Crítica de cinema: Homem-Aranha
Edgar Vianna de Andrade 10/07/2017 21:13 - Atualizado em 13/07/2017 14:43
Homem-Aranha: de volta ao lar - Muito dinheiro, grande elenco, tecnologia altamente sofisticada. Estes os fatores exigidos por uma superprodução cinematográfica dos Estados Unidos. Entre arte e entretenimento, o poderoso país da América do Norte optou pelo segundo, o que não significa em absoluto que filmes de arte não sejam produzidos lá. Mas o entretenimento vence. Para tanto, não se exige diretor experiente e esteta. Imprescindíveis são um roteiro claro, alta tecnologia e grande equipe.
Em Campos, estão em cartaz duas superproduções cinematográficas: “Mulher-Maravilha” e “Homem-Aranha: de volta ao lar”. O primeiro enfoca uma heroína da DC Comics, integrante da primeira geração de super-heróis. Seu estilo tende para o épico dramático. Já Homem-Aranha, membro da geração de heróis da Marvel, em sua nova versão, enquadra-se numa ação cômica. A direção coube a Jon Watts, que não conta com uma filmografia expressiva. O que conta é o roteiro, que exigiu o concurso de cinco redatores: o próprio diretor, Chris McKenna, Erik Sommers, Jonathan Goldstein e John Francis Daley. E efeitos especiais, muitos efeitos especiais. Eles quase acabam dispensando a direção e qualquer toque de arte.
O Homem-Aranha, nesta versão, é ainda um adolescente. Os roteiristas nos pouparam de mostrar a origem do herói pela terceira vez. Fica pressuposto que ele, representado por Tom Holland, foi picado por uma aranha e ganhou poderes super especiais endógenos. Ou seja, ele não é como o Homem de Ferro, cujos poderes decorrem da poderosa armadura. E a trama não traz nada de novo: um herói aprendiz de um lado lutando contra um vilão veterano de outro. Michael Keaton desempenha cada vez melhor seus personagens, sejam eles dramáticos ou cômicos. Como vilão, ele é um homem simples, que começou pobre e enriqueceu com muito trabalho e com uma vida criminosa. Com essa carreira invejável, típica de um mafioso dos Estados Unidos ou de um empresário brasileiro, ele se transformou no poderoso Abutre. Ele domina o filme.
Em segundo lugar, está Robert Downey Jr. No papel do Homem de Ferro, ele contrasta com Abutre. É um cientista rico, vaidoso e empresário de muito sucesso. O adolescente Aranha faz estágio na empresa do Homem de Ferro. Ele quer mostrar aos adultos seus dotes. Nesse esforço, ele comete muitos erros. Desastrado, ele faz muitos estragos em suas boas ações. Vez por outra, ele precisa ser socorrido pelo Homem de Ferro. O ambiente frequentado pelo Aranha em seu estado normal está repleto de descendentes de polinésios, chineses, indianos e africanos. Pode ser uma advertência à direita do país, que vive numa saudosa procura de suas origens brancas. O amor de Peter Parker (verdadeira identidade do Aranha) é a mestiça Zendaya, no papel de Michelle.
Agora, Homem-Aranha adquire poderes novos, conferidos por seu novo macacão produzido nas empresas do Homem de Ferro. Mas o que confere caráter singular ao filme é a mensagem do Capitão América no final do filme, depois de quase 15 minutos de créditos. Com esta mensagem, o filme adquire o caráter de metalinguagem. O nerd do Capitão América reclama da incompetência do Homem Aranha e anuncia que outros filmes desastrados dele virão. Enfim, fica o não dito pelo dito: a mensagem nos diz que tudo não passa de ficção, que tudo foi inventado.

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