó – As duas candidaturas: uma, Garotinho apoiando Pudim; a outra, Arnaldo, prefeito, com Campista. Me roubaram como? No abuso de poder econômico. Todas as duas fizeram isso de maneira exorbitante. Só que, naquela época, não existiam, como existem hoje, Justiça Eleitoral, Ministério Público, Polícia Federal.
Folha – Existir, existiam.
Feijó – Mas não atuavam nas eleições. Então, eu perdi a eleição por causa disso. Mas não estou traumatizado, não. Estou falando isso com muita tranquilidade. Quando não fui para o segundo turno, o que eu fiz? Apoiei Campista. Humildemente falando, eu dei a eleição a Campista. Porque eu tinha saído com uma votação muito significativa. O que aconteceu a partir dali? Eu me decepcionei muito com Arnaldo. Tive muitas decepções.
Folha – Quais?
Feijó – Eu me decepcionei com Arnaldo. Geralmente, quando você faz um acordo político e ganha uma eleição, você é chamado para participar do governo. E isso não aconteceu comigo. Depois que Campista ganhou, eu não fui chamado para nada. Na verdade, eu fui usado por eles. Então, fiquei decepcionado.
Folha – Numa entrevista de Campista à Folha, nos primeiros meses de governo, antes de ele ser cassado, ele foi perguntado sobre o retorno pelo seu apoio, e respondeu: “nada combinado é caro”. Ele disse que não tinha combinado nada para receber seu apoio.
Feijó – Eu vou te falar até mais. Campista é um cara correto. Se ele ficasse no governo, eu tenho certeza de que ele iria, mais na frente, me valorizar. Tenho certeza. Com Campista, eu só tenho a fazer elogio. Mas, em relação a Arnaldo, eu tive umas decepções.
Folha – Campista e Arnaldo também romperam depois que o primeiro assumiu a Prefeitura.
Feijó – É. Teve, também, o rompimento. Mas aonde que eu quero chegar? Por ter tido essa experiência com Arnaldo que não foi boa para mim, e eu já enfraquecido em 2008, depois que estourou o escândalo (da operação Sanguessuga) de 2006, não me restou outra alternativa a não ser fazer essa aliança com Garotinho, na eleição de Rosinha, em 2008.
Folha – Então hoje você admite que, naquela eleição, veio como candidatura de apoio a Rosinha?
Feijó – Foi. Mas isso não partiu de Garotinho.
Folha – Foi Pudim que costurou com você, não é isso?
Feijó – Eles me procuraram. Pudim, Roberto Henriques, Garotinho. Mas eles foram me procurar para quê? Para que eu não fosse candidato e que eu apoiasse Rosinha. Falei que isso eu não ia fazer. Porque, se eu fizesse isso, não ia ajudar Rosinha a ganhar. Eu só ajudaria Rosinha a ganhar a eleição sendo candidato. E ajudei Rosinha a ganhar a eleição.
Folha – Nos debates, você foi muito forte com Arnaldo e Odete Rocha (PC do B).
Feijó – Eles também foram fortes comigo. Isso é do jogo. Mas algumas pessoas falam que eu exagerei, principalmente com Arnaldo. Mas eu acho que tive meus motivos. A vida pública tem esse tipo de situação.
Folha – Como é sua relação, hoje, com Arnaldo?
Feijó – É uma relação muito fria. Eu quero que Arnaldo seja feliz, que resolva os problemas que ele tem. Não desejo mal nenhum a Arnaldo. Arnaldo também é uma das vítimas da crueldade que a política impõe a todos nós. Hoje, ele tem o sofrimento dele por ter sido prefeito nos dois mandatos que ele exerceu. Mas eu não tenho briga com Arnaldo, como não tenho briga com ninguém. Agora, na política, é inevitável que você tenha e viva esse tipo de situação. Conflito é inevitável, ainda mais em uma eleição executiva. São situações difíceis que a política nos impõe.
Folha – Voltando à pergunta original: você, Mauro, Wainer, Cunha, parecem hoje estar alinhados com o projeto político das CDLs. Isso é uma distensão natural de nomes mais “classe média” do garotismo ou é um plano B do grupo?
Feijó – Não tem nada a ver com Garotinho. Esse apoio a Marcelo, se acontecer, não tem nada a ver com Garotinho. Mas não tem planejamento, não. Está começando. Eu tive uma conversa rápida com Marcelo.
Folha – É uma coincidência?
Feijó – É coincidência. A candidatura dele, para mim, é muito simpática.
Folha – Não é, então, um plano B do garotismo?
Feijó – Não. Plano B é chance zero.
Folha – É uma distensão, então?
Feijó – É. O grupo de Garotinho está enfraquecido.
Folha – Por causa da operação Chequinho. Como você vê a operação Chequinho?
Feijó – Pela imprensa, vejo com preocupação. Fui até testemunha. Tive uma participação como testemunha do vereador Jorge Rangel, em que eu falei com doutor Ralph Manhães, na criminal. Eu falei que participei de muitas reuniões com o vereador. Da campanha mesmo, eu participei pouco. Das reuniões que eu participei, era um dos primeiros a chegar e um dos últimos a sair. Eu nunca senti nenhum ruído em relação a essa questão da Chequinho. Nunca vi e nunca participei desse tipo de situação, caso ela tenha acontecido.
Folha – Você acha que não houve?
Feijó – Aí, eu desconheço.
Folha – Além de Mérida, outro nome que tem sido cotado para uma pré-candidatura a deputado federal é César Tinoco, amigo de infância de Rafael e um dos seus mais próximos colaboradores. Como vê esse movimento?
Feijó – Não tenho dúvida de que Campos tem que apresentar, para 2018, candidatos vinculados com a cidade e com a região. Naturalmente, Rafael, que é o prefeito, deve estar planejando ter seu representante na Assembleia e na Câmara Federal. Ele tem, por obrigação, que fazer com que essas lideranças...
Folha – Para deputado estadual estão falando em Marcão (Rede), Gil Vianna (PSB), Pudim (PMDB), João Peixoto (PSDC), Rodrigo Bacellar (PDT).
Feijó – Ele tem que ter esses nomes da sua confiança. Eu te confesso que não participei de nenhuma reunião com ninguém, exceto com Marcelo, sobre essa questão de 2018. Mas Campos tem que acreditar nos seus filhos. Mas essa questão do grupo de Rafael, quem ele vai apoiar e quem não vai, eu também não posso acrescentar nada porque não conversei isso com Rafael e não sei o que ele pensa em relação a 2018.
Folha – Você falou que vê com bons olhos a pré-candidatura de Mérida. Como vê a de César?
Feijó – Vejo também. Se ele for uma pessoa ligada ao prefeito, se tiver o apoio do prefeito, passa a ser uma candidatura viável. Ele tendo a confiança do prefeito, eu acho que, para Campos, é importante.

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