Um prédio que representa um patrimônio para os moradores de Santo Amaro, na baixada campista, se transformou em perigo. A antiga estação ferroviária ameaça desabar a qualquer momento, destruindo sonhos da comunidade em ver o local abrigando um espaço cultural. Sonhos que foram aos poucos se tornando um pesadelo. Promessas de políticos, o prédio foi arrematado em leilão, mas o comprador nunca apareceu para tomar posse do imóvel. A esperança é que a Prefeitura possa desapropriar o prédio, evitando o desabamento.
Nascido em Santo Amaro, Jorge Bento Neves Pereira não alcançou a estação em funcionamento, mas seu pai, o Juiz de Paz, Adauto Neves contava as histórias da estação por onde chegada ao distrito a água potável, antes da instalação do serviço de distribuição. Um tempo que deixou saudades nos moradores mais antigos que usavam o trem para se deslocar a cidade.
— A estação foi um local por onde passaram muitas histórias. Hoje, já estamos cansados de tantas promessas de políticos. Mas até agora nada foi feito e o prédio está cada vez mais arruinado pelo tempo e a qualquer momento pode desabar. É uma pena que parte da nossa história esteja ameaçada de se perder — afirma Jorge Bento.
A estação Ferroviária representa um importante patrimônio para o distrito. A ferrovia foi importante para o desenvolvimento da região. Pelos trens chegavam os devotos para as missas dominicais na Igreja Santuário do padroeiro da Baixada Campista. Pelos trilhos chegava a água potável consumida pela população. Um tempo que deixou saudades para a funcionária pública aposentada Maria da Conceição Ramos. Recorda do tempo que logo cedo o trem chegava à estação com os visitantes para a igreja local.
— Era uma festa. Todos os domingos a gente já ficava esperando a chegada dos devotos que vinham para a missa das 9h. Era uma alegria para nós que ficávamos na plataforma para receber uma multidão. Logo após a missa ainda ficavam um tempo e voltavam num trem que saia ao meio dia. Foi um tempo inesquecível — conta Maria da Conceição.
Mas a luta pela restauração da antiga estação une os mais idosos saudosistas e os mais jovens que cresceram ouvindo as histórias de um tempo que o trem era o único meio de transporte do distrito para a cidade.
A luta une moradores que ainda alimentam a esperança do prédio ser restaurado para manter a memória histórica e coletiva do distrito que foi palco de muitas lutas. Por Santo Amaro passavam políticos, que se reuniam com o Capitão Manoel Pereira Gonçalves nas festas de Santo Amaro. Um legado que está sendo resgatado pelo médico Sérgio Gonçalves e pela professora Agilda Macabu Ribas.
Distrito teve presença política
— Santo Amaro teve representações na política. Meu pai Ageu Tavares Macabu e o Capitão Manoel Gonçalves foram vereadores. Hoje estamos fazendo um levantamento histórico da memória desses homens que foram pioneiros na luta por uma comunidade que guarda um legado de lutas e da preservação da tradição da festa de Santo Amaro e da cavalhada campista — lembra Agilda Macabu.
Para o pesquisador de cultura Ricardo Gomes a hora é de resgatar as histórias e memórias de uma comunidade que se prepara para ter a sua igreja elevada a Santuário. E a estação foi um importante marco para a memória social dos moradores. Foi um tempo de grandes dificuldades, mas foram muitas as melhorias que foram conquistadas. O serviço de distribuição de água foi conquistado neste tempo. Governadores de estado visitavam a residência de Manoel Gonçalves e nestas visitas eram conquistadas obras e serviços para os moradores.
— Manoel Gonçalves ficou conhecido como capitão por participar da cavalhada de Santo Amaro. Na residência recebia políticos e aproveitava para reivindicar as melhorias. Em 1953, o distrito inaugurava o serviço de distribuição de água potável, uma das melhorias conquistadas pelo Capitão — destaca Ricardo Gomes. (A.N.)