Crítica de cinema: Moonlight
Edgar Vianna de Andrade 20/03/2017 17:18 - Atualizado em 23/03/2017 17:17
Crítica de cinema
Uma boa obra de arte não carece de revelar a variedade fenotípica (chamada de raça antigamente) do seu autor. Já houve intelectual racista declarado sustentando que só o branco puro (isso existe?) cria obras de valor estético. Mas houve também, entre nós, quem defendesse que os mulatos (expressão politicamente incorreta) são criativos por natureza. Exemplos: Aleijadinho, José Maurício, Domingos Caldas Barbosa, Mestre Valentim, Machado de Assis e muitos outros.
O negro mestiço no Brasil não era mais escravo nem era branco livre. Sua situação indefinida o empurrou para as artes. A explicação é social, não racial. No cinema idem. Se é pequeno o número de cineastas negros em todos os países, a situação se deve a questões culturais, não raciais. Spike Lee é um bom exemplo de cineasta. Barry Jenkins é outro. Ele dirigiu “Moonlight”, escolhido como o melhor filme no Oscar de 2017. O roteiro se baseia numa obra do escritor Tarell Alvin McCraney, também negro.
Todo o elenco é negro. Chiron, o personagem central, é mostrado na infância, na adolescência e na fase adulta por Alex R. Hibbert, Ashton Sanders e Trevante Rhodes sucessivamente. Mahershala Ali é coadjuvante e mereceu o Oscar nessa categoria. Janelle Monáe, além desse filme, teve ótimo desempenho em “Estrelas além do tempo”, também selecionado para o Oscar de 2017. Além de atriz bela, Janelle é também cantora. Mas quem atravessa o filme de ponta a ponta é a talentosa e experiente Naomie Harris, no papel de mãe de Chiron. Para fazer justiça, mencione-se também Andre Holland.
Notei que os brancos não aparecem no filme. Pareceu-me uma ausência intencional do diretor e roteirista. Atores negros, bairros negros, escolas negras. O branco está presente sem aparecer. Os negros parecem viver numa situação de apartheid disfarçado.
“Moonlight” tem uma fotografia nervosa e invasiva. O branco James Laxton é um corpo estranho no conjunto do filme. A câmara registra os personagens bem de perto, como a mostrar sua intimidade. Mas sugere situações, como a masturbação de um homem em outro, já que Chiron é homossexual. O filme todo enfoca a descoberta do homossexualismo. Mostra também que negro não é herói nem bandido. É comum o tráfico e o consumo de drogas entre eles, tanto como o bullyng de negro contra negro e agressão física praticada por negro em negro.
Embora a Academia tenha procurado demonstrar que não tem ranços racistas no país governado por Trump, ainda penso que “La,la, land” foi o melhor filme, já que dirigido pelo melhor diretor.
Esperemos agora que os descendentes de índios mereçam uma indicação ao Oscar em 2018. Se não merecerem é porque nada produziram.

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