Seca do rio Paraíba causa preocupação
Jane Ribeiro 15/07/2017 15:48 - Atualizado em 17/07/2017 18:55
Rio Paraíba do Sul sofre com estiagem
Rio Paraíba do Sul sofre com estiagem / Antônio Leudo
O inverno é um período seco e, consequentemente, agrava o quadro do rio Paraíba do Sul que sofre com o nível extremamente baixo. Quem passa pelas margens do Paraíba, em Campos, observa que os bancos de areia estão à mostra mais uma vez. Grandes ilhas no meio do leito deixam evidente que a estiagem está apenas começando. Na última medição realizada na última sexta feira, em Campos, o nível do rio marcava 4,78 metros. Especialistas afirmam que o Paraíba do Sul sofre não só com a estiagem, mas com outras ações e poderá atingir a menor marca, desde o início da sua medição, em 1920, em pouco tempo. A Defesa Civil não descarta essa possibilidade, mas afirma que ainda é cedo para ter alguma previsão.
— Medição do rio Paraíba do Sul realizada na sexta registrou a cota de 4,78 metros. A cota normal é 5,80 metros e a de transbordo, 10,40 metros. O índice pluviométrico, registrado com as últimas chuvas foi de 0,2 mm de acordo com a medição realizada na estação da Agência Nacional de Águas (ANA), instalada na sede da Coordenadoria da Defesa Civil. A menor cota do rio Paraíba este ano foi de 4,32, conforme medição realizada no mês de agosto — informou o diretor executivo da Defesa Civil, major Edson Pessanha.
Para o diretor do Comitê do Baixo Paraíba, João Siqueira, o rio tem perdido suas características aos poucos e sofrido não só com a estiagem, mas com ações que fazem com que sua cota não chegue ao nível satisfatório.
— A estiagem é normal para esse período. O que não é normal são as ações que ele vem sofrendo ao longo dos últimos três anos, que prejudica o seu desenvolvimento. Foram muitos os desvios, a transposição na foz, a falta de reservatório do estado de Minas Gerais. Se tivesse reservatório em Minas, de onde recebemos a água, muita coisa poderia ser evitada. Outra luta que ainda não desistimos é de construir barragens para impedir que o mar tome conta de todo o curso do rio. Essa é uma de nossas lutas no Comitê — informou o diretor.
Paraíba com nível baixo
Paraíba com nível baixo / Antônio Leudo
João Siqueira lembra ainda que as discussões para salvar o rio Paraíba não cessaram. Ele informou que em setembro terá uma audiência pública na Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), na tentativa de recuperar o rio. “Vamos discutir temas que podem resultar na adoção de medidas que vão preservar a foz do rio Paraíba. O tema será ‘Convenção em Defesa do Rio Paraíba’. Será no dia 4 de setembro e vamos receber autoridades ligadas ao meio ambiente e alguns deputados”, declarou.
Em nota, o secretário de Desenvolvimento Ambiental, Leonardo Barreto, informou que este ano várias intervenções têm sido feitas nas margens do rio Paraíba do Sul, como recuperação da mata ciliar para evitar erosão, assim como evitar construções irregulares. “Em período de seca, a margem do rio amplia, ficando vulnerável às ocupações irregulares. Também estão sendo feitos estudos em relação às comportas, que dão acesso à Lagoa Feia e ao rio Ururaí, por exemplo, que vão criar mecanismos que vão favorecer tanto o meio ambiente, como pescadores e agricultores”, explicou.
Hidrelétricas são debatidas na Alerj
Os representantes dos comitês do Baixo e Médio Paraíba querem evitar a construção de pequenas centrais hidrelétricas (PCH) no rio Preto, um dos principais afluentes do rio Paraíba do Sul. Documentos com sugestões de políticas públicas para o local foram entregues ao presidente da Comissão de Representação em Favor do Rio Paraíba do Sul, da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), deputado Dr. Julianelli (Rede), durante uma audiência pública realizada no mês passado.
Segundo a vice-presidente do Comitê do Médio Paraíba, Flávia Cristina Pires, é fundamental evitar a construção de centrais hidrelétricas. “Estamos nesta batalha de preservar o rio Preto da construção de pequenas centrais hidrelétricas. Conseguimos mostrar ao Ministério Público que o licenciamento da PCH não está tão adequado assim”, disse Flávia. “A gente vai pedir uma audiência pública com o Ministério Público para discutir melhor essa questão. Queremos mais transparência no licenciamento dos empreendimentos que envolvem o trabalho que a gente faz com o Rio Paraíba do Sul”, completou.
A comissão irá marcar uma reunião na Região Norte Fluminense, ainda sem data, com professores e autoridades públicas para discutir a situação do Rio Paraíba do Sul.
“Nenhum órgão faz nada para recuperar”
“O rio Paraíba do Sul agoniza e a situação tende a piorar”. Essas foram as palavras do ambientalista Aristides Sofiatti ao dar sua opinião sobre a situação atual do Paraíba. Segundo ele, nesta época o nível começa a descer. “Ele enche no verão, de dezembro a março. Agora começa a estiagem. Isso, quando o clima funciona normalmente”, explicou Soffiati ao demonstrar estar preocupado com outras situações que afetam o rio, há anos.
Para o ambientalista, as iniciativas de fazer barragens para reter as águas, a falta de reservatório para abastecer o rio e os problemas naturais, ocasionados pela erosão, têm agravado a situação do rio Paraíba, principalmente neste período de estiagem.
— O Paraíba é um rio que tem erosão, está poluído, está sujeito a acidentes provocados por indústrias químicas, não tem mais tanto peixe quanto antes, os pescadores praticam a pesca predatória. Ele continua morrendo, estou nessa luta a mais de 40 anos e não tem jeito, nenhum órgão faz nada para recuperar ou pelo menos inibir que ele se acabe. Não tenho mais ilusão com relação ao rio Paraíba — desabafou Sofiatti.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS