Mulher como alvo constante
Jane Ribeiro 19/08/2017 17:13 - Atualizado em 30/08/2017 18:27
A violência contra a mulher está presente em todos os estados, em todos os estratos sociais. Boa parte dos crimes contra as mulheres são cometidos por pessoas com algum grau de intimidade ou proximidade com a vítima, ou seja, são companheiros e ex-companheiros, familiares, amigos, conhecidos ou vizinhos. No mês de agosto, no mesmo dia em que foi comemorado os 11 anos da Lei Maria da Penha, o Instituto de Segurança Pública (ISP) lançou a 12ª edição do Dossiê Mulher com os principais crimes relacionados à violência contra a mulher no Estado do Rio de Janeiro. O estudo revela que a maior parte dos crimes ocorre dentro de casa. Os principais delitos são estupro (85,3%), ameaça (65,4%), lesão corporal dolosa (63,8%), assédio sexual (93,3%) e importunação ofensiva ao pudor (91%). Um aumento em torno de 10% comparando com a edição do ano passado. Na última semana, crimes contra mulheres foram registrados em Campos e região.
Segundo a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) de Campos de janeiro até a última sexta-feira 500 ocorrências foram registradas. Em relação a homicídios, dados da Folha da Manhã mostram que entre 1º de janeiro a 18 de agosto de 2017 nove mulheres foram assassinadas em Campos, o mesmo número registrado no mesmo período do ano passado.
O primeiro atendimento, geralmente, é feito pela Polícia Militar. Segundo o comandante do 8º Batalhão da Polícia Militar (BPM), tenente coronel Fabiano Santos de Souza, os policiais conduzem a vitima e o acusado para a delegacia especializada, após a constatação do crime ou agressão. “Nossos policias estão aptos a atender qualquer ocorrência, especificamente a uma mulher. A orientação é para que converse com a vítima e, se for de livre e espontânea vontade, ela é conduzida a delegacia para fazer a ocorrência e quando encontramos o agressor ele é preso e conduzido para a DP. O atendimento é normal”, informou.
Para Margarida Estela Mendes, integrante do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher (Comdim), a violência contra a mulher ainda é muito presente nos lares, seja ela na classe média, baixa ou alta. Margarida acredita que para diminuir o número de vítimas é preciso que o trabalho seja feito em conjunto com outros organismos.
— Não adianta somente ter uma delegacia especializada em atendimento a mulher. É preciso haver um trabalho de prevenção, curativa e promocional. Além da Deam, é preciso de centros especializados no atendimento às mulheres e lugares para os homens agressores se tratarem e receberem orientações — contou.
Assassinatos tiveram repercussão este ano
No último dia 15, Uma adolescente, identificada como Sabrina de Souza Gonçalves, de 16 anos, foi assassinada a tiros, no bairro Vila Verde, em Búzios, na Região dos Lagos. O corpo da jovem foi encontrado na noite do crime, por volta das 22h, após o suspeito de ter cometido o crime usar o celular da vítima para fotografar o corpo e enviar as imagens via WhatsApp para os contados dela.
No mesmo dia, em Campos, Fátima Fidélis Germano, de 42 anos, foi assassinada a tiros por volta das 10h30, na rua Atanagildo de Freitas, no Parque Bandeirantes, em frente ao imóvel onde residia sozinha.
Outros casos também ganharam repercussão na região. A jovem Juliana Paes Rangel foi assassinada e teve o corpo enterrado em frente ao Polo Gastronômico da praia de Grussaí. A estudante era moradora do distrito de São João da Barra, ela estava grávida de aproximadamente quatro meses e já tinha um filho de três anos. Juliana trajava um vestido e possuía marcas no pescoço, indicando um possível estrangulamento. O suspeito pelo crime até hoje não foi preso.
Em março deste ano, uma mãe de 29 anos foi vítima de feminicídio. Mônica Gomes Rangel foi morta com tiro de espingarda calibre 12 na frente da própria filha, de apenas 13 anos, no distrito de Vila Nova, em Campos. Segundo a polícia, o ex-marido é o principal suspeito do crime, que aconteceu em frente à casa onde a vítima morava com os filhos. Mônica era aluna do curso de Informática no Instituto Federal Fluminense (IFF) e voltava para casa, quando foi surpreendida pelo assassino.
Lei ampara vítimas de agressão há 11 anos
Chegar até a delegacia, para muitas mulheres é um caminho muito difícil. Esse foi o caso da dona de casa Otília Nascimento de 62 anos. Ela foi vitima de violência doméstica por mais de 30 anos e só conseguiu se libertar depois dos filhos crescidos.
— Eu apanhava do meu ex-marido quase que todos os dias. Não precisa de motivo bastasse uma pequena discussão para ele me bater. Não conseguia denunciar porque dependia dele financeiramente para criar meus filhos. Somente quando eles ficaram adultos que eu consegui me libertar — informou a idosa.
Para que isso não mais aconteça foi criado a Lei Maria da Penha, que completou 11 anos de existência e lançou uma campanha para chamar atenção sobre os números da violência contra a mulher. Chamada de “Relógios da violência”, a ação faz uma contagem, minuto a minuto, do número de mulheres que sofrem violência no país. O objetivo é incentivar as denúncias de agressão, que podem ser físicas, psicológicas, sexuais, morais e até patrimoniais.
A Lei nº 11.340 leva o nome da farmacêutica cearense Maria da Penha, atualmente uma das principais ativistas na luta pelo fim da violência doméstica. Ela foi vítima do próprio marido e ficou paraplégica após as agressões.

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