Celso Cordeiro Filho
10/08/2017 19:14 - Atualizado em 12/08/2017 18:53
“É um libelo contra o capitalismo”. Assim o cineasta e publicitário Felipe Fernandes definiu o filme “O Corte”, de Costa-Gravas, apresentado na sessão de quarta-feira (9), no Cineclube Goitacá, lembrando que até os anos 90 o cineasta grego, radicado na França, havia se dedicado à feitura de filmes políticos e que, após esse período, tem se preocupado com a temática de denúncia social. “O humor negro está presente na maior parte do filme e provoca reflexão sobre o sentido da vida humana nos dias atuais, onde o desemprego (assunto em destaque no filme de Costa-Gravas) é problema mundial e, especialmente, no Brasil”, salientou.
Antes da apresentação de “O Corte”, Felipe apresentou o curta-metragem “Entre Muros”, de Adriana Tenório, realizado no Rio de Janeiro, em 2011, do qual foi produtor. “O filme foi feito no período em que estudava cinema no Rio e pude trabalhar junto com a talentosa cineasta Adriana Tenório. Acabou nos tornando amigos. Entendi que era importante exibir aqui, uma vez que existe a tradição de mostrar um curta antes do filme principal”, explicou. Presente à sessão, o advogado Geraldo Machado elogiou Felipe pela escolha de “O Corte”: “O filme mostra com clareza o processo de erosão humana causada pelo capitalismo. Aliás, estou cheio dessa onda neoliberal que toma conta do Brasil”, acrescentou.
O cineasta Costa-Gavras é conhecido por filmes políticos como “Desaparecido” (Missing) de 1982, que recebeu indicações ao Oscar, incluindo melhor filme, e levou o de roteiro adaptado, e o recente “Amém” (Amen), que lidava com a omissão da igreja ao Holocausto. Em “O Corte”, ele lida com a questão do capitalismo, ganância corporativa e desemprego, mas utilizando a melhor forma de crítica, a comédia. Mais precisamente o humor negro.
Bruno Davert, um executivo da indústria de papéis, está há dois anos sem conseguir emprego e, ao ver suas economias chegarem ao fim, sente que seu estilo de vida está ameaçado. Isso acaba fazendo com que Bruno enlouqueça e comece a traçar um mirabolante plano para recuperar seu emprego: assassinar o homem que ficou no seu lugar e todos os possíveis concorrentes. Qualquer semelhança com a recente situação da brasileira que mandou matar sua concorrente ao emprego é mera coincidência, mas acaba por trazer a história, por mais absurda que seja, mais próxima de nós. O filme alterna as incursões criminosas de nosso anti-herói com uma outra empreitada igualmente complicada, que é manter sua família na ignorância e unida apesar da crise.