Jhonattan Reis
30/08/2017 18:19 - Atualizado em 02/09/2017 12:28
O destaque entre as estreias da semana nos cinemas de Campos é o filme “Atômica”. De saída, a crítica observa que o diretor David Leitch faz sua estreia oficial com “Atômica”, adaptação da graphic novel “The Coldest City” escrita em 2012 por Antony Johnston (autor da série de quadrinhos Wasteland). Leitch mostra que sabe usar das ferramentas do cinema e da linguagem de gênero.
Abordando o clássico universo de espionagem durante a Guerra Fria, narrando a eterna luta do MI6 britânico contra a KGB russa que nem o fizeram Ian Fleming com James Bond e John Le Carré com Georges Smiley, Leitch tem Lorraine Broughton (Charlize Theron), uma agente especializada em combate corpo-a-corpo que, após saber da morte de um companheiro de profissão, vai até o Berlim encontrar o chefe da divisão local David Percival (James McAvoy) para juntos recuperarem uma lista de nomes de agentes duplos para a Coroa britânica antes que um lendário agente duplo russo o faça, tudo ocorrendo durante os últimos dias do Muro de Berlim em 1989.
Aqueles conturbados dias são muito bem aproveitados dentro do universo composto por Leitch, cheio de jogos duplos, traições e reviravoltas a todo momento. Eram dias que máscaras eram usadas e que o maior erro que poderia ser cometido era confiar em alguém. Utilizando fartamente de imagens de arquivo que ilustram e pontuam o filme o tempo todo através de reportagens de televisão, Leitch confronta o realismo de seu pano de fundo com sua concepção visual o tempo todo plástica e elaborada, onde muitos filtros, truques de montagem e escolhas de movimento de câmera são utilizados à exaustão.
A instabilidade política refletindo na ambiguidade estética dá um certo toque neo-noir, ou melhor, neon-noir, pois tão importante quanto luz e sombra na evocação visual da dicotomia também são as cores de seu filme. Em meio à fria Berlim e ostentando figurinos luxuriosos, Lorraine habita tanto espaços de um cinza impessoal como apartamentos, escadarias e ruas quanto a intensa vida noturna de hotéis, bares, boates e tudo relativo à lendária vida noturna do local quando as lâmpadas tingem o ambiente de azul, vermelho e verde de maneira monocromática, onde a agente encontra sua única válvula de escape na figura da amante Delphine Lasalle, agente da Inteligência francesa.
Se tem um elemento que funciona como um relógio em seu roteiro é a urgência do seu senso de propósito, que mantém a expectativa do espectador em assistir um desenrolar de um evento simples que vai adquirindo camadas mais complicadas. Lá para o final do filme, é verdade que o excesso de reviravoltas uma hora ou outra pode soar excessivo, numa tentativa de continuar surpreendendo e levantando o espectador mesmo quando o momento de catarse já passou. Mas a moralidade confusa sugerida pelo comentário social do pano de fundo e intensificada dramaticamente pelos principais acontecimentos da trama fazem que com que, mesmo assim, jamais tenhamos dúvidas de que, nos dias que em a Cortina de Ferro desabava sobre o próprio peso, tudo poderia acontecer.
Para dar amparo dramático ao que o roteiro pretende, as performances de seus protagonistas ocupam posições contrastantes. Charlize Theron interpreta Lorraine de maneira cool, fria como gelo, dizendo muito nas pequenas reações, expressando uma gama de sentimentos com sentenças curtas e encarando seus ossos do ofício de maneira quase ritualística, como nas escolhas dos figurinos que veste ou as sequências em que imerge em uma banheira de gelo para tratar do corpo ferido. Já James McAvoy faz um Percival hot, sarcástico e desvairado, discursando monólogos em ritmo de pregação, casaco de peles e cigarro entre os dentes, dando a impressão de ser capaz de qualquer coisa; em resumo, um arquétipo que se não é inédito em sua carreira, mostra um aprimoramento invejável. A turbulenta reação dos dois é pura faísca, sempre dando margem a conflito, suspense e até mesmo humor. Dois indivíduos treinados em sumir e matar, cada um moldado de forma diferente pelo mesmo contexto de guerra não declarada e que, por trás dos panos, lutam na linha de frente.
E é justamente através da violência que surge a única maneira possível que os dois podem resolver o que os aflige — e para tanto, “Atômica” é muito, muito violento. Seus personagens, uma vez machucados, carregam cicatrizes, manchas roxas e inchaços pelo resto do filme.
Também entram em cartaz nesta quinta-feira (31) os filmes “Emoji — O Filme” e “Dupla Explosia”. Na próxima quarta-feira (6), acontecerão as pré-estreias do nacional “Polícia Federal — A Lei é Para Todos” e “A Coisa”. Permanecem em cartaz “João, Maestro”, “Bingo — O Rei das Manhãs”, “Annabelle 2: A Criação do Mal”, “A Torre Negra” e “O Estranho que Nós Amamos”. (A.N.) (C.C.F.)