"Vidas Secas" no Cineclube Goitacá
Jhonattan Reis 23/05/2017 18:43 - Atualizado em 26/05/2017 14:51
Vidas Secas” (1963), dirigido por Nelson Pereira dos Santos, será o filme exibido nesta quarta-feira (24) à noite no Cineclube Goitacá. O longa-metragem, uma adaptação do livro homônimo de Graciliano Ramos, será apresentado pelo escritor e estudante de Direito, Fabio Bottrel. A sessão começa às 19h, na sala 507 do edifício Medical Center, localizado à esquina da rua Conselheiro Otaviano com a Treze de Maio, no Centro de Campos. A entrada é gratuita.
Em “Vidas Secas”, uma família miserável tenta escapar da seca no sertão nordestino. Fabiano (Átila Iório), Sinhá Vitória (Maria Ribeiro), seus dois filhos e a cachorra Baleia vagam sem destino e já quase sem esperanças pelos confins do interior, sobrevivendo às forças da natureza e à crueldade dos homens.
Bottrel explicou que escolheu “Vidas Secas” por se tratar de um filme brasileiro e que se tornou um dos mais conhecidos do movimento cinema novo.
— O longa foi lançado na época que o cinema era influenciado pelo movimento, década de 60, apesar de Glauber Rocha já ter prolatado tal expressão na década de 50, em um congresso em São Paulo, a fim de discutir os novos rumos da cena cinematográfica brasileira após a falência da Vera Cruz (companhia cinematográfica) — disse, continuando:
— O ponto principal e mais importante refletido no filme, e que merece ser analisado, é que a estética marginal do cinema novo não é apenas uma marca estilística, mas a busca por uma identidade brasileira. Os novos cineastas não queriam ser o primo pobre de Hollywood, como se fazia desde então, imitando os gringos. A câmera nervosa e o turbilhão de ruídos estéticos marcam a ruptura do pensamento de cópia para a criação, da imitação para a originalidade.
Fábio contou que Nelson Pereira dos Santos — também autor de “A Luz do Tom” (2012), exibido no Cineclube no início do mês passado — é um de seus diretores favoritos.
— Em “Vidas Secas”, ele intercala, logo no início, planos gerais, para mostrar toda a miséria e o ambiente hostil no qual os personagens estão inseridos, e planos próximos, para indicar nos rostos dos personagens a tristeza da seca e de gente que ainda não se sabe gente.
Sobre o roteiro, o apresentador da noite relatou:
— Em cinema, palco da imagem em movimento, diz-se que um roteiro de qualidade há de ter mais imagens que diálogos, mesmo havendo “12 Homens e uma Sentença”, dirigido por Sidney Lumet e escrito por Reginald Rose para contestar tal explanação. Em “Vidas Secas”, isso é levado ao pé da letra. O roteiro é extremamente minimalista, com diálogos curtos como: “a casa é forte”, “o pasto é bom”. Cumprem muito o seu papel, que é o de anunciar e deixar na mente do espectador todo o sentimento que exala do corpo e circunstâncias vividas pelo personagem. Ele não explica nada, faz sentir.
Fabio Bottrel contou que “Vidas Secas” tem um “lugar especial” em sua história.
— Sou muito ligado às duas áreas, tanto literária quanto cinematográfica. Apesar de não ter concluído, cursei Letras (literatura/português) no IFF, em Campos, Cinema na Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro, e Roteiro Cssinematográfico na Escola de Cinema Darcy Ribeiro, também no Rio. E este filme une em uma só obra tantas genialidades que não poderia deixar de ter um lugar especial na minha história. Isso não só pela união da literatura com o cinema, mas pela expressão da nossa cultura. É um dos meus filmes preferidos — concluiu.

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