Guilherme Belido Escreve - País em xeque
Guilherme Belido 21/05/2017 11:46 - Atualizado em 21/05/2017 17:24
Temer e Aécio
Temer e Aécio / Divulgação
Por esses dias de redemoinho, só a incerteza pode ser apontada como certa no Brasil que a cada dia descortina novas frentes de corrupção. Práticas espúrias vindas de uma legião de políticos, agentes públicos e empresários que insistem em transformar este grande País numa república de mochilas.
O turbilhão de revelações é tamanho que qualquer informação pode ficar defasada em questão de horas. O noticiário dorme de um jeito; acorda de outro.
Não há limites e parece não ter fim as estarrecedoras práticas criminosas. Malas de dinheiro são passadas de mão em mão. Milhões e milhões que abastecem a corrupção.
Mesmo com a Lava Jato a pleno vapor, citados e investigados continuam afrontando a Justiça, tramando e recebendo propina.
O presidente Temer, agora investigado por suposto crime de prevaricação e obstrução da Justiça, pode renunciar a qualquer momento, ou tentar se segurar no cargo. Ninguém sabe.
De toda sorte, independente de ter ou não dado aval para a mesada a Cunha, como explicar a conversa íntima, na calada da noite em ‘visita’ não oficial, com quem responde a inquérito? Como explicar, ainda, que o presidente da República, diante da revelação de crimes, como suborno a procurador, diga... ótimo, ótimo!?
Na outra ponta, o lado esdrúxulo dos delatores, os irmãos Batista – que criaram um império obtendo vantagens em troca de propina – agora, ardilosamente, se antecipam e fazem acordo para nem mesmo usar tornozeleira. Pagando multa, terão autorização até para morar no exterior.
Poucos dias após completar um ano à frente do Planalto, o governo Temer sofreu seu mais duro golpe, na figura do próprio presidente. A conversa gravada pelo delator Joesley Batista, nos porões do Palácio Jaburu, deixou a sociedade perplexa, paralisou o Congresso e pôs uma interrogação sobre os rumos da economia.
Do efeito colateral, pouco importa se o presidente fica ou cai, se acabou para Aécio ou se piorou para Cunha. Pouco importa, também, se nos anexos das novas revelações, Lula e Dilma, bem como ex-ministro Guido Mantega, cavaram ainda mais o fundo do poço em que já se encontravam. E menos ainda se os irmãos delatores, donos da JBS, vão continuar livres da cadeia, morar em apartamento de luxo na 5ª Avenida e seguir dirigindo o negócio milionário construído com o dinheiro fácil do BNDES.
O que interessa é saber como vai ficar a economia num cenário tomado pelo imprevisível. Porque dela, da economia, dependem os milhões de brasileiros que nos últimos anos viram despencar suas vidas com a grave crise gerada pela corrupção e pela incompetência dos governantes.
Os mesmos milhões que acreditaram, depois de privações e sacrifícios, que as coisas iriam melhorar e que o setor econômico dava sinais de recuperação.
O Brasil, aqui comparado ao velho encouraçado – o velho lobo de grandes batalhas, como diria o radialista Geraldo José Almeida – depois de lutas e tormentas, avistou, finalmente, um longínquo farol de porto. Enfraquecido, mas não abatido, em sua direção tomou rumo.
Mas... e agora? Ao invés da merecida calmaria, terá pela frente canhões e temporais? O País aguenta mais um impeachment, com tudo de novo? Mais um ano e tanto perdido? Ou a renúncia (ou a permanência) seria o caminho para evitar traumas fatais?
Política aponta mísseis contra a economia
Por mais de um ano – de meados de 2015 a agosto de 2016 – o Brasil assistiu, em meio a uma interminável briga política entre o PT governo e os que apoiavam o impeachment, o aprofundamento da crise econômica a níveis nunca vistos em sua história.
O País continental, como se fosse uma embarcação gigante, ficou totalmente à deriva, a bel prazer das águas turbulentas do mar revolto, num quadro avassalador de tempestade perfeita. Sofrendo danos os mais devastadores e com o casco seriamente avariado, esteve muito perto do naufrágio.
Arrefecida a turbulência, o cruzador buscou forças do fundo de suas entranhas e, mesmo com frágeis remos de madeira no lugar das potentes hélices, veio navegando, devagarinho, em busca de um porto seguro.
De muito longe avistou luzes – nada mais que pontinhos na imensidão do mar. Mas, de toda sorte, uma esperança. No interminável horizonte de água, buscou uma rota e naquela direção apontou a proa do velho navio, sempre na luta contra ventos imprevisíveis, que ora o tiravam, ora o recolocavam no curso desejado.
Enfim, se o porto não estava tão próximo, o conforto de saber que de mais longe viera, enchia-lhe de esperança. Mas quê? Três anos de recessão não bastaram? O ambiente político vai, de novo, apontar seus mísseis contra a economia? Mesmo debaixo da artilharia pesada com que a Justiça combate a corrupção, a corrupção continua afrontando a Justiça?
Resta, portanto, aguardar para ver se a economia vai superar seus próprios conceitos – onde só o conhecido é seguro – e seguir apostando que, apesar dos novos reveses, o Brasil não vai afundar.
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