Jéssica Felipe
26/08/2017 18:22 - Atualizado em 31/08/2017 22:41
A Irmandade de Nossa Senhora da Penha, em Atafona, realizou nesse sábado (26), uma procissão em prol do vilarejo pesqueiro que vem sofrendo com o avanço do mar. Dezenas de fiéis caminharam pela comunidade da Baixada até chegarem à margem do rio Paraíba do Sul, no Pontal. Em uma corrente de oração, comunitários, pescadores, representantes do poder público e membros da Igreja Católica, fizeram orações de intercessão pela praia. Com exceção das festividades da padroeira, esta foi a primeira vez que a imagem de Nossa Senhora saiu do altar.
Hugo Meireles, diretor de eventos da Irmandade, contou que a ideia surgiu quando ele estava cumprindo seus afazeres na torre da igreja e, ao olhar para o rio, visualizou uma imagem de Nossa Senhora da Penha na procissão fluvial. “Ao descer, encontrei um pescador com um boné no peito, fazendo uma oração em voz alta na porta da igreja, clamando pelo rio, pela falta de peixe. Fui para a casa e sonhei com uma procissão na beira do rio”, explicou Hugo.
Comovido com a situação, o diretor propôs a ideia à presidência da Irmandade, enfatizando o papel social da instituição.
— Precisamos, como igreja, mas também como instituição religiosa e social, fazer algo para mostrar a comunidade que ela não está só — considerou Hugo.
Aprovada, a atividade virou notícia para os comunitários. “Eles acharam a ideia muito boa, é uma coisa muito simples, pequena, em relação ao espaço, mais com muito simbolismo. Independentemente de religião, essa ação trouxe conforto”, conta a presidente Viviane Meireles, sobre a reação das pessoas.
Para Hugo, a ação significou mostrar que a igreja não está reunida só em festividades, mas também nos momentos mais difíceis da comunidade. “Estamos juntos do Poder Público, dos moradores, da imprensa, em um clamor coletivo em prol da nossa Atafona”, disse o diretor.
Comovida pelo resultado, a presidente declarou: “Eu acho que, quando você crê, tudo fica mais fácil. Pode não acontecer, por envolver questões humanas, mas cremos que Deus está do lado dos mais necessitados. Essa é a nossa voz, pedir por àqueles que precisam”.
Para o jornalista, morador de Atafona e devoto de Nossa Senhora da Penha, Arnaldo Neto, a realização do ato foi de grande alegria. “Brasil afora os católicos fazem procissões extraordinárias para pedir chuvas ou outras situações de emergência. Nós que acreditamos, temos que rogar ao divino, sem deixar de cobrar as soluções em andamento, que estão sendo buscadas pelas autoridades”, declarou.
Francisca Barreto doou terreno da igreja
Em maio de 1976, o literato sanjoanense, Ruy Alves, publicou, no jornal Folha Nova, um trecho de sua crônica sobre a padroeira de Atafona, explicando a chegada da Nossa Senhora ao município.
— Foi aos 09/01/1857, que a viúva do comendador Joaquim Thomaz de Farias, isto é, dona Francisca Barreto de Jesus Farias, deu a Nossa Senhora da Penha (de Atafona) ‘trinta braças de terra de frente, e quarenta de fundos, no lugar denominado Barra’ (hoje Atafona), para edificar sua capela. A ‘doação no valor de 100.000 réis’ exigia que a Capela fosse construída dentro de cinco anos e que caso ‘não fação’ ficaria sem efeito o que ela doara, isto é, a terra para a capela. E ainda exigiu que ‘nenhuma pessoa poderá edificar casas nas referidas terras, e nem mesmo quando a Senhora tenha a sua Irmandade organizada’ — Aí está como e quando Nossa Senhora da Penha conseguiu terreno para a sua capela, cujos confrontantes eram: ‘pelos lados de cima, pelo de baixo, e pelos fundos com terras dela’, a doadora, e pela frente com o rio Paraíba”.
Limpeza de canais autorizada
Sociedade Civil e órgãos públicos aguardavam nas últimas semanas dois documentos de grande importância para o futuro de Atafona, um deles, a instrução técnica para realização do estudo ambiental, liberada no último dia 15. Na última quinta-feira (24), o Conselho Diretor do Instituto Estadual do Ambiente (Inea) emitiu o parecer favorável para desassoreamento nos canais da Ilha do Cardoso e na foz do Paraíba do Sul, em São João da Barra.
A Secretaria Municipal de Meio Ambiente de São João da Barra espera, a partir de amanhã, o documento oficial, que apresentará as condicionantes necessárias para execução da dragagem. Só depois disso, serão viabilizados os equipamentos e equipe.
O secretário de Meio Ambiente, Alex Firme, garante que todo o processo será realizado junto aos atores sociais envolvidos. “Acredito nesta semana já teremos as duas autorizações em mãos para realização da dragagem de forma planejada e envolvendo os atores locais (pescadores, Colônia de Pesca, moradores, comerciantes)”, considera Alex.