A capital do País foi ontem palco de cenas deploráveis de violência por parte de manifestantes contrários ao governo, com as chamas e depredações por conta do acirramento dos protestos contra as reformas do presidente Michel Temer. A decisão do ministro da Defesa, Raul Jungman, em pedir reforço das Forças Armadas para conter o vandalismo de radicais configuram um cenário preocupante do grave momento que vivemos. Provocadores e baderneiros existem em qualquer manifestação, mas são esses exatamente que desqualificam os legítimos protestos dos movimentos de rua. De qualquer forma, o momento exige serenidade e sensatez no controle dos destinos do País.
Não é a solução
É perfeitamente compreensível e legítimo o sentimento de indignação da sociedade brasileira diante da sucessão de episódios de corrupção que parece não ter fim, envolvendo agentes públicos flagrados de forma promíscua com criminosos do setor privado, incluindo o próprio presidente da República. Ainda assim, os métodos e os caminhos na busca da solução do impasse não passa pela irracionalidade dos que tem apenas como argumento a linguagem da violência, materializada pela quebradeira de prédios públicos como ocorreu com as fachadas de vários ministérios e outros prédios. O momento é particularmente grave.
Veemente repúdio
O Brasil já ofereceu ao mundo raros exemplos de cidadania e maturidade política ao apear do cargo um ex-presidente sem dar um tiro sequer, através da bravura cívica do brasileiro e o ecoar estridente da voz rouca do povo nas ruas. Neste momento, o País precisa não apenas dispensar mas repudiar de forma veemente os provocadores, baderneiros, bandidos, radicais ou milicianos, sejam essas ou quaisquer outras denominações que se queira aplicar a esses grupos de minorias infiltradas nas legítimas manifestações populares.
Medidas drásticas
A convocação pelo governo das tropas federais pode se tornar um precedente perigoso, mas foi a saída encontrada pelo Planalto no cumprir do dever constitucional da manutenção da ordem, que inclui a proteção dos prédios públicos. Então, medidas drásticas como essa em situações excepcionais é preciso, conforme prevê a própria Constituição. A propósito, justo neste momento é que o primado das leis e dos dispositivos da Carta Magna é que devem mais do que nunca prevalecer.
Vácuo de poder
A solução para o impasse passa pelo Congresso e pelas ruas, com a população pressionando os parlamentares para a busca de um pacto nacional, que o presidente Michel Temer, pelas atuais circunstâncias e a forma como chegou ao governo, não tem condições de liderar. Há um vácuo de poder. O país precisa melhorar seus índices na economia, gerar empregos, se reencontrar com a normalidade para voltar a navegar em águas mais calmas. Porém, o momento requer lucidez, serenidade e grandeza dos homens públicos com essas virtudes que ainda restam no Congresso. E a pressão popular no pleno exercício da democracia.
Tensão no Rio
No Rio, a situação também foi de altíssima tensão. Ontem, a Assembleia Legislativa (Alerj) aprovou o aumento da alíquota da contribuição previdenciária dos servidores para 14%. Fora do Palácio Tiradentes, houve confronto entre a PM e manifestantes, que tentaram entrar no prédio pelas ruas laterais e foram reprimidos pelos policiais. Mais um capítulo de uma crise de um Estado igualmente marcado pelo desperdício e corrupção. No meio deste mar de incertezas, há pelo menos um alento: um ex-governador e secretários mais próximos estão presos, as investigações continuam. Mas a cidadania fluminense quer mais: que o produto do enriquecimento subtraído de forma ilícita pelos meliantes de gravata seja devolvido aos cofres públicos.
Silêncio na Câmara
A Prefeitura confirmou, ontem, que a polêmica Ocean Link, empresa apontada na delação da JBS como intermediária de repasse de propina ao Partido da República, o mesmo de Garotinho, encerrou as atividades em Campos no dia 15 de junho de 2015. A Folha mostrou na última quarta-feira que o endereço no Pq. Aurora apresentado pela Ocean na nota fiscal com o nome de Garotinho que seria da propina não existe. A Ocean tem o mesmo sócio da Working, empresa responsável por manutenção de escolas e montagens de palcos nos últimos anos. No entanto, fica uma pulga atrás da orelha sobre o motivo pelo qual ninguém tem questionado o assunto na Câmara.