Jhonattan Reis
13/05/2017 18:14 - Atualizado em 15/05/2017 13:29
As palavras nu e urbe se unem para formar uma nova: Nurbe, nome do projeto do fotógrafo Kelvin Klein que consiste em fotografias que promovem a união do nu artístico com o cenário urbano, explorando linhas e curvas. O nome, porém, surgiu quase um ano depois da ideia, que veio em 2014. O primeiro ensaio foi postado nas redes sociais em 18 de janeiro de 2016. De lá para cá, público dividido: alguns elogiam e apreciam a arte; outros criticam, como explicou Kelvin, que tem 30 anos e trabalha com fotografia profissionalmente há cerca de cinco, além de mais cinco de forma amadora. Ele falou sobre o surgimento do Nurbe.
— Quando tive a ideia de fazer nu artístico, em 2014, comecei a estudar sobre o assunto. O primeiro ensaio veio de um convite de uma amiga de Rio das Ostras, e foi feito na mesma cidade, no final de 2015, sendo fotos dele a da primeira postagem nas redes sociais. A partir daí, muitas pessoas gostaram e entraram em contato comigo para participar — disse.
O projeto, que atualmente tem fotografias de quase 40 modelos, ficou conhecido quando fotos viralizaram. Duas delas foram de ensaios feitos no Boulevard Francisco de Paula Carneiro, na última Semana Santa, e na avenida Arthur Bernardes, no ano passado. Vários outros lugares também foram cenário para os ensaios, dentre eles o coreto da praça do Liceu, ponte Barcelos Martins, jardim do Teatro Trianon, escadarias da Câmara Municipal e praça Santíssimo Salvador. Kelvin Klein explicou sobre como as fotografias são feitas e como escolhe os locais.
— É tudo bem rápido. A gente faz as fotos com roupa, deixa tudo certinho em questão de composição e luz, depois a modelo tira a roupa, quando não tem ninguém passando, e a gente fotografa. Fazemos geralmente pela madrugada, mas já fizemos dois ensaios de dia. Procuro escolher lugares que possibilitam uma interação com os modelos, uma repetição de formas com o corpo humano, sempre trabalhando com a relação de linhas e curvas — comentou Klein, que falou que para participar do projeto é necessário apenas ter mais de 18 anos.
A modelo Júlia Benjamin, 24 anos, foi uma das primeiras a participar do Nurbe. O ensaio dela foi feito no coreto da praça do Liceu. Júlia contou que encarou reações boas e ruins por conta das fotos.
— As ruins partiram principalmente da minha família e do meu namorado à época. Foi chocante. Não aceitaram bem. Muitos tiveram um olhar muito sexual em relação às fotos, não enxergando nada de arte. Meu pai não comentou. A pior reação foi a do meu namorado à época, e o ensaio, inclusive, foi um dos motivos de termos terminado. Por outro lado, recebi muitos elogios, tanto pelo ensaio feito com o Kelvin quanto pela coragem em realizar o trabalho.
Júlia falou que houve pessoas que mudaram a visão sobre o projeto com o passar do tempo.
— Algumas que olhavam de forma sexual passaram a enxergar arte nas fotos depois de entenderem o real sentido do projeto do Kelvin. Por que pessoas não podem tirar fotos nuas na cidade, enquanto a gente passa na frente de qualquer banca e há revistas estampando mulheres nuas o tempo todo? O Nurbe estimula essas perguntas, e não deveria causar tanto impacto negativo, pois o corpo é uma das coisas mais puras, já que todos viemos nus ao mundo.
Kelvin falou que as críticas acontecem em relação a ensaios com modelos mulheres e que não houve críticas a modelos homens. O guarda-parques Samir Mansur, 30 anos, um dos homens a participar do Nurbe, disse que recebeu apenas uma crítica negativa.
— E foi da minha mãe, que disse que sou maluco (risos). Inclusive, postei a foto como perfil do Facebook e ela chegou a mais de 200 curtidas, com vários comentários de pessoas elogiando. Acho que as mulheres realmente acabam sofrendo preconceito em relação a esses trabalhos — comentou ele, que teve ensaios no teatro Trianon e na ponte Barcelos Martins.
Porém, os maiores números de curtidas nas fotos, segundo Klein, são de ensaios com mulheres, que são maioria entre os modelos. O criador do projeto não teve críticas por parte da família.
— Só bastante críticas na internet, de pessoas que depreciavam as fotos por não conhecer esse tipo de fotografia. As pessoas viam como se fosse algo de outro mundo e houve denúncias nas redes sociais. O Facebook retirou a página do ar este ano, mas já voltamos. No Instagram, tive duas fotos denunciadas no ano passado — disse.
Até o momento, os ensaios do Nurbe, que podem ser conferidos no site oficial, já foram realizados em Campos, Itaperuna e Rio das Ostras. “O objetivo é começar a explorar mais regiões. Mas tenho dificuldade financeira para fazer isso, principalmente para locomoção, pois nosso trabalho é independente”, relatou.