“Mercedes”, espetáculo do Grupo Emú que celebra vida e obra da bailarina e coreógrafa Mercedes Baptista — um dos maiores ícones da cultura negra no Brasil — fará apresentações no Festival X-Tudo Sesi Cultural — Edição Cultura Negra, incluindo Campos, nesta quarta-feira (19).
Bailarina de formação erudita, Mercedes Baptista (1921-2014) foi a primeira mulher negra a compor o corpo de baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Pioneira da dança moderna brasileira e principal responsável pela disseminação das alas coreografadas do carnaval carioca, Mercedes é referência internacional da dança afro-brasileira. Ela nasceu em Campos.
“Mercedes” é o primeiro projeto de construção cênica e pesquisa em Teatro Negro do Grupo Emú. Mais de 3.000 pessoas já assistiram ao espetáculo que estreou em maio de 2016 na Arena do Espaço Sesc, em Copacabana, e já participou de importantes festivais e mostras brasileiras, como a Mostra Benjamin de Oliveira, em Belo Horizonte (MG), e a Mostra Olonadé, da Cia dos Comuns, no Rio de Janeiro.
A montagem assinada pelo Grupo Emú marca a apresentação de um grupo formado por artistas interessados em investigar e aprofundar uma ótica negra no cenário artístico contemporâneo, trazendo aos palcos uma linguagem cênica peculiar à estética negra como resultado da pesquisa dos movimentos coreográficos criados pela bailarina, utilizados como signo corporal-interpretativo. “Mercedes” é fruto de uma linguagem de pesquisa afro fisicalizada e de uma dramaturgia que mescla o real e o ficcional.
A música é utilizada como signo poético de representação da ponte entre a formação clássica e os conhecimentos das danças negras, através da junção de instrumentos eruditos com os tambores de matrizes africanas. O universo da ficção submete um retorno às expressões afro-brasileiras, através da apresentação de uma narrativa em torno da construção da identidade negra na dança brasileira, contada a partir de fatos reais e fictícios da vida da personagem título.
No espetáculo, nomes de diferentes gerações fazem-se presentes dando credibilidade à obra. A personagem protagonista é vivida por Iléa Ferraz, Sol Miranda e Shirlene Paixão. Na liderança artística, Fabiano de Freitas supervisiona duplamente a direção de Thiago Catarino e Juracy de Oliveira e a dramaturgia de Sol Miranda e Cássio Duque, Sérgio Pererê na direção musical, Kadú Monteiro na composição original e Kaio Ventura na composição rítmica original. Paulo César Medeiros no desenho de luz, Priscila Lacerda na preparação vocal. Além de contar com Charles Nelson, Fábio Baptista, Elton Sacramento e Mestre Jagunço na preparação corporal original. As coreografias e Direção de movimento são de Fábio Baptista.
A oficina promove o contato dos alunos com a dança afro-brasileira a partir da técnica formatada por Mercedes Baptista, obtendo bases para a entrada do estilo contemporâneo no processo de criação coreográfico. A dança moderna é o eixo estrutural para capacitação do corpo, ou seja, o trabalho de flexibilidade e força. Ao final, o resultado será uma célula coreográfica com a contribuição de todos os participantes a partir da experiência vivida na oficina.
A proposta é dialogar com técnicas contemporâneas, como laban, pilates e hip-hop, incorporando ao sistema de aula movimentos que façam essa junção de estilos sem comprometer a essência da dança afro. A oficina também evidencia as histórias da formação da dança, a contribuição de seus mestres e todo o cunho folclórico abraçado por Mercedes Baptista.
Professor: Fábio Costa - Coreógrafo, bailarino e diretor da Cia. Clanm de Dança Afro Contemporânea, da Escola Carioca de Dança Negras e do Projeto “PoDE-C Andaraí! ”. Fábio também é membro da Comissão Artística do SPDRJ. (A.N.)