A superprodução “Valerian”, que no Brasil foi acrescido de “E a Cidade dos Mil Planetas”, entra em exibição nesta quinta-feira (10) nos cinemas de Campos. Foi o filme mais caro de toda a indústria francesa, realizado num gigantesco complexos de estúdios, com um arrojado plano de investimento e que foca no inabalável mercado de exibição chinês para pagar suas contas. O título de Luc Besson talvez seja o grande monumento de um nome que tentou, durante toda sua carreira, inserir-se numa lógica do cinema industrial sem estar dentro de Hollywood. “Valerian” seria um filme para demonstrar que esse cinema pode ser feito com qualidade sem estar aliado aos grandes estúdios americanos.
“Valerian” faz questão de mostrar toda essa sua grandeza, essa sua proximidade com os grandes blockbusters do ano. Desde seu idioma em inglês, a participação de grandes astros infanto-juvenis, o grande trabalho em efeitos especiais, a fantasia e principalmente a grandiosidade. Esse desejo pauta todo o longa e faz com que coisas bastante importantes fiquem em segundo plano.
O filme conta a história de uma dupla de oficiais intergalácticos que devem recuperar um artefato de um planeta perdido, todavia os dois acabam percebendo estarem numa conspiração muito maior do que eles poderiam imaginar. O longa então acompanha as aventuras tanto do Major Valerian (Dane DeHaan) quanto da Sargento Laureline (Cara Delavingne), personagens que dividem o protagonismo do longa, ora um tendo participações mais efetivas, ora o outro roubando mais a cena.
“Valerian” é uma adaptação de uma famosa e importante HQ, uma obra que redefiniu os parâmetros da ficção científica. Assim, o pensamento presente no filme é justamente fazer jus a esse material através de seu valor de produção e de sua grandiosidade. Mais do que isso, há uma tentativa em “Valerian” de unir uma forma antiga de pensar o sci-fi com os parâmetros atuais de um blockbuster. O longa remete aos clássicos filmes do gênero nas décadas de 1950/1960, quando a ficção científica não possuía os grandes orçamentos. Viagens intergalácticas, uma série de povos e personagens com biotipos muito diferentes, armas e acessórios cheios de inventividade. Um tipo de sci-fi que até certo ponto tenta fazer do futuro uma verdadeira fantasia.
Isso faz com que “Valerian” pareça um pouco mais incomum do que os tantos outros filmes que chegam visando às bilheterias. O longa começa com duas sequências que parecem sustentar essa hipótese. A primeira, utilizando David Bowie e sua Sapce Oddity para mostrar como o espaço tornou-se um novo espaço de conquista humana, mostrando a hipotética evolução da conquista espacial desde 1970. Embora essa seja interessante e bem embalada, faz uma espécie de prólogo para chamar atenção. Talvez a segunda seja de fato a melhor construída narrativamente, uma longa sequência quase sem diálogos que demonstra como um planeta em perfeita harmonia teve um fim catastrófico e quase dizimou uma espécie inteira. Logo aí, Luc Besson deixa claro todo seu look para o longa, espalhafatoso, colorido, meio camp, meio carnavalesco, buscando com muita verba diferenciar-se das mais recentes ficções científicas.
Essa segunda sequência é vista também pelo protagonista do filme, através de uma comunicação mental, a partir daí, o Major entende que sua missão será maior do que uma simples operação espacial. O longa então finalmente inicia sua narrativa, e se no início, o cineasta tentou conquistar a audiência com duas curtas ideias, como um conjunto da obra, “Valerian” é um filme que se perde, que não consegue encontrar unidade e coesão em sua narrativa.
Isso ocorre por alguns motivos, o principal deles o roteiro escrito pelo próprio Luc Besson, uma narrativa com muita dificuldade de concisão. Uma obra que dificilmente consegue se concentrar no que realmente quer dizer. Luc Besson obriga seus protagonistas a percorrerem inúmeros mundos, encontrarem diversas personagens, criarem mini plots — como o romance entre os protagonistas — entre tantas outras coisas que só afastam “Valerian” de qualquer narrativa fluída.
Nessa obrigação de percorrer todo universo ficcional, por mais que ele possa ser interessante, a jornada daqueles dois torna-se uma confusão, algo que não se define nem como um road movie espacial, muito menos como uma missão intrigante naquele universo diferente.
Além disso, algo que torna essa ambição de compor a narrativa ainda mais fugaz é o trabalho de Luc Besson na direção. Cineasta que faz questão de evidenciar cada avanço técnico de seu filme, como se filmasse mais seus efeitos do que sua história propriamente dita.
Entram em cartaz também, hoje, os filmes “Malasartes e o Duelo com a Morte” e “O Reino Gelado: Fogo e Gelo”. Permanecem em exibição “O Filme de Minha Vida”, “Transformers: O Último Cavaleiro”, “Planeta dos Macacos: A Guerra”, “D.P.A. O Filme” e “Dunkirk”. (A.N.)