Jane Ribeiro
22/07/2017 17:52 - Atualizado em 24/07/2017 13:17
Ter uma vida saudável, andar normalmente, subir uma escada sem se cansar e não ter problemas de saúde. Esse é o sonho de milhões de brasileiros considerados obesos e que precisam com urgência perder peso. Em Campos, aproximadamente 7 mil pessoas possuem indicação para realizar a cirurgia bariátrica, suspensa desde 2015. Isto porque o convênio da Prefeitura com os hospitais credenciados pelo município foi interrompido, por falta de pagamento. Com isso, as pessoas sofrem por não terem uma vida normal e muito preconceito.
Ana Paula dos Santos Ribeiro, de 36 anos e com 130 quilos, está nessa lista de espera há mais de dois anos. Ela conta que em 2015 estava com todos os exames feitos, com cirurgia marcada e que no dia da internação foi comunicada que não mais poderia fazer. “Não somos gordos por opção, somos por algum tipo de distúrbio. E as pessoas não entendem isso. Tive muito perto de ser operada e não fui por problemas que não tinham nada a ver comigo. Isso me deixou ainda mais deprimida. Na época tinha 112 quilos e agora estou com 130, mas tenho muita esperança de ainda conseguir ser operada e voltar a ter os meus 56 quilos”, disse.
A obesidade é um dos maiores problemas de saúde pública no mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde. Recentemente, uma pesquisa nacional revelou que mais da metade da população brasileira está acima do peso, sendo que 57% dos brasileiros maiores de 18 anos estão acima do peso ideal e 21% são obesos. As principais causas desse aumento de peso são o alto consumo de alimentos gordurosos e a falta de atividade física.
Quem teve sorte de fazer a cirurgia diz que a mudança de vida foi enorme. Perder 120 quilos, deixar o sedentarismo de lado, voltar a ter autoestima e até virar um atleta. Propaganda de dieta milagrosa? Não! Essa é a história de muitas pessoas que conseguiram superar a obesidade e mudar a forma de viver. Elas optaram pela cirurgia bariátrica, procedimento que exige determinação e obediência do paciente. Esse foi o caso de Levi Viana, que há três anos pesava 217 quilos e, hoje, ganhou outro estilo de vida. Ele passou pelo protocolo cirúrgico completo, o mesmo para todos os pacientes candidatos à redução de estômago, que envolveu uma assistência prévia com profissionais de diferentes especialidades, entre eles endocrinologista, psicólogo e nutricionista.
— É um acompanhamento que segue para a vida toda. Qualquer bariátrico precisa ter em mente que, com a redução do estômago e a consequente baixa absorção, temos que nos alimentar de forma correta e funcional para não incorrer em falta de vitaminas e minerais”, explica Levi. Ele conta que apesar dos cuidados para toda a vida, a escolha não poderia ter sido mais acertada. “Consegui sentir novamente o prazer dos exercícios físicos e hoje pratico corrida de rua e de bicicleta. A cirurgia em si é uma oportunidade de mudança radical de vida e, por isso, é preciso aproveitá-la ao máximo, fazendo sempre boas escolhas para não ter o indesejado quilo de volta”, avalia.
Interrupção foi debatida em audiência pública
A suspensão das cirurgias foi alvo de debate durante uma audiência pública, realizada no dia 27 de junho, na Câmara de Campos. A audiência reuniu médicos especialistas, representantes do governo municipal, dos hospitais Álvaro Alvim, Geral de Guarus, Beneficência Portuguesa e Ferreira Machado. Todos foram unânimes em afirmar que o retorno das cirurgias bariátricas vai salvar vidas. Os médicos defendem, além do retorno do convênio com o município, o credenciamento com o SUS que nunca teve na cidade.
O cirurgião Rodrigo Rios lembrou que em Campos são cerca de 125 mil obesos, sendo aproximadamente sete mil deles com indicação cirúrgica. “A Prefeitura tinha um convênio com os hospitais Álvaro Alvim e Santa Casa de Misericórdia para cinco cirurgias por mês, em cada um. Mas em outubro de 2015, por falta de repasses, nós precisamos parar. Outra informação é que estamos nos credenciando no governo federal e este processo está parado lá”, informou.
O também cirurgião Vilson Batista explicou que é importante que se faça o credenciamento de outras cidades. “O credenciamento federal contempla ainda todo o acompanhamento, tratando também a obesidade tipo dois, o sobrepeso, além de cobrir as cirurgias reparadoras necessárias após o emagrecimento. O credenciamento deve ser de forma regional, então sugiro uma reunião com os secretários da região para poder acelerar este processo”, pontuou.
Diretor de Núcleo fala sobre credenciamento
Durante a audiência na Câmara, o diretor do Núcleo de Controle e Avaliação da secretaria de Saúde de Campos, Hélio da Cruz, informou como funciona o processo de credenciamento da cirurgia.
— Nós recebemos do Ministério da Saúde os processos de credenciamento para a cirurgia bariátrica do Álvaro Alvim e da Beneficência Portuguesa, com algumas pendências. Inclusive foi sugerida pela área técnica do Ministério uma reunião via vídeo conferência, para debater essas pendências. Sabemos que existe uma demanda e a necessidade das pessoas que passam por isso. Nós da secretaria estamos empenhados junto ao Ministério para fazer este credenciamento. Sobre a contratualização dos hospitais por parte da prefeitura, nós herdamos este processo que termina agora em julho. Então, vamos poder rever todos os processos e refazer as contratualizações — explicou Hélio.
O vereador Abdu Neme também falou em nome da Comissão de Saúde da Câmara: “Em 2012 apresentei uma lei que autorizava a criação de um centro de tratamento da obesidade e síndrome plurimetabólica. De acordo com a lei que foi aprovada, o centro teria uma equipe multidisciplinar, além disso, as escolas teriam a obrigação de realizar palestras e ter merendas saudáveis para poder incentivar o consumo de alimentação saudável na infância. Sabemos que a demanda do governo é grande, mas a Saúde deve ser prioridade e deve ser definida em orçamento”.
Preconceito é uma das barreiras enfrentadas
Assim como a obesidade cresce no país, os preconceitos com pessoas obesas também só se intensificam em vários locais, como na escola, em casa ou no trabalho, impedindo que a pessoa siga a sua vida com tranquilidade. As pessoas acima do peso são vítimas de inúmeros preconceitos – podendo até ser discriminados no local de trabalho e considerados menos capazes para cumprir tarefas do que outros.
Mônica Moraes de Souza, de 45 anos, atualmente possui 102 quilos e se diz vítima de preconceito todo o tempo. Ela também está na lista para fazer a cirurgia, mas não tem expectativa. Mônica disse que, além do preconceito, sofre de vários problemas de saúde.
— Tenho várias enfermidades e preciso com urgência da cirurgia. Meu nome está na lista de espera, mas até quando vamos ter que esperar. Sinto que o meu corpo não vai aguentar por muito tempo. Tenho problemas de coluna, de diabetes. Não consigo arrumar emprego numa loja, por exemplo, porque não faço parte do perfil selecionado. Sou vítima de preconceito o tempo todo — disse ela.