Edgar Vianna de Andrade
- Atualizado em 07/08/2017 17:42
(Planeta dos macacos: a guerra) - Quando eu era criança e adolescente em Paranaguá e no Rio de Janeiro (bota tempo nisso), o cinema era uma diversão muito popular. Não tínhamos televisão e não existia fita VHS ou DVD. A censura era mais rigorosa, mas sempre havia um jeito de burlá-la. Havia algo imprescindível ao cinema que se prezasse: o rompimento do filme (a gente chamava de fita) e os apupos da plateia. A gente assobiava, gritava e pedia o dinheiro de volta. Essa interrupção fazia parte do espetáculo. Para silenciar os baderneiros, as luzes do cinema se acendiam. Silêncio. A projeção voltava depois de emendado o filme. Novamente, a fita se rompia e começava tudo de novo.
Esse tempo romântico ficou para trás. Os filmes tornaram-se seguros. Não mais se rompiam. Sobretudo quando se tornaram digitais. Tudo tende a se tornar digital: relógio, TV, cinema etc. As novas gerações não conheceram os tempos heroicos do cinema analógico. Elas não sabem mais o que é falha na imagem, muito embora as TVs digitais, CDs e DVDs não sejam a maravilha que apregoam. Mas acendão em cinema parecia ter desaparecido há uns cinquenta anos.
Por isso, vivi um momento de nostalgia no Kinoplex ao assistir ao mais recente episódio de “Planeta dos Macacos”. O filme não havia ainda chegado à metade quando começou a travar. Dava um passo e parava. As legendas ficavam desfocadas. A plateia não entendia nada. Pobres novas gerações. Não conheceram os encantos das sessões de domingo. Não sabem mais o que fazer quando um filme para. Não gritam “quero meu dinheiro de volta”. A projeção foi interrompida definitivamente depois de duas tentativas. Não foi preciso reclamar. O dinheiro do ingresso foi devolvido ou substituído por um passe com valor de um mês.
Mas fiquei sem ver o filme que devo comentar. Mesmo assim, creio ter alcançado a intenção dos produtores, mais importantes que a do diretor Matt Reeves. Os produtores importam mais que os diretores se o filme é comercial. Os novos filmes da série do “Planeta dos macacos” estão distantes da série anterior em termos de invenção. Particularmente, o filme atual demonstra que se esgotou a ideia de um macaco que ganha inteligência humana por uma experiência de laboratório e leva outros chimpanzés, gorilas e orangotangos a evoluírem. A humanidade foi, em grande parte, dizimada por uma doença transmitida pelos próprios macacos. Agora é guerra definitiva entre humanos e símios. O núcleo gira em torno de César, o chefe dos macacos, e um coronel perverso. Pelo que li, o filme termina com uma brecha para continuação. Como a produção é requintada em termos de efeitos especiais, e, por isso mesmo, cara, deve valer a pena continuações em termos de bilheteria. Creio que, se eu chegasse ao fim do filme, não teria opinião diferente.