Paula Vigneron, Julia Beraldi, Daniela Abreu e Matheus Berriel
30/08/2017 15:01 - Atualizado em 31/08/2017 16:52
“Sempre falava com ele que, qualquer coisa que acontecer, não reage. Mas ele não reagiu. O menino é um anjo e já está lá, nos braços de Nossa Senhora”, afirmou Ana Maria da Silva Soares, mãe do estudante de Química da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) Fernando Soares Araújo, de 21 anos, que morreu na noite da última terça-feira (29), vítima de latrocínio. A morte do jovem eleva o triste índice de 112 homicídios registrados em Campos este ano: 112. O estudante foi baleado na ciclovia da avenida 28 de Março, no Turfe Clube. Um policial presenciou o crime e trocou tiros com o assaltante, que ficou ferido. O corpo de Fernando foi sepultado na tarde desta quarta-feira no cemitério do Caju.
Um policial militar de folga passava pelo local e interviu na situação. O soldado Campos contou que trafegava de carro pela avenida 28 de Março quando viu um grupo de jovens na ciclovia, próximo ao cruzamento com a avenida Arthur Bernardes. Ele ouviu um disparo e atravessou a avenida, deixando o carro em um posto. Soldado Campos viu quando, mesmo ferido, Fernando atravessou a ciclovia e caiu na calçada da via, com sentido ao Centro. Segundo informações extraoficiais de peritos, ele foi atingido por um disparo pelas costas, que atravessou e saiu pelo abdômen.
O policial foi até a vítima e saiu atrás do atirador, que seguiu por uma rua transversal a 28 de Março. “Eu atravessei o carro, parei em direção ao posto e voltei correndo. Foi o tempo que ele atravessou também, pegou o celular da mão do garoto que ele estava disputando antes e subiu na bicicleta. Eu pulei da ciclovia e, uma mulher que estava a minha frente acredito que me viu armado e acelerou o carro. Eu passei por cima do capô do carro dela e sai correndo meio sem equilíbrio, gritei para ele parar e ele virou e deu dois tiros para trás. Ali, em um lugar mais ermo, eu proferi os disparos”, contou.
Segundo o policial Campos, ele ligou do celular para os Bombeiros e retornou para pegar o carro e ir atrás do suspeito. O encontrou na ciclovia. A arma, um revólver calibre 38 com três munições deflagradas e duas intactas, foi encontrada na cintura do menor, que foi atingido por ele na altura do ombro esquerdo. O policial chamou outra ambulância e protegeu o suspeito que corria risco de linchamento.
O PM Campos ainda não sabia que dois meninos que fugiram no momento do disparo eram comparsas do suspeito. Enquanto esperava o socorro, outras três vítimas, um menor e um casal, que saiam de uma igreja, contaram que os três estariam parados no cruzamento abordando e assaltando. Os três, assim como o suspeito, foram à 134ª Delegacia de Polícia do Centro.
Fernando chegou a ser socorrido para o Hospital Ferreira Machado (HFM), mas não resistiu ao ferimento.
Logo após a apreensão do menor de 15 anos, autor dos disparos, as Polícias Civil e Militar iniciaram as diligências em busca dos demais suspeitos. Na manhã desta quarta, os agentes foram à casa dos dois adolescentes de 17 anos, mas ambos não foram encontrados. À tarde, os dois se apresentaram na 134ª DP. Eles foram ouvidos e levados para o Ministério Público, onde a promotoria e Juizado da Infância e Adolescência decidiriam sobre a internação no Departamento Geral de Ações Sócio- Educativas (Degase), como também ocorreu com o menor apreendido antes.
Também na tarde desta quarta-feira, o delegado titular da 134ª DP, Geraldo Rangel, ao lado do comandante do 8º Batalhão de Polícia Militar (BPM), tenente coronel Fabiano Souza, confirmou que o menor de 15 anos foi encontrado com um revólver calibre 38, com 3 munições deflagradas e duas intactas.
“Significa dizer que ele efetuou o primeiro disparo que atingiu a vítima, o Fernando. O disparo levou à morte da vítima e os outros dois disparos em direção ao policial militar, que passava pelo local. Está batendo exatamente a prova testemunhal com a prova técnica, que é a apreensão da arma”, disse Geraldo.
Ainda segundo o delegado, os dois adolescentes de 17 anos suspeitos de participar do latrocínio disseram não saber que o de 15 estava armado. “Os outros dois tentam, na minha opinião, em vão, se eximir de qualquer responsabilidade. Um deles diz que não sabia que o menor estava armado, o outro diz que sabia, mas que não tinha a intenção de praticar roubo, enfim, há uma certa contradição no depoimento dos três, mas todos estão respondendo pelo latrocínio, na forma de ato infracional, já que os três são adolescentes”, esclareceu.
Ainda de acordo com Geraldo Rangel, o adolescente responderá ainda pelos disparos contra o policial militar. “Estava no mesmo acontecimento fático do latrocínio, então pode ser considerado até mesmo uma tentativa de latrocínio em relação ao policial, já que tudo ocorreu dentro da mesma circunstância fática”.
Para o soldado Campos, restou, além do dever cumprido, a análise: “A gente lamenta pelo o futuro interrompido e a gente tem acompanhado muito em Campos de menores no tráfico. Eu sinto que a cidade está um pouco abandonada quanto à questão da educação. Eu lamento por que é o nosso futuro, dos nossos filhos”, disse o policial.
Fernando Soares
Fernando Soares
Fernando foi morto em assalto na 28 de Março
A vítima chegou a ser socorrida para o HFM, mas não resistiu ao ferimento. O policial militar que estava de folga ainda tentou deter o outro suspeito, de 17 anos, que conseguiu fugir, mas foi apreendido na tarde desta quarta-feira (30), junto ao terceiro envolvido, que tem a mesma idade. Os três suspeitos prestaram depoimento na 134ª Delegacia de Polícia (Centro).
Segundo a polícia, os suspeitos teriam praticado outros assaltos na mesma noite, antes de matarem Fernando. Quem tiver informações que possam ajudar na elucidação do caso pode comparecer à 134ª DP ou ligar para o Disque Denúncia por meio do telefone 2723-1177. A identidade do denunciante é mantida em sigilo.