Uma coisa não se pode negar: Gloria Perez tem acertado em cheio nas tramas de “A Força do Querer” — tanto que, na segunda-feira (21), o folhetim atingiu seu mais novo recorde: 45 pontos de audiência com 63% de participação no Rio de Janeiro e, em São Paulo, 42 pontos com 57% de participação. Apesar do sucesso, há uma turma de descontentes. Nas redes sociais, a autora é acusada de fazer apologia ao crime por mostrar cenas de violência e tiroteios.
“Apologia? Numa novela que homenageia a polícia? Que mostra apenas a face valorosa e honesta da polícia, através das personagens Jeiza (Paolla Oliveira) e Caio (Rodrigo Lombardi)? É impossível exaltar a polícia sem mostrar bandidos, como é impossível exaltar médicos sem mostrar doentes”, diz Gloria.
A novela das 21h é assunto nas principais rodas de conversas. Entre os temas, a guinada de Bibi (Juliana Paes), que de ex-manicure e estudante de direito vira dona do Morro Azul, o processo de transformação de Ivana (Carol Duarte) em transgênero masculino, a luta da policial Jeiza contra o mundo do crime, o triângulo amoroso vivido por Ritinha (Isis Valverde), Zeca (Marco Pigossi) e Ruy (Fiuk), a homofobia sofrida por Elis Miranda/Nonato (Silvero Pereira), a vida criminosa de Sabiá (Jonathan Azevedo) ou o vício de Silvana (Lilia Cabral) por jogo.
Faz tempo que as pessoas nas ruas não falavam mais sobre uma novela como fazem agora. “Sinto que a novela atingiu aquilo que nos propomos oferecer: divertir e convidar à reflexão”, assume a autora.
Para Gloria, a sinopse original de uma novela nunca é seguida ao pé da letra. Ela funciona apenas como um guia. “Porque as personagens ganham vida própria, e a partir de um certo momento não são apenas conduzidos: também conduzem você”, explica.
Um dos destaques da história é o processo de transformação da personagem Ivana, que, apesar de dar sinais claros, reluta em falar abertamente para os pais que é transgênero masculino. O fato de Ivana ter demorado a entender a sua própria condição, já que é uma menina de família rica e com bastante acesso à informação, foi algo muito comentado entre os telespectadores. A autora conta que essa “demora” foi proposital para criar a empatia com o público e a compreensão, por parte do telespectador, do que é ser transgênero.
“Por outro lado, na vida real, essa compreensão não tem nada a ver com acesso à informação. Hoje, todo mundo tem acesso a essa informação, através da internet e, mesmo assim, para a grande maioria, ainda é de difícil compreensão. É preciso observar também que nem todo transgênero tem, desde a infância, a percepção de que é transgênero. É comum que eles atravessem uma fase confusa, se perguntando se são homossexuais ou lésbicas”, salienta Gloria, feliz com a repercussão que a novela vem obtendo. "Isso é fruto de muito trabalho", disse. (A.N.)