Crítica de cinema - Um filme brasileiro
Edgar Vianna de Andrade 14/08/2017 18:57 - Atualizado em 18/08/2017 14:15
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Cena de ENTITY_quot_ENTITYO filme da Minha VidaENTITY_quot_ENTITY / Divulgação
Creio que estamos na quarta fase do cinema brasileiro. A primeira é representada pelos filmes produzidos durante a primeira metade do século XX. Filmes importantes foram produzidos em Manaus, Recife, Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul. Tenho conseguido filmes brasileiros antigos. A maior parte deles constituída de documentários e de dramas. Os dramas tendem para os dramalhões moralistas. Mas, o que conta é a fotografia e a forma de filmar. Nessa primeira fase, destaco os nomes de Humberto Mauro, José Medina e Mário Peixoto. Os dois primeiros por suas carreiras contínuas. Eles foram cineastas duradouros. Já Mário Peixoto se imortalizou com um único filme, o espetacular “Limite”.
A segunda fase é representada pela polarização Rio X São Paulo, expressa nas empresas Atlântida e Vera Cruz. A Atlântida com a chanchada e a Vera Cruz com filmes buscando retratar temas nacionais. A terceira é dominada pelo Cinema Novo e a quarta é a atual. Trata-se de uma periodização pessoal perfeitamente contestável, mas me ajuda a entender o fenômeno do cinema nacional.
Na fase em que vivemos, o cinema tende para a bilheteria fácil com comédias apelativas. De fato, o cinema brasileiro está repleto delas, atraindo muitas pessoas que desejam se distrair e rir muito. O cinema funciona como fuga das dificuldades cotidianas. É puro entretenimento. O fenômeno merece ser estudado.
Mas, no meio de tanta calhordice, aparece um filme bom de vez em quando. Ao assistir a “O filme da minha vida”, tive dificuldade de manter meu senso crítico atento. Devo confessar que a fotografia, as belas paisagens, a reconstituição de contextos urbanos do interior do Brasil do fim dos anos 1950 e início de 1960, a direção segura de Selton Melo, as músicas e a atuação dos artistas me arrastaram para a condição de espectador descompromissado. O ritmo do filme, então, é tranquilizante; calmo e lento. Que me desculpe o leitor, mas o crítico é também um ser humano. Ele não pode estar sempre atento. Atenção constante provoca estresse.
O roteiro, também de Selton Melo, tem por base um romance de Antonio Srkarmeta. A procura do pai por um filho é tema universal no ocidente. No nosso mundo, podemos dispensar a sociedade, mas ainda não totalmente a família. Selton aparece ainda como coprodutor. O filme pode ser identificado à primeira vista como brasileiro pelo fantástico número de patrocinadores anunciados nos créditos iniciais.
O elenco de artistas foi muito bem trabalhado para atuar. Selton Melo, também artista, desempenha a contento o papel de gaúcho rude e meio solitário. Johnny Massaro, como filho adulto e professor atormentado pela misteriosa partida do pai francês, galvaniza as atenções. Vincent Cassel, o ator francês sempre procurado para papéis de bandido truculento, aqui aparece como um pai sereno e amoroso. Ele consegue vencer a dificuldade que os franceses têm em pronunciar palavras com r. Enfim, vale a pena ver o filme que sairá de cartaz logo por não ser comédia fácil. Senti falta apenas de um ambiente mais semelhante ao do sul do Brasil.

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