O diretor e ator campista Filipe Codeço estreia seu primeiro longa-metragem nesta quinta-feira (18). “Estamos Vivos”, filmado inteiramente em plano-sequência (sem cortes), será exibido pela primeira vez na Estação Net Botafogo e no Cine Santa Teresa, no Rio de Janeiro. O diretor explicou que o filme revela o olhar de uma criança autista de oito anos e sua forma de interagir com o mundo, registrando com uma câmera o que passa à sua volta.
— A câmera é operada por um personagem oculto, que não aparece fisicamente no filme. Neste longa, o percurso na câmera não é muito convencional. Há momentos, por exemplo, que o foco da ação está completamente fora de enquadramento, pois é o que aquele menino, o personagem Rafa, está registrando com sua câmera.
Na trama, que se desenrola em um único cenário, Miguel (Maksin Oliveira), depois de oito anos fora de casa, reencontra seus irmãos por conta da morte do pai. Ele está acompanhado de sua esposa Cris (Letícia Cannavale) e de seu filho Rafa, a criança autista de oito anos. O encontro de Miguel com seus irmãos trará à tona traumas antigos e conflitos familiares.
O espectador vê o filme pelos registros de Rafa, sendo que o roteirista, Álvaro Chaer, ressalta que a criança é capaz de registrar detalhes que passam despercebidos pelos adultos.
No elenco estão Álvaro Chaer, Isabel Chavarri, Jefferson Almeida, Letícia Cannavale, Maksin Oliveira e Patrícia Niedermeier, com participação especial de Silvano Monteiro.
De acordo com Filipe Codeço, o filme, com baixo orçamento, foi feito com recursos arrecadados em campanha colaborativa, parcerias, apoios e investimentos próprios.
O diretor também explicou que sua formação teatral foi fundamental para viabilizar o plano-sequência, que foi possível também devido à preparação dos atores e o improviso. A câmera ficou ligada pelos 84 minutos do filme.
— Uma vez ligada, a câmera não parou mais até o final. Ensaiamos tudo durante um mês. Mesmo com todo ensaio, precisamos, como no teatro, improvisar em casos de imprevistos. E essa foi uma grande diferença. No cinema, você pode errar e repetir várias vezes. Neste filme, é como se a gente estivesse realmente num teatro — disse ele, que lembrou que realizou os três primeiros trabalhos com teatro em Campos, onde morou até os 18 anos.
— Fiz um trabalho com Artur Gomes e dois com Fernando Rossi. Vim, então, para o Rio decidido a trabalhar com arte. Depois de um ano morando na capital, ingressei na licenciatura em Artes, na Unirio (Universidade Federal do Estado do Rio). Também com 19 anos, fiz minha primeira peça no Rio, que foi “Monodiálogos Anacoretos”.
A primeira direção de Filipe no cinema foi do videoclipe “A Volta do Trem das Onze”, de Tom Zé, em 2005, para participar de um festival. “No ano seguinte, dirigi um curta, ‘Eu Mademoiselle Me Despeço’, e, de lá para cá, vieram muitos outros trabalhos e experimentei bastante. Apesar de eu ter alguns projetos, ‘Estamos Vivos’ partiu do convite de Álvaro Chaer. Ficamos um ano conversando e começamos os trabalhos no começo de 2015”, falou.
Filipe Codeço se descreve como um artista transdisciplinar, já que exerce a arte em múltiplas vertentes. “Nas artes cênicas, trabalhei como ator em diversos espetáculos. Das minhas direções, ressalto o espetáculo ‘PóS_TudO’, escrito em parceria com Letícia Cannavale”.
Entre outros marcos na carreira, fez curso de montagem e edição na Escola de Cinema Darcy Ribeiro, estagiou com a montadora Jordana Berg, na Videofilmes, sendo que também foi um dos integrantes do projeto Cérbero, coletivo experimental que realizou 18 curtas resultantes de invasões ficcionais nas ruas da capital carioca.
O diretor e ator tem, ainda, outros projetos para este ano. “Dois dele são com teatro, sendo eles ‘Pássaro’, que estreia em outubro, e ‘Sutil’, um solo de teatro-dança ainda sem data de estreia. Também tenho muita vontade de realizar projetos em São João da Barra e Campos”, finalizou.