
Dizem que entre dez pessoas, uma tem uma arma. Meu trabalho é vender armas para essas outras nove.” “O Senhor das Armas” (2005), de Andrew Niccol, estará em cartaz na sessão desta quarta-feira (23) do Cineclube Goitacá. Inspirado em um caso real, o longa-metragem será apresentado pela produtora cultural Luciana Portinho. A exibição será às 19h30, na sala 507 do edifício Medical Center, no Centro de Campos. A entrada é gratuita.
O protagonista Yuri Orlov, interpretado por Nicolas Cage, é um traficante de armas que mantém negócios em diversos locais do planeta. Por frequentar perigosas áreas de guerra, ele tenta permanecer sempre distante do agente da Interpol Jack, personagem de Ethan Hawke. O comportamento se aplica, também, a concorrentes e clientes, entre os quais estão alguns dos mais famosos ditadores. Como pano de fundo, “O Senhor das Armas” explora a dinâmica do comércio de guerra.
— É um filme franco-americano de guerra policial, de suspense. O drama é um daqueles socos de revirar o estômago. Cage desempenha um traficante de armas ilegais, baseado na história real de Viktor Bout, um dos maiores contrabandistas de armas de fogo do mundo. O filme foi oficialmente aprovado pela Anistia Internacional para chamar a atenção do tráfico de armas por parte da potente indústria internacional de armas — explicou a produtora cultural.
Inspiração para o longa-metragem, Viktor Bout, cuja fortuna foi avaliada em US$ 6 bilhões, foi condenado, em 2012, a 25 anos de prisão por conspiração para venda de armamentos às guerrilhas antiamericanas na Colômbia. A sentença foi proferida em Nova York. Ele foi detido quatro anos antes, na Tailândia. Na época, Bout se reuniu com agentes da Agência Antidrogas dos Estados Unidos, que fingiram ser representantes de um grupo terrorista colombiano.
A juíza Shira Scheindlin definiu a pena de 25 anos por considerar que era suficiente, já que não havia provas de que o acusado buscava ferir cidadãos norte-americanos antes da aproximação dos supostos colombianos. A fortuna de Bout e a frota de 60 aviões de transporte e empresas do homem deram origem ao roteiro de Niccol.
De acordo com informações da Associated Press, divulgadas em 2012, as aeronaves iam do Afeganistão para Angola, com todos os tipos de mercadoria, incluindo minerais, equipamentos de perfuração e peixe congelado. Mas as autoridades afirmaram que a especialidade da rede “era o comércio de armas no mercado negro, como rifles de assalto, munição, mísseis antiaéreos, metralhadoras para helicópteros e uma série de sistemas sofisticados de armas, quase sempre proveniente da Rússia e de países do Leste Europeu”.
Para Luciana, “O Senhor das Armas” é um filme crítico, atual e elucidativo, que prende o espectador do início ao fim da narrativa. Ela destacou, também, como brilhantes as atuações de Nicolas Cage e Jared Leto, que vive o papel do irmão do protagonista, e o trabalho do diretor.
— Andrew Niccol é mais conhecido pelo seu trabalho como roteirista em filmes como “O Show de Truman” e “O Terminal”, mas “O Senhor das Armas” não é o primeiro que ele dirige.
Um dos melhores filmes da carreira dele, que põe a nu alguns dos interesses bestiais ocultos nas guerras e conflitos armados. Andrew Niccol teria se baseado em cinco terroristas de armas verídicos para criar o personagem Yuri Orlov — esclareceu.
A escolha para exibir o longa-metragem foi feita devido à qualidade do roteiro e à necessidade de “mostrar a realidade como ela é: fria e nojenta”, explicou Luciana.
— Apesar de não ser um tema inédito, nos obriga pensar. Aliás, assistimos, como a uma novela de terror, ao mais novo capítulo real que, nesta terça-feira (22), decepou dezenas de vidas (e feriu duas centenas) em plena manhã no centro de Bruxelas, Bélgica. Quem abastece (e lucra) o Estado Islâmico com armas e munições? Isso não é cinema — criticou a apresentadora, que debaterá sobre a relação entre ficção e realidade.