“Mas as coisas findas / muito mais que lindas / essas ficarão”. Eram os últimos versos do poema “Memória”, de Carlos Drummond de Andrade (1902/87), pintados na parede de uma varanda que o mar levou em Atafona, mas não da memória de quem viu.
O homem ainda jovem pensava naqueles versos impressos junto à foz do Paraíba do Sul, quando subiu o rio e a serra, num feriado de semana santa, até um morro nos arredores de Cambuci, onde conheceu Edil, negro esguio, elegante e gentilíssimo. Sem nunca antes tê-lo visto, ele o recebeu com uma delicadeza que não faria feio a nenhuma rainha da Inglaterra.
De fato, o visitante ocasional nunca vira tanto acolhimento e asseio como naquela cabana humilde de pau a pique. Em seu interior, panelas, frigideiras e bule areados à exaustão brilhavam à espera de qualquer convidado para uma caneca de café quente e um dedo de prosa.
No desabrir generoso dos solitários, Edil falou das coisas da vida e do mundo, prenhe de doçura e sabedoria. Morreu alguns anos depois, ao cumprir sua própria Paixão. E, findo, ficou na memória e nos versos de quem salvou naquele momento singelo de fé restituída no homem.