Quadrinista lança livro em homenagem a filho
Jhonattan Reis 12/08/2017 13:14 - Atualizado em 15/08/2017 15:05
Cássio realiza desenho
Cássio realiza desenho / Divulgação
"Essa ‘coisa’ de paternidade é algo que sempre me emociona muito. Sempre dei muito valor a isso. Ser pai é cuidar do filho, participar da criação dele, não ser só ‘pai de final de semana’”. A paternidade é função importante na vida do jornalista, quadrinista e músico Cássio Peixoto, que disse as palavras acima. Cássio lançará, em setembro, um livro de quadrinhos que foi feito em homenagem a um de seus filhos, Noah. Nesse sábado (12), véspera de Dia dos Pais, completou um mês que Noah morreu, um dia após ter nascido, prematuro, no sexto mês de gestação. O livro que Cássio dedicou ao filho mais novo, intitulado “Um Mundo Com Noah”, terá seu lançamento durante o Festival Doces Palavras (FDP!), que acontece entre 20 e 24 de setembro, no quadrilátero histórico (Liceu de Humanidades de Campos, Jardim do Liceu, Casa de Cultura Villa Maria e Câmara Municipal). A obra será lançada pela editora Mucufo.
Também pai de Kal-El, de 8 anos, Cássio explicou o surgimento de “Um Mundo Com Noah”.
— Foram dias difíceis após tudo o que aconteceu. Alguns dias depois, eu estava em casa com Kal-El e ele me disse: “Pai, a gente não tem uma foto do Noah, não é? Por que você não desenha ele, então?”. Eu respondi: “‘Tá’! Papai vai desenhar”. Depois que fiz os desenhos, ele me falou: “Por que você não faz, então, um livro igual a esse que a gente fez?”, pois eu escrevi um livro com Kal-El sobre paternidade. Isso me deu aquele “start” e eu comecei a fazer. O roteiro eu fiz em duas noites. Depois, comecei a desenhar os personagens envolvidos, que, na verdade, sou eu, ele e a mãe dele, além de personagens fictícios. A história é toda relatada sob a ótica de Noah. Ele narra a história — contou Cássio, que continuou:
— Para mim, está sendo não só uma homenagem a Noah, mas, também, uma maneira de lidar com o luto. Eu, hoje, entendo que não existe dor pior no mundo do que a de perder um filho. Não é a ordem natural das coisas. O natural é a gente ir primeiro que eles. Este processo de criação da obra tem sido algo doloroso às vezes. Não que não seja prazeroso, mas é complicado. Eu me pego, em algumas ocasiões, pensando em como tudo aconteceu. Estava tudo certo. A gestação estava tranquila. Mas, nesse meio de caminho, aconteceu um problema, que a gente até agora não sabe o que foi, e a bolsa estourou. Depois de um dia inteiro em trabalho de parto, Noah nasceu, foi para a UTI, mas não resistiu. Então, é um livro que eu não queria fazer, sabe? Eu não queria estar fazendo este livro. Eu queria o meu filho vivo, no meu colo.
Cássio junto ao filho mais velho Kal-El
Cássio junto ao filho mais velho Kal-El / Divulgação
Da mesma forma que Eric Clapton tornou eternas recordações de seu filho Conor com a música “Tears In Heaven” ou que Robert Plant, do Led Zeppelin, usou “All My Love” para falar sobre Karac, falecido em 1977, Cássio usa sua arte para lidar com a perda e para eternizar lembranças.
— Este livro é meio que tudo o que tenho em relação a ele, porque sobre ele eu só tenho lembranças, seja da gravidez, da gestação, do que eu e a mãe dele passamos de bom e de ruim. Então, quero uma forma de tornar tudo eterno e, a partir do desenho que Kal-El me pediu, estou fazendo isso com os quadrinhos. É a forma que escolhi para contar as minhas histórias. Até porque quadrinhos são o que eu gosto de fazer.
Sobre a sinopse de “Um Mundo Com Noah”, Cássio adiantou:
— A história começa com ele, ainda no céu, observando a gente. Ele tenta juntar eu e a mãe dele e, inclusive, tem um pouquinho de trabalho para conseguir isso. Mas ele consegue. Depois, ele nasce. Só que ele vem para cá com uma missão que nem ele mesmo sabe qual é. E quando ele chega aqui, já não lembra mais do que aconteceu antes. Após ele voltar, vai descobrir se ele conseguiu cumprir essa missão ou não, sendo que, além disso, acontecem viradas legais na história toda — contou Cássio, que lembrou que o livro terá entre 40 e 50 páginas.
Desenho de Cássio Peixoto
Desenho de Cássio Peixoto / Divulgação
O nome do livro, diz Cássio, é uma referência de que Noah ainda está com ele, de alguma forma.
— Eu iria colocar o nome do livro de “Nossa Vida Sem Noah”. Porém, depois, pensei melhor sobre tudo e decidi pôr “Nossa Vida Com Noah”, porque entendi que ele veio, ficou e vai permanecer, de algum jeito. De alguma forma, ele continua aqui com a gente. Uma coisa que eu, nesse tempo, enxerguei é que para sempre eu vou ter dois filhos. Se eu tiver outro depois, serão três e assim por diante.
Outro — Cássio escreveu, durante seis meses, na segunda metade do ano passado, um livro junto com Kal-El. A obra, “Aqui Mora Um Menino”, deve ser lançada no próximo ano. “É um livro que fala sobre paternidade. Eu escrevi logo que me separei da mãe de Kal-El. A obra fala da questão de cuidar do filho, de participar da criação dele, de não ser só pai de final de semana”, disse. Cássio Peixoto tem as seguintes obras publicadas: “Dias Sem Ela” (2015); “Na Terra dos Heréos Vol. 2” (2014); “Na Terra dos Heréos Vol. 1” (2013); e “Estado Permanente de Tristeza Profunda” (2013).

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