Crítica de cinema: Alien: Covenant
Edgar Vianna de Andrade 15/05/2017 18:14 - Atualizado em 16/05/2017 12:13
Creio que duas linhas principais norteiam o quase octogenário Ridley Scott na direção de “Alien: Covenant”: a expansão de um mundo ocidentalizado para além dos limites do planeta Terra e os limites para as ambições humanas. Ambas as orientações estavam presentes na viagem de circunavegação de Fernão de Magalhães (1519-1522). A viagem agora se localiza no ano de 2104, em direção ao planeta Origae-6. Ela é empreendida com uma enorme e sofisticada nave espacial transportando colonos e tripulantes. Talvez Scott não tenha consciência plena das questões que levanta no seu mais recente filme.
Como as caravelas, a nave espacial enfuna velas que colherão uma tempestade de neutrinos causadora de um erro no sistema da nave. Nunca se deve subestimar o erro. Primeira observação minha, pois foi ele que provocou um acidente mortal para navegantes. O reparo dos danos permite que um dos mecânicos receba uma mensagem que muda o destino da expedição. Mudando a rota para pousar num planeta desconhecido, mas habitável para a vida como a conhecemos na Terra, o capitão Oram (Billy Crudup) fascina-se com ele como substituto ao planeta de destino. Oram é religioso. Para ele, o planeta desconhecido pode ser uma nova Canaã. Outro aspecto, então, a ser observado, é a dicotomia entre fé e razão entre os tripulantes.
Covenant, a nave espacial, muda a trajetória, como se uma gaivota atraísse Vasco da Gama para uma ilha habitada por sereias. Bem cedo, a tripulação descobre que o planeta estranho continha evidências da passagem do ser humano por ali. Havia trigo cultivado, árvores com as copas ceifadas, mas nenhum humano, nem mesmo animal. Logo se descobre a presença da criatura que tanto assustou os telespectadores em 1979, com “Alien, o oitavo passageiro”, o primeiro filme da sequência, que projetou Scott como um grande diretor.
Tanto em “Covenant” quanto em “O oitavo passageiro”, a distopia de Scott se concentra no perigo que representa a inteligência natural humana criar inteligências artificiais, representadas nos filmes por androides do bem e do mal. No tempo das caravelas, esse tipo de inteligência ainda se expressava na forma de toscos instrumentos de navegação. Em 2104, o perigo é representado por androides fabricados por humanos que fogem ao controle deles e passam a ter vontade própria. Trata-se de uma discussão frequente nos dias de hoje.
Mateusinho
Mateusinho / Divulgação
Michael Fassbender, de fato, é o grande nome do elenco. Ele faz o papel de Walter, o bom robô, e de David, o mau robô. No planeta desconhecido, David revela como a missão “Prometheus”, título de filme anterior de Scott, malogrou e como ele, David, manteve-se íntegro no meio de seres monstruosos que foram engendrados pela liberação de um terrível e mortal vírus. A visão de Scott é pessimista. Nada termina bem. Não há um herói do bem. O mal triunfa com desejo de potência expresso pela música suntuosa de Wagner. Neonazismo? A conferir, pois o filme deixa o final em aberto, talvez para continuação.
Seja como for, tanto “Prometheus” quanto “Covenant” se passam antes de “O oitavo passageiro”, filme que atingiu alta voltagem de suspense pelo mistério que cerca “Alien” e pela luta entre ele e a subtenente Ripley. Também pela forma de reprodução da criatura monstruosa, parasitando o ser humano, e por seu comportamento altamente frenético. Em “Covenant”, a criatura foi banalizada. Perdeu o seu charme gosmento e nervoso. Ela aparece em demasia. Talvez, com o tempo, até possa ser domesticada e se transforme em animal de estimação.

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