“Testemunha ocular da história” foi um slogan da segunda metade do século passado, bordão que acompanhava o Repórter Esso, noticioso da Rádio Nacional, mas que também se aplica ao veterano fotógrafo Dib Hauaji, que desde a primeira edição acompanha com os olhos e lentes sempre atentas a Prova Ciclística de São Salvador.

— Desde a primeira, em 1945, vi todas. Sou talvez o único vivo que acompanhou todas. Mesmo tendo morado na Argentina e no Ceará, nunca deixei de acompanhar. Porque a festa de São Salvador era um acontecimento, — conta Dib.

Dib lembra que as primeiras provas não contavam com mais de 12 ciclistas.

— Ao longo dos anos, a prova foi crescendo, se profissionalizando e tornou-se referência no Brasil. Na época, o grande ganhador das provas era o Aragão, um afrodescendente — lembra Dib.

— Nas primeiras corridas, as bicicletas eram muito pesadas, com quadro duplo e duas barras, — recorda ainda.

Com a memória afiada, Dib lembra também que a primeira prova aconteceu mesmo, só em 1945.

— É que a primeira corrida foi a número zero. Em 1944 não houve porque Patesko,o criador da prova, estava ainda na guerra. Só chegou a Campos em 1945 — conta.

Patesko, cujo nome era Gerardo Maria Ferraioli, esteve entre os brasileiros na Segunda Guerra Mundial, na Itália.

Dib conta também que Patesko e Aragão foram protagonistas de uma aventura quando cruzaram os cerca de 700 quilômetros que separam Campos de São Paulo.

— Quando eles chegaram lá enviaram noticias, quase uma semana depois. As comunicações eram muito precárias — acrescenta.

Entre os episódios pitorescos da prova, havia um carro com alto falante, conduzido pelo publicitário Jubal Guimarães, que chegava junto com os primeiros colocados para, ao final da prova, antecipar o nome do vencedor.

— Mas o campeão estava à frente do carro, e o veiculo deveria chegar primeiro para anunciar à plateia que aguardava os primeiros na linha de chegada. O carro acabou atropelando o ciclista — conclui Dib.