O Cineclube Goitacá exibirá, na noite desta quarta-feira (19), o documentário “Precisamos falar do assédio” (2016). Dirigido pela jornalista Paula Sacchetta, o filme reúne depoimentos de mulheres que vivenciar situações de abuso. O longa-metragem, que tem 90 minutos de duração, será apresentado pelo produtor cultural Antônio Luiz Baldan. A sessão acontecerá às 19h, na sala 507 do edifício Medical Center, no Centro. A entrada é gratuita.
Resultado de um experimento social, “Precisamos falar do assédio” nasceu durante a Semana da Mulher, promovida entre os dias 7 e 14 de março. Na ocasião, uma van-estúdio visitou nove pontos em São Paulo e no Rio de Janeiro, passando pelo centro, zonas nobres e periféricas das duas cidades e coletando depoimentos de vítimas de assédio.
Dentro do veículo, elas contaram suas experiências sem intermediação de entrevistador ou interlocutor. As que optaram pela não identificação usaram uma das quatro máscaras disponíveis que representavam os motivos pelos quais não queriam aparecer: medo, vergonha, raiva ou tristeza. Ao todo, participaram do documentário 140 mulheres, com idades entre 15 e 84 anos.
— As histórias vão desde cantadas feitas por desconhecidos no transporte público ou na rua até estupros cometidos por parentes e dentro da própria casa, quando elas eram crianças. O resultado é mais de 12 horas de material — contou Baldan.
Para o produtor cultural, o que mais atrai a atenção do espectador é a maneira como as mulheres se portam ao contar, pela primeira vez, os seus casos. Em sua opinião, são depoimentos puros que retratam momentos íntimos, sem a necessidade de mediação.
Diretora de “Precisamos falar do assédio”, a documentarista e jornalista Paula Sacchetta atuou em diversos veículos de comunicação, como TV Brasil e Rede Globo. Ela ganhou o Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, na categoria revista, com reportagem especial sobre a Comissão Nacional da Verdade, para a qual trabalhou, como consultora, em 2013.
No mesmo ano, dirigiu o documentário “Verdade 12.528”, sobre a Comissão. No ano seguinte, lançou a reportagem e o vídeo “Quanto mais presos, maior o lucro”, que retratam a chegada das penitenciárias privadas no Brasil. Produziu, também, o curta-metragem “Pessoa coisa, cidade torre”, que fala sobre a “coisificação” do ser humano nas grandes cidades. A produção foi exibida na Mostra Cenário Socioambiental da Feira de Responsabilidade Social Empresarial – Bacia de Campos, em Macaé.
A escolha para a exibição de “Precisamos falar do assédio” foi feita devido à necessidade, segundo Baldan, de discutir o assunto:
— Não importando a classe social e nem o nível de escolaridade das vítimas e de quem comete o crime, vemos, a cada ano, o número de denúncias de assédio aumentando de forma assustadora. Aqui, em Campos, tenho visto inúmeros casos entre universitários e, inclusive, dentro das instituições de ensino. O assédio se dá das maneiras mais variadas: desde o “fiu-fiu” ou cantadas que você pode receber caminhando pelas ruas até um constrangimento moral dentro de algum lugar, como espaço de trabalho, por exemplo — afirmou.
Pela Lei 10224/2001, o assédio foi definido como “constranger alguém com intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente de sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função”. “Para além do que está tipificado na lei, nenhuma mulher é obrigada a escutar o que não quer ou a ter medo de caminhar sozinha, seja onde for”, complementou Baldan.